São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Transição dá pistas do modo Obama de tomar decisões

Presidente toma decisões difíceis sem hesitar e busca diálogo com adversários

Autoconfiança excessiva, porém, também o leva a cometer erros, como indicar Richardson para gabinete apesar de investigações


DO "NEW YORK TIMES"

No dia anterior à sua mudança para a Casa Branca, Barack Obama visitou um abrigo para adolescentes sem família. Com as mangas da camisa arregaçadas, ele passou alguns minutos pintando uma parede, diante das câmeras que o acompanham a toda parte, agora.
Uma funcionária do abrigo, perguntou se ele estava suando. "Não, eu não suo", ele respondeu. "Você já me viu suar?" Obama chegou à Presidência ontem depois de uma transição que revelou pouca transpiração e nenhum sinal de nervosismo.
Nos 77 dias entre eleição e posse, ele manteve a calma e a confiança, aparentemente despreocupado com relação aos imensos problemas que o aguardam e diante dos poucos reveses que teve de enfrentar.
Continua a ser difícil interpretá-lo ou rotulá-lo. Centrista na sua seleção de pessoal e bipartidário em termos de estilo, ele ao mesmo tempo propõe a maior expansão do poder do governo em gerações.
O que o país viu de seu estilo de liderança até o momento evoca a disciplina de George W. Bush e a curiosidade de Bill Clinton. Obama não hesita em tomar decisões e fazê-lo rapidamente -montou sua equipe em tempo recorde-, mas também tenta participar do diálogo intelectual do país em um momento de grande fermentação.
O que seus oponentes tentaram retratar durante a campanha como arrogância é agora descrito por seus assessores como aceitação tranquila do poder e das responsabilidades. "Ele meio que vive em uma zona sem resmungos", disse John Podesta, copresidente da equipe de transição. "Consegue receber muita informação e tomar boas decisões. Sabe que cometerá erros. Mas também sabe que é preciso fazer o melhor possível, tomar decisões difíceis e seguir adiante."
Alguns desses erros podem se dever em parte à autoconfiança que o caracteriza. Obama já conhecia o governador Bill Richardson, do Novo México, e gostava dele, e por isso decidiu ignorar uma investigação sobre contratos estaduais que posteriormente terminou por levar Richardson a renunciar antes de assumir o Departamento de Comércio. Também criou laços pessoais com Timothy Geithner, seu indicado para o Departamento do Tesouro, e por isso decidiu que não se preocuparia com o fato de Geithner ter deixado de pagar alguns impostos.
Podesta não quis descrever como foi tomada a decisão de recuar da indicação de Richardson, mas disse que o incidente todo foi resolvido em nove horas e não em questão de dias. "Vimos o problema, nos informamos sobre ele, Bill percebeu que sua candidatura era inviável, e nós cancelamos o convite", disse Podesta.
Obama não optou pela segurança durante a transição. Incluiu Hillary Clinton, sua rival pela indicação presidencial, no gabinete. Ainda que tenha adiado decisões de política externa com a norma de "um presidente por vez", no caso da política interna seu comportamento foi outro. Pressionou o Congresso a liberar US$ 350 bilhões do dinheiro do pacote de resgate financeiro e iniciou as negociações para cerca de US$ 800 bilhões em programas de gastos públicos e incentivos fiscais.
Obama fez questão de procurar o diálogo com seus adversários. "Ele e sua equipe de transição se aproximaram mais do Congresso do que qualquer equipe de transição que eu tenha visto", disse o deputado John Boehner, do Ohio, líder republicano na Câmara. "Mas dirigir uma campanha e dirigir uma transição é bem diferente de dirigir um governo, porque governar é escolher."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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