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Mãe vai à Justiça para obter vaga em creche
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os dias, às 5h15, quando a
faxineira Mirailde Oliveira Cruz,
29, sai para trabalhar, ouve a mesma pergunta do filho, Cássio, 4:
"Mãe, você está indo procurar vaga para mim na escolinha?"
Cássio, assim como 10.300
crianças da Capela do Socorro,
periferia da zona sul de São Paulo,
é um "sem-creche". O dado é da
Prefeitura de São Paulo.
A diferença entre Cássio e a
maioria dos "sem-creche" é que
ele já esteve matriculado numa
das creches privadas, mantidas
pela prefeitura (chamadas de conveniadas), e, ao completar quatro
anos, perdeu o direito à vaga por
causa de um decreto municipal.
De acordo com o decreto, assinado pelo então prefeito Celso
Pitta (1997-2000), crianças de
quatro anos teriam de ser transferidas das creches para pré-escolas
da prefeitura, as Emeis.
O problema é que a transferência ficou comprometida porque
as Emeis -que atendem crianças
de quatro a seis anos- estão superlotadas. Resultado: matriculados viraram "sem-vaga."
Mirailde e outras 1.080 famílias
entraram com ação no Ministério
Público para obrigar a prefeitura
do Estado mais rico do país a garantir vaga para seus filhos.
No orçamento doméstico, diz
Mirailde, "não cabem" mais dívidas. Dos R$ 300 que ela leva para
casa mensalmente, R$ 100 vão para a parente que cuida de Cássio
durante as oito horas em que a faxineira limpa um condomínio residencial no Ipiranga, bairro de
classe média da zona sul.
Quando Cássio estava matriculado, a parente recebia R$ 50 para
levá-lo e pegá-lo na creche. Sem
vaga, é impossível, diz Mirailde,
pagar escola privada e babá. O
marido está desempregado.
Mirailde acorda Cássio às 5h, leva o filho à casa da prima e meia
hora depois já está dentro do primeiro dos dois ônibus que a conduzirão ao trabalho. Só volta às
20h depois de pegar o filho na casa da parente.
A rotina é pesada, mas ela diz
que o difícil é se "conformar" com
o fato de que, sem vaga, Cássio vai
esquecer, como ela diz, "até como
se escreve o próprio nome".
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