São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Iraê Cardoso AAPPE (ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS E PAIS DE PESSOAS ESPECIAIS) www.aappe.org.br Múltipla eficiência Após a morte do irmão surdo, retirante volta ao Nordeste para lutar pelas pessoas com deficiência MARIANA BERGEL ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ "Quando recordo a minha infância, me vejo sempre correndo atrás [de algo]. Minha mãe me ensinou a mobilizar recursos desde cedo." Em poucas palavras e com muitos gestos de mão, Iraê Cardoso une passado e presente em uma análise que faz transparecerem suas qualidades fundamentais: determinação, garra, independência, ativismo, energia. Nascida em Juazeiro da Bahia, à beira do rio São Francisco, foi primogênita de dez filhos e cresceu sem o pai, que rejeitou a família. "Sou protagonista dos problemas sociais do Brasil." Para escapar das agressões físicas do companheiro, a mãe fugiu para o Rio de Janeir. A tiracolo levava o inseparável irmão Antonio Gladston, o Guega, que era surdo. A menina esperta tinha fome de conhecimento. Conseguiu bolsas em bons colégios, sempre em troca de trabalho e de dedicação aos estudos. O primeiro emprego foi aos 17 anos, em informática. Graças a ele, tirou a família de um cortiço no subúrbio e alugou um apartamento. DE VOLTA AO NORDESTE A calmaria durou pouco e Iraê teve de se reinventar novamente com a morte de Guega, atropelado aos 15 anos. "Transformei a morte de uma pessoa em uma alegria. Cada vez que viabilizo o desenvolvimento de um surdo, sinto meu irmão, que tanto sofreu pela falta de comunicação, vivo", emociona-se. Essa alegria é traduzida pela Aappe (Associação dos Amigos e Pais de Pessoas Especiais), que nasceu em seu retorno ao Nordeste para defender interesses das pessoas com deficiência auditiva. "Ninguém sabia da existência de surdos por aqui." Conseguiu, entre outros resultados, aprovar um projeto de lei que legitimou a Libras (Língua Brasileira de Sinais) no Estado antes mesmo do reconhecimento nacional. Seu credenciamento como prestadora de serviços para o SUS (Sistema Único de Saúde) foi um divisor de águas que permitiu o crescimento da instituição. Em contrapartida, elevou o nível de qualidade dos atendimentos. Agora, revela que será a primeira a enfocar a bandeira das múltiplas deficiências. E não para de sonhar: quer viabilizar o Ires (Instituto de Qualificação e Referência em Surdez), com vistas à qualificação profissional. "O instituto é um presente que eu quero deixar para os surdos e para o meu irmão." Para a batalhadora Iraê, um presente nada impossível -apenas outro desafio atrás do qual já está correndo. INOVAÇÃO Criou método eficiente e independente de gestão de recursos do SUS (Sistema Único de Saúde), sendo pioneira ao tratar de múltiplas deficiências IMPACTO SOCIAL Beneficia 7.300 pessoas por ano em Maceió, Penedo e Santana do Ipanema (AL) ORÇAMENTO 2011 R$ 6 milhões (8 parceiros) POLÍTICAS PÚBLICAS Influenciou a criação da lei que reconhece a Libras no Estado e trabalha com políticas de saúde auditiva em oito municípios QUEM É Apaixonada por São Paulo, Iraê Cardoso, 57, é analista de sistemas, nasceu na Bahia, morou no Rio e vive na capital alagoana; tem três filhos Texto Anterior: Dagmar Garroux: No fim do arco-íris Próximo Texto: José Dias: Sertão coletivo Índice | Comunicar Erros

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