São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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O impacto dos filhos no erotismo do casamento

Só minoria diz que vida sexual piorou depois da chegada de crianças; mulheres já começam a separar papéis de mãe e amante, analisa terapeuta

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Filhos preocupam, cansam. Diante de uma lista de aspectos estressantes da paternidade e da maternidade, brasileiros com filhos aceitam que eles têm impacto negativo no sexo. Mas, se avaliam de forma mais geral a questão, só a minoria diz que o sexo pós-filhos piorou.
A atenção exigida pela prole desfavorece a vida sexual, segundo mais da metade dos entrevistados, principalmente as mulheres. E 25% dos entrevistados com filhos acham que as crianças são mais importantes do que o sexo, o que contribui para esfriar a relação.
Com tanta coisa atrapalhando a intimidade, surpreende que 27% deles e 25% delas considerem sua vida sexual melhor após o nascimento dos filhos.
Tai Castilho, diretora do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo, observa que quase metade dos que responderam assim tem de 18 a 24 anos.
"Nos casais jovens, o erótico é mais presente e os parceiros se sentem mais livres para experimentar." Esses fatores, que a terapeuta observa na clínica, contribuem para minimizar o impacto dos filhos no sexo.
O fato de tantos pais dizerem que os filhos não prejudicam pode indicar mudanças importantes, diz ela. "A mulher deixou de ser aquela que só olhava para o filho, colocava o homem de lado, tornava-se queixosa e desinteressante. Ao descobrir que pode ser mãe e ter uma relação erótica, ela contribui para desfazer a confusão entre mãe e mulher, algo que traz dificuldades para muitos homens."
Prenunciem ou não mudanças, os números que atestam o impacto "positivo" dos filhos na vida sexual não combinam com outro resultado: dos brasileiros que não fazem sexo e estão casados, 88% têm filhos. Para Francisco Daudt da Veiga, psicanalista e colunista da Revista da Folha, esse índice é mais próximo da realidade.
"A casa de um casal com família é o lugar menos erótico que existe", diz. "É difícil se concentrar no sexo quando uma menininha de três anos bate na porta para dizer que viu um fantasma."
Pode haver, em quem minimiza ou nega isso, o desejo de dizer o que é esperado. "Nas questões de sexo no casamento, uma certa correção política tende a se manifestar", diz o sociólogo Dario Caldas, diretor do Observatório de Sinais, agência que pesquisa tendências de comportamento.
Mas essa não é, ele ressalva, a única leitura possível. "Quando avaliam bem o parceiro ou afirmam que sua vida sexual melhorou depois dos filhos, os casados estão se dizendo satisfeitos com suas escolhas. O que se manifesta, aí, é a ideia de comprometimento e uma expectativa mais real em relação ao casamento e à paternidade."


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