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ANÁLISE
Ranking baseado no Enem: informações e limitações
EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE
ESPECIAL PARA A FOLHA
A divulgação do ranking
das escolas baseado no
Enem tem uma forte repercussão, não só na mídia.
Pais pedem explicações
aos diretores das escolas com
fraco desempenho. Escolas
bem ranqueadas alardeiam
os seus resultados. Não é raro
pais decidirem a escola infantil (!) dos filhos em função
do ranking do ensino médio.
Mas o que ele nos informa sobre a qualidade das escolas?
É possível que a contribuição de um colégio para o
aprendizado dos alunos seja
maior numa escola com pior
posição no ranking.
Isto porque vários fatores,
fora do controle das escolas,
afetam o desempenho dos
alunos como o seu "background" familiar e a sua habilidade inata.
O grande mérito das escolas líderes é a sua capacidade
de selecionar e reter os alunos com maiores habilidades
cognitivas, que são as testadas no Enem e nos vestibulares. Seus alunos se beneficiam com a reputação da escola, com o "network" dos
ex-alunos e o aprendizado
que se adquire ao conviver
com colegas competentes.
No entanto, é possível que
estas notas maiores sejam
obtidas como fruto do uso de
duas estratégias. Por um lado, evitar que os seus piores
alunos realizem a prova, de
forma a aumentar a média da
escola. Como? Expulsando
ou induzindo os piores alunos a abandonar a escola.
Também pode refletir um
foco excessivo no que é pedido no exame, em detrimento
de outras como a capacidade
de trabalhar em grupo e de se
expressar, também requisitadas no mercado de trabalho.
Por fim, cabe ressaltar que
a confiabilidade do ranking
se deteriora drasticamente
caso uma parcela significativa dos alunos não realize o
exame, não obrigatório.
Isto ocorre porque os alunos que prestaram o exame
podem não ser representativos do corpo discente da escola. Em suma, a mensagem
para os pais/estudantes é
clara. Não foquem primordialmente a escolha da escola no resultado do Enem. É só
uma das inúmeras informações que devem ser utilizadas neste processo.
EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE, PhD
em economia pela Universidade de Chicago
e professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo)
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