São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
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O PRODUTOR
Cohn deve fazer mais filmes com Salles

MARCELO DIEGO
de Nova York

Arthur Cohn é o produtor nascido fora dos EUA de maior sucesso na história do Oscar. Ele já levou cinco estatuetas -três de filme estrangeiro- e tem suas mãos calcadas na seleta Calçada da Fama de Hollywood. Cohn está disputando sua sexta estatueta, como produtor de "Central do Brasil", mas diz que nunca enfrentou uma disputa tão acirrada.
"Das outras vezes, a competição sempre era baseada na qualidade. Agora, está sendo baseada em dinheiro gasto com publicidade", afirmou, em entrevista por telefone à Folha.
Cohn está há cinco semanas em Los Angeles, onde acontece hoje a entrega do Oscar. "Apesar dos prognósticos contrários, estou otimista", disse Cohn.
Natural de BasiIéia, Suíça, Cohn era advogado e trabalhou como jornalista antes de começar a produzir filmes, nos anos 60. Seu primeiro trabalho premiado com um Oscar foi o documentário "The Sky Above, The Mud Below" (61).
Ele se associou ao diretor italiano Vittorio De Sica, com quem produziu vários filmes -entre eles, "Um Lugar para os Amantes" (68) e "Até que o Divórcio Nos Separe" (72)- e conseguiu conquistar sua segunda estatueta, com "O Jardim dos Finzi-Continis" (71).
As outras duas estatuetas de filme estrangeiros aconteceram com "Black and White in Color" (1976), e "Dangerous Moves" (1984).
O documentário "American Dreams" (1990) acabou lhe rendendo o mais recente prêmio.
Folha - "Central" é o primeiro filme brasileiro produzido pelo sr.?
Arthur Cohn -
Sim. Eu resolvi aceitar o desafio por causa do tratamento muito bom que recebi de Walter Salles e por perceber o potencial da história. "Central" é um filme brasileiro, mas uma história universal. Ele pode ser exibido em qualquer lugar que as pessoas se identificam com ele. Acho que o sucesso do filme comprova seu caráter universal.
Folha - Há planos de seguir a parceria com Salles?
Cohn -
Sim. Estamos acertando a produção de mais dois filmes. Um será baseado numa novela francesa e o outro será ambientado em Santa Fé, no México.
Folha - Como foi o trabalho nos últimos dias antes do Oscar?
Cohn -
A última semana foi menos estressante, porque os votos já foram enviados à Academia. Nosso principal objetivo foi fazer com que o filme fosse assistido pelomaior número de pessoas. Se os membros vissem "Central", poderiam ter uma idéia do bom filme que foi feito e da extraordinária atuação de Fernanda Montenegro.
Folha - A Academia tem 5.557 votantes. Quantos viram "Central"?
Cohn -
Não faço idéia. Mas deve ter sido uma fração pequena, pois os norte-americanos não estão acostumados a assistir a filmes com legendas. Foi uma luta convencer alguns a conhecer o trabalho. Se todos assistissem aos filmes que estão competindo, a escolha seria baseada apenas na qualidade.
Folha - O sr. acha que a escolha do Oscar está baseada em outros critérios?
Cohn -
Nosso concorrente principal, "A Vida É Bela", está gastando uma fábula em dinheiro para publicidade (US$ 9,25 milhões, com sete indicações para o Oscar, contra US$ 250 mil de "Central" ). A quantia é absurda. Não gosto disso e acho que pode afetar alguns membros da Academia. Eles gastaram em publicidade quase cinco vezes o orçamento de nosso filme. Por que tanto dinheiro? O que estão esperando em troca?
Folha - Se o sr. tivesse o mesmo orçamento...
Cohn -
Produziria outros filmes e não gastaria em anúncios. O Oscar é um prêmio importante, mas deve ser baseado na qualidade.
Folha - O sr. já venceu cinco vezes o Oscar. Este é o mais difícil?
Cohn -
Com certeza. Mas eu estou otimista, ao contrário das pesquisas, ao contrário das fofocas em Los Angeles, eu ainda acredito que o Oscar será dado a "Central". Seria uma bela resposta da Academia à pressão dos estúdios e um grande feito para o cinema brasileiro.
Acho que disputa tão difícil quanto esta somente quando ganhei com "Black and White in Color". Também não éramos favorito, mas saímos vitoriosos.
Folha - O sr. fala como se "A Vida É Bela" não fosse um filme de qualidade. O sr. não acha que, mesmo sem publicidade, ele seria capaz de vencer o Oscar?
Cohn -
É um bom filme, mas "Central" é melhor. Eu achei as sete indicações dele exageradas. Roberto Benigni foi indicado a melhor diretor, mas o trabalho de Walter Salles é melhor que o dele.
Folha - Qual foi a produção que deu mais prazer ao sr.?
Cohn -
Quando você se envolve com um filme, você se apaixona por ele. Gostei de todos os filmes que produzi.
Folha - O sr. ainda consegue ter prazer em produzir filmes?
Cohn -
Com certeza. Eu não tenho medo de estresse e de desafios. Todas as vezes em que fui produzir um filme, inclusive em "Central", eu fui advertido. Diziam-me: "Você vai perder dinheiro, o filme vai ser um fracasso". Apesar dos conselhos, tenho me saído bem.
Folha - O sr. sabe o que vai fazer a partir de amanhã?
Cohn -
Aconteça o que acontecer, eu quero dar um abraço forte no Walter e um beijo na Fernanda. Ela é uma pessoa maravilhosa e uma atriz de extraordinário talento. Todos os brasileiros deveriam estar comemorando a indicação dela. Pode ser que ela não vença o Oscar, porque é uma atriz pouco conhecida aqui, fala uma língua estranha aos norte-americanos e não é jovem nem bonita como a Gwyneth Paltrow (concorrente por "Shakespeare Apaixonado"). Mas seu talento pode superar essas adversidades.


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