São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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ANÁLISE

Ranking baseado no Enem: informações e limitações

EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A divulgação do ranking das escolas baseado no Enem tem uma forte repercussão, não só na mídia. Pais pedem explicações aos diretores das escolas com fraco desempenho. Escolas bem ranqueadas alardeiam os seus resultados. Não é raro pais decidirem a escola infantil (!) dos filhos em função do ranking do ensino médio.
Mas o que ele nos informa sobre a qualidade das escolas? É possível que a contribuição de um colégio para o aprendizado dos alunos seja maior numa escola com pior posição no ranking.
Isto porque vários fatores, fora do controle das escolas, afetam o desempenho dos alunos como o seu "background" familiar e a sua habilidade inata.
O grande mérito das escolas líderes é a sua capacidade de selecionar e reter os alunos com maiores habilidades cognitivas, que são as testadas no Enem e nos vestibulares. Seus alunos se beneficiam com a reputação da escola, com o "network" dos ex-alunos e o aprendizado que se adquire ao conviver com colegas competentes.
No entanto, é possível que estas notas maiores sejam obtidas como fruto do uso de duas estratégias. Por um lado, evitar que os seus piores alunos realizem a prova, de forma a aumentar a média da escola. Como? Expulsando ou induzindo os piores alunos a abandonar a escola.
Também pode refletir um foco excessivo no que é pedido no exame, em detrimento de outras como a capacidade de trabalhar em grupo e de se expressar, também requisitadas no mercado de trabalho.
Por fim, cabe ressaltar que a confiabilidade do ranking se deteriora drasticamente caso uma parcela significativa dos alunos não realize o exame, não obrigatório.
Isto ocorre porque os alunos que prestaram o exame podem não ser representativos do corpo discente da escola. Em suma, a mensagem para os pais/estudantes é clara. Não foquem primordialmente a escolha da escola no resultado do Enem. É só uma das inúmeras informações que devem ser utilizadas neste processo.

EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE, PhD em economia pela Universidade de Chicago e professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo)


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