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O PRODUTOR
Cohn deve fazer mais filmes com Salles
MARCELO DIEGO
de Nova York
Arthur Cohn é o produtor nascido fora dos EUA de maior sucesso
na história do Oscar. Ele já levou
cinco estatuetas -três de filme estrangeiro- e tem suas mãos calcadas na seleta Calçada da Fama de
Hollywood. Cohn está disputando
sua sexta estatueta, como produtor
de "Central do Brasil", mas diz que
nunca enfrentou uma disputa tão
acirrada.
"Das outras vezes, a competição
sempre era baseada na qualidade.
Agora, está sendo baseada em dinheiro gasto com publicidade",
afirmou, em entrevista por telefone à Folha.
Cohn está há cinco semanas em
Los Angeles, onde acontece hoje a
entrega do Oscar. "Apesar dos
prognósticos contrários, estou otimista", disse Cohn.
Natural de BasiIéia, Suíça, Cohn
era advogado e trabalhou como
jornalista antes de começar a produzir filmes, nos anos 60. Seu primeiro trabalho premiado com um
Oscar foi o documentário "The
Sky Above, The Mud Below" (61).
Ele se associou ao diretor italiano
Vittorio De Sica, com quem produziu vários filmes -entre eles,
"Um Lugar para os Amantes" (68)
e "Até que o Divórcio Nos Separe"
(72)- e conseguiu conquistar sua
segunda estatueta, com "O Jardim
dos Finzi-Continis" (71).
As outras duas estatuetas de filme estrangeiros aconteceram com
"Black and White in Color" (1976),
e "Dangerous Moves" (1984).
O documentário "American
Dreams" (1990) acabou lhe rendendo o mais recente prêmio.
Folha - "Central" é o primeiro filme brasileiro produzido pelo sr.?
Arthur Cohn - Sim. Eu resolvi
aceitar o desafio por causa do tratamento muito bom que recebi de
Walter Salles e por perceber o potencial da história. "Central" é um
filme brasileiro, mas uma história
universal. Ele pode ser exibido em
qualquer lugar que as pessoas se
identificam com ele. Acho que o
sucesso do filme comprova seu caráter universal.
Folha - Há planos de seguir a parceria com Salles?
Cohn - Sim. Estamos acertando a
produção de mais dois filmes. Um
será baseado numa novela francesa e o outro será ambientado em
Santa Fé, no México.
Folha - Como foi o trabalho nos
últimos dias antes do Oscar?
Cohn - A última semana foi menos estressante, porque os votos já
foram enviados à Academia. Nosso principal objetivo foi fazer com
que o filme fosse assistido pelomaior número de pessoas. Se os
membros vissem "Central", poderiam ter uma idéia do bom filme
que foi feito e da extraordinária
atuação de Fernanda Montenegro.
Folha - A Academia tem 5.557 votantes. Quantos viram "Central"?
Cohn - Não faço idéia. Mas deve
ter sido uma fração pequena, pois
os norte-americanos não estão
acostumados a assistir a filmes
com legendas. Foi uma luta convencer alguns a conhecer o trabalho. Se todos assistissem aos filmes
que estão competindo, a escolha
seria baseada apenas na qualidade.
Folha - O sr. acha que a escolha
do Oscar está baseada em outros
critérios?
Cohn - Nosso concorrente principal, "A Vida É Bela", está gastando
uma fábula em dinheiro para publicidade (US$ 9,25 milhões, com
sete indicações para o Oscar, contra US$ 250 mil de "Central" ). A
quantia é absurda. Não gosto disso
e acho que pode afetar alguns
membros da Academia. Eles gastaram em publicidade quase cinco
vezes o orçamento de nosso filme.
Por que tanto dinheiro? O que estão esperando em troca?
Folha - Se o sr. tivesse o mesmo
orçamento...
Cohn - Produziria outros filmes e
não gastaria em anúncios. O Oscar
é um prêmio importante, mas deve
ser baseado na qualidade.
Folha - O sr. já venceu cinco vezes o Oscar. Este é o mais difícil?
Cohn - Com certeza. Mas eu estou
otimista, ao contrário das pesquisas, ao contrário das fofocas em
Los Angeles, eu ainda acredito que
o Oscar será dado a "Central". Seria uma bela resposta da Academia
à pressão dos estúdios e um grande
feito para o cinema brasileiro.
Acho que disputa tão difícil
quanto esta somente quando ganhei com "Black and White in Color". Também não éramos favorito, mas saímos vitoriosos.
Folha - O sr. fala como se "A Vida
É Bela" não fosse um filme de qualidade. O sr. não acha que, mesmo
sem publicidade, ele seria capaz de
vencer o Oscar?
Cohn - É um bom filme, mas
"Central" é melhor. Eu achei as sete indicações dele exageradas. Roberto Benigni foi indicado a melhor diretor, mas o trabalho de
Walter Salles é melhor que o dele.
Folha - Qual foi a produção que
deu mais prazer ao sr.?
Cohn - Quando você se envolve
com um filme, você se apaixona
por ele. Gostei de todos os filmes
que produzi.
Folha - O sr. ainda consegue ter
prazer em produzir filmes?
Cohn - Com certeza. Eu não tenho medo de estresse e de desafios.
Todas as vezes em que fui produzir
um filme, inclusive em "Central",
eu fui advertido. Diziam-me: "Você vai perder dinheiro, o filme vai
ser um fracasso". Apesar dos conselhos, tenho me saído bem.
Folha - O sr. sabe o que vai fazer
a partir de amanhã?
Cohn - Aconteça o que acontecer,
eu quero dar um abraço forte no
Walter e um beijo na Fernanda. Ela
é uma pessoa maravilhosa e uma
atriz de extraordinário talento. Todos os brasileiros deveriam estar
comemorando a indicação dela.
Pode ser que ela não vença o Oscar,
porque é uma atriz pouco conhecida aqui, fala uma língua estranha
aos norte-americanos e não é jovem nem bonita como a Gwyneth
Paltrow (concorrente por "Shakespeare Apaixonado"). Mas seu
talento pode superar essas adversidades.
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