|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O impacto dos filhos no erotismo do casamento
Só minoria diz que vida sexual piorou depois da chegada de crianças;
mulheres já começam a separar papéis de mãe e amante, analisa terapeuta
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Filhos preocupam, cansam.
Diante de uma lista de aspectos
estressantes da paternidade e
da maternidade, brasileiros
com filhos aceitam que eles
têm impacto negativo no sexo.
Mas, se avaliam de forma mais
geral a questão, só a minoria diz
que o sexo pós-filhos piorou.
A atenção exigida pela prole
desfavorece a vida sexual, segundo mais da metade dos entrevistados, principalmente as
mulheres. E 25% dos entrevistados com filhos acham que as
crianças são mais importantes
do que o sexo, o que contribui
para esfriar a relação.
Com tanta coisa atrapalhando a intimidade, surpreende
que 27% deles e 25% delas considerem sua vida sexual melhor
após o nascimento dos filhos.
Tai Castilho, diretora do Instituto de Terapia Familiar de
São Paulo, observa que quase
metade dos que responderam
assim tem de 18 a 24 anos.
"Nos casais jovens, o erótico
é mais presente e os parceiros
se sentem mais livres para experimentar." Esses fatores, que
a terapeuta observa na clínica,
contribuem para minimizar o
impacto dos filhos no sexo.
O fato de tantos pais dizerem
que os filhos não prejudicam
pode indicar mudanças importantes, diz ela. "A mulher deixou de ser aquela que só olhava
para o filho, colocava o homem
de lado, tornava-se queixosa e
desinteressante. Ao descobrir
que pode ser mãe e ter uma relação erótica, ela contribui para
desfazer a confusão entre mãe
e mulher, algo que traz dificuldades para muitos homens."
Prenunciem ou não mudanças, os números que atestam o
impacto "positivo" dos filhos
na vida sexual não combinam
com outro resultado: dos brasileiros que não fazem sexo e estão casados, 88% têm filhos.
Para Francisco Daudt da Veiga,
psicanalista e colunista da Revista da Folha, esse índice é
mais próximo da realidade.
"A casa de um casal com família é o lugar menos erótico
que existe", diz. "É difícil se
concentrar no sexo quando
uma menininha de três anos
bate na porta para dizer que
viu um fantasma."
Pode haver, em quem minimiza ou nega isso, o desejo de
dizer o que é esperado. "Nas
questões de sexo no casamento, uma certa correção política
tende a se manifestar", diz o
sociólogo Dario Caldas, diretor
do Observatório de Sinais,
agência que pesquisa tendências de comportamento.
Mas essa não é, ele ressalva, a
única leitura possível. "Quando
avaliam bem o parceiro ou afirmam que sua vida sexual melhorou depois dos filhos, os casados estão se dizendo satisfeitos com suas escolhas. O que se
manifesta, aí, é a ideia de comprometimento e uma expectativa mais real em relação ao casamento e à paternidade."
Texto Anterior: Será que foi ruim pra você? Próximo Texto: Pares jovens abrem mão da vida sexual Índice
|