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Brasileiros bebem mais e melhores vinhos
Índices de importação, venda e produção apontam para o
crescimento do consumo de vinho no país; o aumento do
interesse tem levado à expansão de cursos que ensinam a apreciar o
produto e à formação de grupos de amantes da bebida
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HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Redação
SUZANA BARELLI
da Reportagem Local
Brasileiro, tradicional bebedor de cerveja e cachaça, pode estar se
tornando um habitual consumidor de vinho.
Nos primeiros cinco meses de 1997, o volume de vinhos importados (6,3
milhões de litros) alcançou o resultado de todo o ano de 1992.
Apesar de ter apresentado um pequeno declínio de 1995 para 1996, o país
comprou, no ano passado, 3,7 vezes mais vinhos do que em 92, quando o
governo informatizou o setor de controle do comércio exterior.
Os produtores nacionais, que sofreram com a abertura das importações
(iniciada em 1990), esperam, neste ano, voltar aos níveis de 1993,
quando foram comercializados 251 milhões de litros.
Esses dados macroeconômicos refletem uma realidade exposta nas
prateleiras de importadoras e supermercados. E que também aparece no
dia-a-dia, com o surgimento de cursos sobre o tema e de ‘‘confrarias do
vinho’’, em que novos apreciadores se reúnem regularmente para
degustações.
Segundo o instituto Nielsen, o vinho foi a bebida que apresentou maior
crescimento nas vendas em supermercados em 96, 62,6% mais do que em 94.
As grandes redes agora não apenas vendem, mas viraram importadoras
diretas do produto.
Se, pelo excesso de luz e inadequação da maioria das prateleiras,
supermercados não são o lugar ideal para o vinho, são pelo menos o mais
prático, do ponto de vista do consumidor.
Segundo relatório da Vinexpo, feira que reúne nesta semana em Bordeaux,
na França, 2.227 expositores de todo o mundo, 70% dos vinhos e
destilados são vendidos, no Brasil, em supermercados.
De um modo geral, o mercado explica assim o contato do brasileiro com o
vinho:
1) a abertura das importações permitiu o contato com vinhos doces
brancos de qualidade e preços baixos, produzidos principalmente na
Alemanha (em especial, o Liebfraumilch de garrafa azul);
2) após esse contato, o brasileiro passou a experimentar outros vinhos
brancos, meio-secos e secos, mais sofisticados;
3) atualmente, o consumidor está descobrindo os vinhos tintos, categoria
em que, de um modo geral, encontram-se os melhores produtos.
Nas importadoras tradicionais, podem-se encontrar exemplos do
crescimento do mercado.
A Mistral, que conta hoje com 680 marcas de vinho em seu catálogo, cujos
preços variam de R$ 7 a R$ 150, deixou a r. Amaral Gurgel (centro de São
Paulo), onde estava havia mais de 20 anos, para ocupar uma área com
quase o dobro do espaço, na r. Rocha, na Bela Vista.
A importadora Expand, criada em 1978, abriu, em 1991, sua primeira loja
no varejo, o Empório Santa Maria, e passou a vender também produtos
finos, como queijos e caviar. Em 1995, inaugurou o Domaine Sainte-Marie,
no shopping D&D (que passou a abrigar, neste ano, a École du Vin), uma
loja especializada em vinhos. No dia 13 de maio passado, mais um ponto,
na r. Bahia (Higienópolis), a Expand Wine Store. Em 1997, a Expand
atingiu cerca de 1.500 tipos de vinho no seu catálogo. Em 1995, eram 800
(em 1992, 200).
A teoria de que o consumo está se aprimorando encontra respaldo na
realidade. Na Expand, por exemplo, os tintos representavam, em 1992, 30%
das vendas; em 1997, devem atingir 70%. O brasileiro passou não só a
tomar, mas a apreciar vinho _pelo melhor caminho, o da experiência.
(A recente portaria nº 30/97 do Ministério da Agricultura, com normas
rigorosas para a importação de vinho, pode dificultar a chegada ao
Brasil dos vinhos mais caros _acima de R$ 50, segundo a Expand_, mas seu
efeito, apesar de preocupar importadores, ainda não pôde ser sentido
pelos consumidores brasileiros.)
O consumo mais sofisticado é, aliás, uma tendência mundial. Um sinal
disso, segundo o relatório da Vinexpo, é que o volume de vinho
comercializado mundialmente deve cair 6,4% até o fim de 1999, enquanto
os US$ 83,1 bilhões movimentados pelo setor em 1995 devem crescer 12,2%
até lá.
A Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura) aponta um
redirecionamento dos produtores nacionais, que estão trocando o vinho
comum pelo fino. A consequência é o aumento da procura pelos cursos que
ensinam a apreciar um vinho e a combiná-lo com um cardápio.
A ABS (Associação Brasileira de Sommeliers), por exemplo, abriu uma nova
turma semestral, com 60 alunos, do seu curso de iniciação ao vinho. As
oito aulas de duas horas e meia custam R$ 250.
A SBAV (Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho) também estuda abrir
uma nova turma de iniciantes no próximo semestre.
No último curso básico, a entidade teve de dispensar alunos, mesmo após
ter ampliado a turma de 40 para 70 vagas.
Os novos amantes do vinho também passam a se reunir com amigos para
conversar sobre a bebida e constituem, mesmo que informalmente,
‘‘confrarias do vinho’’.
Algumas ganham fama, como a do restaurante Santo Colomba ou a liderada
pelo empresário Gilberto Bomeny. Outras confrarias, muitas desconhecidas
e sem sede própria, costumam se reunir regularmente em restaurantes.
Cursos básicos e avançados da ABS e SBAV, em São Paulo, têm início
previsto para agosto; os cursos e as degustações do Domaine acontecem
uma vez por mês. Informações: Associação Brasileira de Sommeliers (av.
Faria Lima, 1.451, conjunto 142, tel. 011/814-7853); Sociedade
Brasileira dos Amigos do Vinho (al. Gabriel Monteiro da Silva, 2.586,
tel. 011/814-7905); Domaine Sainte-Marie (shopping D&D, tel.
011/3043-9877).
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