São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Michelle já chega à Casa Branca como ícone e sob escrutínio

Forte, geniosa, independente e estilosa, primeira-dama se torna modelo e alvo de cobrança para mulheres negras e pós-feministas

Advogada bem-sucedida deixou a carreira e diz que as filhas Malia, 10, e Sasha, 7, são prioridade; para amiga, fator racial será fardo extra


ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

Michelle Obama chegou à Casa Branca ontem em meio a grandes expectativas sobre como imprimirá o propagado estilo "mãe-em-chefe" a um dos mais proeminentes lugares para uma mulher nos EUA -o posto de primeira-dama. Mas não precisou esperar a posse para ser tomada como modelo para "fashionistas", negras e pós-feministas, além de uma imagem comercial já fortemente explorada no país.
Ela diz que as filhas Malia, 10, e Sasha, 7, serão prioridade; também pretende abordar a situação das famílias militares e estimular o voluntariado. Mas a nebulosidade que ainda cerca seu papel já gerou comparações com nomes tão diversos como Jacqueline Kennedy, Hillary Clinton e Eleanor Roosevelt.
A ligação com Jacqueline Kennedy se deve ao senso de estilo, que rendeu à primeira-dama o apelido de Michelle O (referência a Jackie O). Mas além dos colares de pérolas e casacos bem cortados, há pouco que as una. Jackie, a delicada primeira-dama de fala mansa e aura aristocrática, chegou à Casa Branca aos 31 anos e se dedicou às artes e às grandes recepções; Michelle, 45, advogada bem-sucedida, já foi criticada pela agressividade e indicou que pretende deixar os detalhes como a aprovação da louça e da comida para assessores.
Ainda assim, a indústria da moda aproveita a onda Michelle O. Em lojas como a J.Crew, peças similares às da primeira-dama têm espaço de honra, e marcas de produtos de beleza como Paul Lebrecque lucram com sugestões de US$ 250 para obter o "look" de seus cabelos.
A comparação com Hillary Clinton se deve ao estilo agressivo e às opiniões políticas fortes. Mas Michelle também deu sinais de que não será como sua antecessora democrata, cuja influência rendeu o irônico título de "copresidente" durante o mandato do marido. Tampouco seguirá Eleanor Roosevelt, que eternizou o estilo "primeira-dama ativista".

Fardo extra
De certa forma, não há espelho adequado para quem rompeu uma barreira maior do que todas as anteriores: a de raça. "Ela precisará lidar com o estereótipo da mulher negra muito mandona, forte e dominadora", diz a cientista política da Universidade Emory Andra Gillespie, também afroamericana. "Se for muito atrevida, as pessoas vão dizer que está sendo "muito negra" ou muito "gueto'".
"Há um fardo extra?", perguntou Valerie Jarret, conselheira sênior e amiga de Obama. "Sim, há. Mas Michelle é pragmática, sabia o que enfrentaria ao começar a jornada."
Até o corpo da primeira-dama não sai mais dos holofotes. A comentarista negra Erin Aubry Kaplan escreveu no site de notícias Salon.com que, "enquanto os EUA se preocupavam com o exotismo de Obama e ele tentava acalmar as águas com discursos sobre unidade e experiência comum, o corpo de Michelle mandava uma mensagem totalmente diferente: "para o inferno com esse negócio de birracial!'". Para Kaplan, o maior orgulho nacional está no bumbum da primeira-dama.
Em todas as raças, porém, ela começa com grande apoio. Michelle tem a taxa de aprovação mais alta de qualquer nova primeira-dama desde 1980, de acordo com uma pesquisa do New York Times e da rede CBS. Mais de 46% dos entrevistados a veem positivamente.
Laura Bush, mulher de George W. Bush (2001-2009), entrou na Casa Branca com 30% de visão favorável; Nancy Reagan, mulher de Ronald Reagan (1981-1989), tinha 28%; e Hillary Clinton, mulher de Bill Clinton (1993-2001) e indicada para secretária de Estado, 38%.
Até as pós-feministas perdoam o fato de a advogada formada em Harvard ter desistido da carreira por causa do marido. Elas a veem como parte do grupo, a mulher bem-educada que abraçou o papel público enquanto cuida das duas filhas.
Sasha e Malia, aliás, têm seu lugar no rol das barreiras rompidas: enquanto despertam simpatia pública pela graça, o cabelo trançado das filhas de Obama se tornou uma fascinação popular. "O cabelo sempre foi um tema difícil para as afro-americanas", diz Paul Taylor, filósofo da Universidade Temple. Será que Michelle vai deixá-las usar as trancinhas na Casa Branca? "Será interessante ver como lidarão com isso."


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