São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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NO OLHO DO FURACÃO

Em Ribeirão Pires, sede de fábrica de munições, pastor defende o "não"

Emprego motiva voto na terra da CBC

DA REPORTAGEM LOCAL

Na terra da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), o garoto-propaganda do "não", que aparece em outdoors espalhados pela cidade, é o próprio prefeito, filiado ao Partido Verde. Em Ribeirão Pires (Grande SP), até mesmo pastor evangélico é contra o fim da comercialização de armas de fogo e munição.
A possível contradição é explicada mais pelo fator econômico do que por temas que ocupam o debate nacional sobre o referendo. A pequena Ribeirão Pires, com 115.195 habitantes, tem na CBC a sua principal fonte de arrecadação em ICMS. São R$ 2,5 milhões por ano, 14,25% da arrecadação total com esse imposto, segundo a prefeitura. A maior parte dos 1.200 empregados da CBC também está na fábrica de Ribeirão Pires.
"Não há contradição. Eu não governo o PV, eu governo a cidade de Ribeirão Pires", disse o prefeito Clovis Volpi, filiado ao Partido Verde, que tem um revólver em casa. Segundo a assessoria do prefeito, a CBC bancou dez outdoors espalhados pela cidade com a foto de Volpi, que consentiu com a campanha.
De acordo com o prefeito, o "sim" significará 50 empregos a menos e queda anual de R$ 500 mil na arrecadação de ICMS. "Em uma cidade com orçamento de R$ 73 milhões, R$ 500 mil fazem muita falta."
O pastor evangélico José Olavo dos Santos Filho, 34, também não vê contradição em seu voto pelo "não". "Precisamos pensar nos empregos. E o fim da comercialização vai trazer uma paz aparente. Os bandidos vão continuar armados", afirmou Santos, em frente a um outdoor pela campanha do "não".
Próximo dali, a comerciante Ivete Plaza Tofic, 40, também é contrária à proibição do comércio de armas e munição. "Temos clientes que trabalham na CBC. Temos medo de que o desemprego prejudique a economia da cidade", disse ela, que critica a participação do prefeito. "Ele deveria ser imparcial."
Funcionários da CBC também fazem campanha na cidade. Com cartazes pelo "não", participam de vários debates sobre o referendo. "Estamos preocupados com nossos empregos. Mas também estamos brigando para que as pessoas entendam que ter arma é um direito", diz Clodoaldo Pacheco Coutinho, 28, que obteve vaga na CBC depois de dois anos desempregado.
A 200 metros da fábrica, o gerente de uma cooperativa de consumo, na qual muitos funcionários fazem compras, tem uma justificativa econômica, mas para votar pelo "sim". "O impacto na economia [com o "sim'] não vai ser sentido. Em vez de armas, as pessoas vão gastar em coisas melhores. Um DVD, por exemplo", disse.
(GILMAR PENTEADO)


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