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Eu estava lá
"Foi um trampolim para minha carreira"
Jairzinho
Ricardo Moraes/Agência O Dia
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Jairzinho, que aos 18 anos disputou o torneio de futebol do Pan de São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL
Jairzinho não se lembra
da Vila Pan-Americana,
do burburinho do refeitório, das brincadeiras
entre atletas de diferentes modalidades. Na verdade,
nem chegou perto disso.
Estrela da seleção de futebol
campeã dos Jogos de São Paulo, em 1963, tem bem mais clara na memória a lembrança do
regime de provação que passou
durante a competição. Situação
bem mais próxima da que já
encarava no Exército.
"Não desfrutamos da competição como todo mundo. Ficamos concentrados no Morumbi. E, naquela época, era só
campo, vestiário, dormitório...
Não tinha a parte social, o bairro tinha poucas casas. Nosso
treinador quis criar um clima
de concentração, como o dos
profissionais", relembra.
"Nossa rotina era treinar, ver
TV e ler revista. Nem dava para
pensar em sair à noite."
Os treinos também não ofereciam grandes atrações. À
época, o técnico acumulava várias funções, como a de preparador físico. Corridas de longa
distância eram a principal atividade dos atletas.
"Não tinha fisiologista, nutricionista, essa coisa toda de
hoje. O treinador fazia tudo. E
nos preocupávamos mais com
a parte tática", diz o meia.
Mesmo confinado, Jairzinho
conseguiu se destacar. A seleção fazia jogos-treino contra o
primeiro time do São Paulo.
Durante toda a preparação para o Pan, ficou invicta.
Após o evento, o meia recebeu propostas para jogar em
São Paulo e Corinthians. Mas
preferiu continuar no Rio.
A competição serviu de
trampolim para ele alcançar o
elenco titular do Botafogo. E,
mais tarde, ao lado de Carlos
Alberto Torres, entrar para a
seleção principal e conquistar o
título da Copa de 1970.
O salto, no entanto, quase
não foi completado por causa
da rigidez do Exército.
Quando recebeu a convocação para a seleção, Jairzinho
pediu autorização ao seu capitão no Leblon, que imediatamente encaminhou a decisão
para uma instância superior.
O caso andou de mão em
mão até chegar no comando do
Exército no Rio de Janeiro.
"Marcaram uma reunião
com o coronel. Eu fui lá e disse
que iria servir o país pela seleção. Ele me respondeu que eu
era soldado, tinha de ficar em
posição de sentido, bater continência e ir embora", relembra.
Chorando, Jairzinho voltou
ao quartel decidido a desertar.
"Eu era filho único, nem deveria estar no Exército. Fiquei
muito chateado, triste mesmo.
Queria largar tudo", conta.
O ímpeto do garoto de 18
anos foi contido pelo capitão,
aquele primeiro que recebeu o
pedido de liberação.
"Ele disse que me deixaria
jogar no Pan desde que eu ganhasse o ouro", afirma o meia.
Em campo, Jairzinho levou a
missão a sério. A seleção empatou com a Argentina no jogo final, impediu o tetra dos arqui-rivais e conquistou a primeira
medalha dourada do futebol
brasileiro em Pans.
"A primeira coisa que eu fiz
depois do Pan foi entregar a
medalha para o capitão, mas
ele não aceitou", relembra o
craque, que ficou conhecido
como "Furacão de 70".
O soldado que quase desertou recebeu, logo depois, uma
homenagem por ter representado o Exército naqueles Jogos.
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