São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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Mãe vai à Justiça para obter vaga em creche

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os dias, às 5h15, quando a faxineira Mirailde Oliveira Cruz, 29, sai para trabalhar, ouve a mesma pergunta do filho, Cássio, 4: "Mãe, você está indo procurar vaga para mim na escolinha?"
Cássio, assim como 10.300 crianças da Capela do Socorro, periferia da zona sul de São Paulo, é um "sem-creche". O dado é da Prefeitura de São Paulo.
A diferença entre Cássio e a maioria dos "sem-creche" é que ele já esteve matriculado numa das creches privadas, mantidas pela prefeitura (chamadas de conveniadas), e, ao completar quatro anos, perdeu o direito à vaga por causa de um decreto municipal.
De acordo com o decreto, assinado pelo então prefeito Celso Pitta (1997-2000), crianças de quatro anos teriam de ser transferidas das creches para pré-escolas da prefeitura, as Emeis.
O problema é que a transferência ficou comprometida porque as Emeis -que atendem crianças de quatro a seis anos- estão superlotadas. Resultado: matriculados viraram "sem-vaga."
Mirailde e outras 1.080 famílias entraram com ação no Ministério Público para obrigar a prefeitura do Estado mais rico do país a garantir vaga para seus filhos.
No orçamento doméstico, diz Mirailde, "não cabem" mais dívidas. Dos R$ 300 que ela leva para casa mensalmente, R$ 100 vão para a parente que cuida de Cássio durante as oito horas em que a faxineira limpa um condomínio residencial no Ipiranga, bairro de classe média da zona sul.
Quando Cássio estava matriculado, a parente recebia R$ 50 para levá-lo e pegá-lo na creche. Sem vaga, é impossível, diz Mirailde, pagar escola privada e babá. O marido está desempregado.
Mirailde acorda Cássio às 5h, leva o filho à casa da prima e meia hora depois já está dentro do primeiro dos dois ônibus que a conduzirão ao trabalho. Só volta às 20h depois de pegar o filho na casa da parente.
A rotina é pesada, mas ela diz que o difícil é se "conformar" com o fato de que, sem vaga, Cássio vai esquecer, como ela diz, "até como se escreve o próprio nome".



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