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NO OLHO DO FURACÃO
Em Ribeirão Pires, sede de fábrica de munições, pastor defende o "não"
Emprego motiva voto na terra da CBC
DA REPORTAGEM LOCAL
Na terra da CBC (Companhia
Brasileira de Cartuchos), o garoto-propaganda do "não", que
aparece em outdoors espalhados pela cidade, é o próprio prefeito, filiado ao Partido Verde.
Em Ribeirão Pires (Grande SP),
até mesmo pastor evangélico é
contra o fim da comercialização
de armas de fogo e munição.
A possível contradição é explicada mais pelo fator econômico
do que por temas que ocupam o
debate nacional sobre o referendo. A pequena Ribeirão Pires,
com 115.195 habitantes, tem na
CBC a sua principal fonte de arrecadação em ICMS. São R$ 2,5
milhões por ano, 14,25% da arrecadação total com esse imposto, segundo a prefeitura. A
maior parte dos 1.200 empregados da CBC também está na fábrica de Ribeirão Pires.
"Não há contradição. Eu não
governo o PV, eu governo a cidade de Ribeirão Pires", disse o
prefeito Clovis Volpi, filiado ao
Partido Verde, que tem um revólver em casa. Segundo a assessoria do prefeito, a CBC bancou dez outdoors espalhados
pela cidade com a foto de Volpi,
que consentiu com a campanha.
De acordo com o prefeito, o
"sim" significará 50 empregos a
menos e queda anual de R$ 500
mil na arrecadação de ICMS.
"Em uma cidade com orçamento de R$ 73 milhões, R$ 500 mil
fazem muita falta."
O pastor evangélico José Olavo dos Santos Filho, 34, também
não vê contradição em seu voto
pelo "não". "Precisamos pensar
nos empregos. E o fim da comercialização vai trazer uma
paz aparente. Os bandidos vão
continuar armados", afirmou
Santos, em frente a um outdoor
pela campanha do "não".
Próximo dali, a comerciante
Ivete Plaza Tofic, 40, também é
contrária à proibição do comércio de armas e munição. "Temos clientes que trabalham na
CBC. Temos medo de que o desemprego prejudique a economia da cidade", disse ela, que
critica a participação do prefeito. "Ele deveria ser imparcial."
Funcionários da CBC também
fazem campanha na cidade.
Com cartazes pelo "não", participam de vários debates sobre o
referendo. "Estamos preocupados com nossos empregos. Mas
também estamos brigando para
que as pessoas entendam que
ter arma é um direito", diz Clodoaldo Pacheco Coutinho, 28,
que obteve vaga na CBC depois
de dois anos desempregado.
A 200 metros da fábrica, o gerente de uma cooperativa de
consumo, na qual muitos funcionários fazem compras, tem
uma justificativa econômica,
mas para votar pelo "sim". "O
impacto na economia [com o
"sim'] não vai ser sentido. Em
vez de armas, as pessoas vão
gastar em coisas melhores. Um
DVD, por exemplo", disse.
(GILMAR PENTEADO)
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