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Transição dá pistas do modo Obama de tomar decisões
Presidente toma decisões difíceis sem hesitar e busca diálogo com adversários
Autoconfiança excessiva, porém, também o leva a cometer erros, como indicar Richardson para gabinete apesar de investigações
DO "NEW YORK TIMES"
No dia anterior à sua mudança para a Casa Branca, Barack
Obama visitou um abrigo para
adolescentes sem família. Com
as mangas da camisa arregaçadas, ele passou alguns minutos
pintando uma parede, diante
das câmeras que o acompanham a toda parte, agora.
Uma funcionária do abrigo,
perguntou se ele estava suando.
"Não, eu não suo", ele respondeu. "Você já me viu suar?"
Obama chegou à Presidência
ontem depois de uma transição
que revelou pouca transpiração
e nenhum sinal de nervosismo.
Nos 77 dias entre eleição e posse, ele manteve a calma e a confiança, aparentemente despreocupado com relação aos
imensos problemas que o
aguardam e diante dos poucos
reveses que teve de enfrentar.
Continua a ser difícil interpretá-lo ou rotulá-lo. Centrista
na sua seleção de pessoal e bipartidário em termos de estilo,
ele ao mesmo tempo propõe a
maior expansão do poder do
governo em gerações.
O que o país viu de seu estilo
de liderança até o momento
evoca a disciplina de George W.
Bush e a curiosidade de Bill
Clinton. Obama não hesita em
tomar decisões e fazê-lo rapidamente -montou sua equipe
em tempo recorde-, mas também tenta participar do diálogo
intelectual do país em um momento de grande fermentação.
O que seus oponentes tentaram retratar durante a campanha como arrogância é agora
descrito por seus assessores como aceitação tranquila do poder e das responsabilidades.
"Ele meio que vive em uma
zona sem resmungos", disse
John Podesta, copresidente da
equipe de transição. "Consegue
receber muita informação e tomar boas decisões. Sabe que cometerá erros. Mas também sabe que é preciso fazer o melhor
possível, tomar decisões difíceis e seguir adiante."
Alguns desses erros podem
se dever em parte à autoconfiança que o caracteriza. Obama já conhecia o governador
Bill Richardson, do Novo México, e gostava dele, e por isso decidiu ignorar uma investigação
sobre contratos estaduais que
posteriormente terminou por
levar Richardson a renunciar
antes de assumir o Departamento de Comércio. Também
criou laços pessoais com Timothy Geithner, seu indicado
para o Departamento do Tesouro, e por isso decidiu que
não se preocuparia com o fato
de Geithner ter deixado de pagar alguns impostos.
Podesta não quis descrever
como foi tomada a decisão de
recuar da indicação de Richardson, mas disse que o incidente todo foi resolvido em nove horas e não em questão de
dias. "Vimos o problema, nos
informamos sobre ele, Bill percebeu que sua candidatura era
inviável, e nós cancelamos o
convite", disse Podesta.
Obama não optou pela segurança durante a transição. Incluiu Hillary Clinton, sua rival
pela indicação presidencial, no
gabinete. Ainda que tenha adiado decisões de política externa
com a norma de "um presidente por vez", no caso da política
interna seu comportamento foi
outro. Pressionou o Congresso
a liberar US$ 350 bilhões do dinheiro do pacote de resgate financeiro e iniciou as negociações para cerca de US$ 800 bilhões em programas de gastos
públicos e incentivos fiscais.
Obama fez questão de procurar o diálogo com seus adversários. "Ele e sua equipe de transição se aproximaram mais do
Congresso do que qualquer
equipe de transição que eu tenha visto", disse o deputado
John Boehner, do Ohio, líder
republicano na Câmara. "Mas
dirigir uma campanha e dirigir
uma transição é bem diferente
de dirigir um governo, porque
governar é escolher."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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