São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Eu estava lá

"Foi um trampolim para minha carreira"
Jairzinho

Ricardo Moraes/Agência O Dia
Jairzinho, que aos 18 anos disputou o torneio de futebol do Pan de São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

Jairzinho não se lembra da Vila Pan-Americana, do burburinho do refeitório, das brincadeiras entre atletas de diferentes modalidades. Na verdade, nem chegou perto disso.
Estrela da seleção de futebol campeã dos Jogos de São Paulo, em 1963, tem bem mais clara na memória a lembrança do regime de provação que passou durante a competição. Situação bem mais próxima da que já encarava no Exército.
"Não desfrutamos da competição como todo mundo. Ficamos concentrados no Morumbi. E, naquela época, era só campo, vestiário, dormitório... Não tinha a parte social, o bairro tinha poucas casas. Nosso treinador quis criar um clima de concentração, como o dos profissionais", relembra.
"Nossa rotina era treinar, ver TV e ler revista. Nem dava para pensar em sair à noite."
Os treinos também não ofereciam grandes atrações. À época, o técnico acumulava várias funções, como a de preparador físico. Corridas de longa distância eram a principal atividade dos atletas.
"Não tinha fisiologista, nutricionista, essa coisa toda de hoje. O treinador fazia tudo. E nos preocupávamos mais com a parte tática", diz o meia.
Mesmo confinado, Jairzinho conseguiu se destacar. A seleção fazia jogos-treino contra o primeiro time do São Paulo. Durante toda a preparação para o Pan, ficou invicta.
Após o evento, o meia recebeu propostas para jogar em São Paulo e Corinthians. Mas preferiu continuar no Rio.
A competição serviu de trampolim para ele alcançar o elenco titular do Botafogo. E, mais tarde, ao lado de Carlos Alberto Torres, entrar para a seleção principal e conquistar o título da Copa de 1970.
O salto, no entanto, quase não foi completado por causa da rigidez do Exército.
Quando recebeu a convocação para a seleção, Jairzinho pediu autorização ao seu capitão no Leblon, que imediatamente encaminhou a decisão para uma instância superior.
O caso andou de mão em mão até chegar no comando do Exército no Rio de Janeiro.
"Marcaram uma reunião com o coronel. Eu fui lá e disse que iria servir o país pela seleção. Ele me respondeu que eu era soldado, tinha de ficar em posição de sentido, bater continência e ir embora", relembra.
Chorando, Jairzinho voltou ao quartel decidido a desertar.
"Eu era filho único, nem deveria estar no Exército. Fiquei muito chateado, triste mesmo. Queria largar tudo", conta.
O ímpeto do garoto de 18 anos foi contido pelo capitão, aquele primeiro que recebeu o pedido de liberação.
"Ele disse que me deixaria jogar no Pan desde que eu ganhasse o ouro", afirma o meia.
Em campo, Jairzinho levou a missão a sério. A seleção empatou com a Argentina no jogo final, impediu o tetra dos arqui-rivais e conquistou a primeira medalha dourada do futebol brasileiro em Pans.
"A primeira coisa que eu fiz depois do Pan foi entregar a medalha para o capitão, mas ele não aceitou", relembra o craque, que ficou conhecido como "Furacão de 70".
O soldado que quase desertou recebeu, logo depois, uma homenagem por ter representado o Exército naqueles Jogos.


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