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Michelle já chega à Casa Branca como ícone e sob escrutínio
Forte, geniosa, independente e estilosa, primeira-dama se torna
modelo e alvo de cobrança para mulheres negras e pós-feministas
Advogada bem-sucedida
deixou a carreira e diz que as
filhas Malia, 10, e Sasha, 7,
são prioridade; para amiga,
fator racial será fardo extra
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
Michelle Obama chegou à
Casa Branca ontem em meio a
grandes expectativas sobre como imprimirá o propagado estilo "mãe-em-chefe" a um dos
mais proeminentes lugares para uma mulher nos EUA -o
posto de primeira-dama. Mas
não precisou esperar a posse
para ser tomada como modelo
para "fashionistas", negras e
pós-feministas, além de uma
imagem comercial já fortemente explorada no país.
Ela diz que as filhas Malia, 10,
e Sasha, 7, serão prioridade;
também pretende abordar a situação das famílias militares e
estimular o voluntariado. Mas
a nebulosidade que ainda cerca
seu papel já gerou comparações
com nomes tão diversos como
Jacqueline Kennedy, Hillary
Clinton e Eleanor Roosevelt.
A ligação com Jacqueline
Kennedy se deve ao senso de
estilo, que rendeu à primeira-dama o apelido de Michelle O
(referência a Jackie O). Mas
além dos colares de pérolas e
casacos bem cortados, há pouco que as una. Jackie, a delicada
primeira-dama de fala mansa e
aura aristocrática, chegou à Casa Branca aos 31 anos e se dedicou às artes e às grandes recepções; Michelle, 45, advogada
bem-sucedida, já foi criticada
pela agressividade e indicou
que pretende deixar os detalhes como a aprovação da louça
e da comida para assessores.
Ainda assim, a indústria da
moda aproveita a onda Michelle O. Em lojas como a J.Crew,
peças similares às da primeira-dama têm espaço de honra, e
marcas de produtos de beleza
como Paul Lebrecque lucram
com sugestões de US$ 250 para
obter o "look" de seus cabelos.
A comparação com Hillary
Clinton se deve ao estilo agressivo e às opiniões políticas fortes. Mas Michelle também deu
sinais de que não será como sua
antecessora democrata, cuja
influência rendeu o irônico título de "copresidente" durante
o mandato do marido. Tampouco seguirá Eleanor Roosevelt, que eternizou o estilo "primeira-dama ativista".
Fardo extra
De certa forma, não há espelho adequado para quem rompeu uma barreira maior do que
todas as anteriores: a de raça.
"Ela precisará lidar com o estereótipo da mulher negra muito
mandona, forte e dominadora",
diz a cientista política da Universidade Emory Andra Gillespie, também afroamericana.
"Se for muito atrevida, as pessoas vão dizer que está sendo
"muito negra" ou muito "gueto'".
"Há um fardo extra?", perguntou Valerie Jarret, conselheira sênior e amiga de Obama. "Sim, há. Mas Michelle é
pragmática, sabia o que enfrentaria ao começar a jornada."
Até o corpo da primeira-dama não sai mais dos holofotes.
A comentarista negra Erin
Aubry Kaplan escreveu no site
de notícias Salon.com que, "enquanto os EUA se preocupavam com o exotismo de Obama
e ele tentava acalmar as águas
com discursos sobre unidade e
experiência comum, o corpo de
Michelle mandava uma mensagem totalmente diferente: "para o inferno com esse negócio
de birracial!'". Para Kaplan, o
maior orgulho nacional está no
bumbum da primeira-dama.
Em todas as raças, porém, ela
começa com grande apoio. Michelle tem a taxa de aprovação
mais alta de qualquer nova primeira-dama desde 1980, de
acordo com uma pesquisa do
New York Times e da rede CBS.
Mais de 46% dos entrevistados
a veem positivamente.
Laura Bush, mulher de George W. Bush (2001-2009), entrou na Casa Branca com 30%
de visão favorável; Nancy Reagan, mulher de Ronald Reagan
(1981-1989), tinha 28%; e Hillary Clinton, mulher de Bill
Clinton (1993-2001) e indicada
para secretária de Estado, 38%.
Até as pós-feministas perdoam o fato de a advogada formada em Harvard ter desistido
da carreira por causa do marido. Elas a veem como parte do
grupo, a mulher bem-educada
que abraçou o papel público enquanto cuida das duas filhas.
Sasha e Malia, aliás, têm seu
lugar no rol das barreiras rompidas: enquanto despertam
simpatia pública pela graça, o
cabelo trançado das filhas de
Obama se tornou uma fascinação popular. "O cabelo sempre
foi um tema difícil para as afro-americanas", diz Paul Taylor,
filósofo da Universidade Temple. Será que Michelle vai deixá-las usar as trancinhas na Casa Branca? "Será interessante
ver como lidarão com isso."
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