São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Será que foi ruim pra você?

Não satisfazer o parceiro é o grande medo da maioria dos brasileiros;homens e mulheres empatam nessa preocupação

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O maior temor do brasileiro é o de não satisfazer o parceiro. É um medo que nivela homens e mulheres, casados e solteiros, moradores de todas as regiões, de diferentes idades, níveis socioeconômicos e escolaridades.
Mas a grande novidade é essa igualdade entre os gêneros, em termos de "neura" sexual.
O temor de não dar prazer à parceira já atormenta 56% dos homens, e é isso que o psiquiatra Joel Rennó Júnior vê em seu consultório. "Atendo muitos homens angustiados, interessados em entender o corpo feminino. Paradoxalmente, eles, que historicamente são os últimos a procurar ajuda médica, agora estão buscando solução mais rapidamente que as mulheres, no caso de disfunções sexuais."
Quem observa essa mesma tendência é a educadora Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan - Centro de Estudos de Sexualidade Humana: "Na última década, o homem passou a dar atenção à satisfação da mulher e a se exigir mais. Ele não sabe lidar com essa sexualidade tão diferente da dele, e está aflito com isso. Entre adolescentes e jovens, a ansiedade não é mais "comer" muitas, mas fazer com que a mulher sinta prazer."
O sexo sempre foi um problema para a mulher, agora começa a ser para o homem, nota a antropóloga Mirian Goldenberg. "Somos o país campeão de consumo de Viagra. Como há menos desigualdade, o homem está com medo da impotência, de não satisfazer, de ser traído. São questões novas para ele."
O psicanalista Jorge Forbes vê a mudança como natural. "A mulher era secundária, hoje é equivalente. O sexo, agora, só tem sentido se o prazer for compartido. No mundo globalizado, não há razões terceiras para ficar com alguém, como filhos, casamento: uma pessoa só está com outra porque quer."
Eles e elas empatam também no segundo maior medo sexual nacional: o de não despertar o desejo do parceiro.
Mas Goldenberg vê diferenças nesse mesmo medo. "O homem quer ser desejado para exercer o seu desejo, e a mulher quer ser desejada porque tem medo de se sentir invisível."
No ranking de encanações, ser considerado ruim de cama e ficar muito tempo sem transar atingem altos índices. São variações do medo maior: não agradar. "Ficar muito tempo sem uma relação é ser deletado do mercado afetivo. Ser desejado dá um lugar para o indivíduo no mundo", interpreta Forbes.
É um temor cultural, para Goldenberg. "Nas sociedades latinas, a vida sexual é um imperativo. É uma cultura que hipervaloriza o sexo e valoriza pouco a educação, o trabalho. Gilberto Freyre falava que, na colonização do Brasil, sexo e corpo foram fundantes. Não tivemos tanto português matando índio aqui, mas sim trepando com índios e escravos", diz. "Se falta sexo, os brasileiros acham que têm um problema." (DÉBORA YURI)


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