São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

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PAN - Rio 2007

Eu estava lá

"Aprendi a respeitar os adversários" João Havelange

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de amadores, todos vindo de clubes de São Paulo e do Rio, integrou a seleção de pólo aquático do Brasil na primeira edição do Pan-Americano, em Buenos Aires-1951.
Entre os veteranos daquela turma estava João Havelange, futuro presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que cuidava de 23 modalidades, e por 24 anos mandatário da Fifa, entidade que dirige o futebol mundial.
O dirigente elogia a organização do 1º Pan-Americano, mas afirma ser impossível fazer um paralelo com a dimensão que os Jogos teriam no futuro.
"Não se pode comparar o Pan da Argentina, há mais de 40 anos, com o do Rio de Janeiro. As condições àquela ocasião eram bem mais simples do que as que assistimos nos últimos dez anos", rememora Havelange, que dará seu nome ao principal estádio do Pan carioca.
"Esse Pan de Buenos Aires, à sua época, foi bem organizado e com instalações de valor", acrescenta, referindo-se ao evento que teve a participação de 21 países das Américas, que competiram em 20 esportes.
Um personagem em particular aproveitou o Pan para atrair a atenção e testar sua popularidade. "Considero o lado mais marcante daquela competição a presença, quase constante, do presidente Perón [que governou a Argentina de 1945 a 1955 e de 1973 a 1974]", conta ele.
O Brasil da época desconhecia o uso de tecnologia no esporte e, diante da quase ausência de adeptos, os atletas tinham trajetória incomum. Foi o caso de Havelange, que começou na natação, na qual disputou os 400 m e 1.500 m na Olimpíada de Berlim, em 1936.
Paralelamente a essa carreira, praticava pólo aquático desde 1935. Na nova modalidade, ganhou a prata no Pan de 1951 e foi à Olimpíada em Helsinque, 16 anos depois de sua estréia.
Mas os treinos da equipe nacional eram para lá de amadores, com ninguém se dedicando exclusivamente ao esporte.
"Os jogadores da seleção eram do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os constantes treinos não eram fáceis, uma vez que, além da distância, todos tinham obrigações a cumprir, devido aos empregos ou às outras funções que exerciam."
No torneio do Pan, houve a participação de cinco países: Argentina, Brasil, EUA, México e Chile. Os dois primeiros times eram os mais fortes e decidiram o título, com vitória argentina, que terminou a disputa invicta, com quatro vitórias.
Os brasileiros fizeram campanha com três vitórias e só caíram diante dos anfitriões.
"O jogo final foi, sem sombra de dúvida, difícil, pela rivalidade existente. Também por serem as duas equipes mais bem preparadas. Indiscutivelmente foi um torneio que deixou saudade", recorda-se o ex-jogador.
Para Havelange, sua única participação em Pans trouxe lições que seriam seguidas por ele na carreira de dirigente.
"Aprendi a respeitar os adversários, compreender o valor das instalações e a organização de Jogos dessa natureza. Enfim, aprendi a respeitar o que nos ofereciam", afirma ele.
"E, com base nisso, ao chegar à Fifa, como presidente, tentei oferecer uma nova administração ao desenvolvimento total do esporte", acrescentou.


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