São Paulo, sexta, 20 de junho de 1997.



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Brasileiros bebem mais e melhores vinhos

Índices de importação, venda e produção apontam para o crescimento do consumo de vinho no país; o aumento do interesse tem levado à expansão de cursos que ensinam a apreciar o produto e à formação de grupos de amantes da bebida


HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Redação
SUZANA BARELLI
da Reportagem Local

Brasileiro, tradicional bebedor de cerveja e cachaça, pode estar se tornando um habitual consumidor de vinho.
Nos primeiros cinco meses de 1997, o volume de vinhos importados (6,3 milhões de litros) alcançou o resultado de todo o ano de 1992.
Apesar de ter apresentado um pequeno declínio de 1995 para 1996, o país comprou, no ano passado, 3,7 vezes mais vinhos do que em 92, quando o governo informatizou o setor de controle do comércio exterior.
Os produtores nacionais, que sofreram com a abertura das importações (iniciada em 1990), esperam, neste ano, voltar aos níveis de 1993, quando foram comercializados 251 milhões de litros.
Esses dados macroeconômicos refletem uma realidade exposta nas prateleiras de importadoras e supermercados. E que também aparece no dia-a-dia, com o surgimento de cursos sobre o tema e de ‘‘confrarias do vinho’’, em que novos apreciadores se reúnem regularmente para degustações.
Segundo o instituto Nielsen, o vinho foi a bebida que apresentou maior crescimento nas vendas em supermercados em 96, 62,6% mais do que em 94. As grandes redes agora não apenas vendem, mas viraram importadoras diretas do produto.
Se, pelo excesso de luz e inadequação da maioria das prateleiras, supermercados não são o lugar ideal para o vinho, são pelo menos o mais prático, do ponto de vista do consumidor.
Segundo relatório da Vinexpo, feira que reúne nesta semana em Bordeaux, na França, 2.227 expositores de todo o mundo, 70% dos vinhos e destilados são vendidos, no Brasil, em supermercados. De um modo geral, o mercado explica assim o contato do brasileiro com o vinho:
1) a abertura das importações permitiu o contato com vinhos doces brancos de qualidade e preços baixos, produzidos principalmente na Alemanha (em especial, o Liebfraumilch de garrafa azul);
2) após esse contato, o brasileiro passou a experimentar outros vinhos brancos, meio-secos e secos, mais sofisticados;
3) atualmente, o consumidor está descobrindo os vinhos tintos, categoria em que, de um modo geral, encontram-se os melhores produtos.
Nas importadoras tradicionais, podem-se encontrar exemplos do crescimento do mercado.
A Mistral, que conta hoje com 680 marcas de vinho em seu catálogo, cujos preços variam de R$ 7 a R$ 150, deixou a r. Amaral Gurgel (centro de São Paulo), onde estava havia mais de 20 anos, para ocupar uma área com quase o dobro do espaço, na r. Rocha, na Bela Vista.
A importadora Expand, criada em 1978, abriu, em 1991, sua primeira loja no varejo, o Empório Santa Maria, e passou a vender também produtos finos, como queijos e caviar. Em 1995, inaugurou o Domaine Sainte-Marie, no shopping D&D (que passou a abrigar, neste ano, a École du Vin), uma loja especializada em vinhos. No dia 13 de maio passado, mais um ponto, na r. Bahia (Higienópolis), a Expand Wine Store. Em 1997, a Expand atingiu cerca de 1.500 tipos de vinho no seu catálogo. Em 1995, eram 800 (em 1992, 200).
A teoria de que o consumo está se aprimorando encontra respaldo na realidade. Na Expand, por exemplo, os tintos representavam, em 1992, 30% das vendas; em 1997, devem atingir 70%. O brasileiro passou não só a tomar, mas a apreciar vinho _pelo melhor caminho, o da experiência.
(A recente portaria nº 30/97 do Ministério da Agricultura, com normas rigorosas para a importação de vinho, pode dificultar a chegada ao Brasil dos vinhos mais caros _acima de R$ 50, segundo a Expand_, mas seu efeito, apesar de preocupar importadores, ainda não pôde ser sentido pelos consumidores brasileiros.)
O consumo mais sofisticado é, aliás, uma tendência mundial. Um sinal disso, segundo o relatório da Vinexpo, é que o volume de vinho comercializado mundialmente deve cair 6,4% até o fim de 1999, enquanto os US$ 83,1 bilhões movimentados pelo setor em 1995 devem crescer 12,2% até lá.
A Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura) aponta um redirecionamento dos produtores nacionais, que estão trocando o vinho comum pelo fino. A consequência é o aumento da procura pelos cursos que ensinam a apreciar um vinho e a combiná-lo com um cardápio.
A ABS (Associação Brasileira de Sommeliers), por exemplo, abriu uma nova turma semestral, com 60 alunos, do seu curso de iniciação ao vinho. As oito aulas de duas horas e meia custam R$ 250.
A SBAV (Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho) também estuda abrir uma nova turma de iniciantes no próximo semestre.
No último curso básico, a entidade teve de dispensar alunos, mesmo após ter ampliado a turma de 40 para 70 vagas.
Os novos amantes do vinho também passam a se reunir com amigos para conversar sobre a bebida e constituem, mesmo que informalmente, ‘‘confrarias do vinho’’.
Algumas ganham fama, como a do restaurante Santo Colomba ou a liderada pelo empresário Gilberto Bomeny. Outras confrarias, muitas desconhecidas e sem sede própria, costumam se reunir regularmente em restaurantes.



Cursos básicos e avançados da ABS e SBAV, em São Paulo, têm início previsto para agosto; os cursos e as degustações do Domaine acontecem uma vez por mês. Informações: Associação Brasileira de Sommeliers (av. Faria Lima, 1.451, conjunto 142, tel. 011/814-7853); Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (al. Gabriel Monteiro da Silva, 2.586, tel. 011/814-7905); Domaine Sainte-Marie (shopping D&D, tel. 011/3043-9877).




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