São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Povoado pode mudar nome para Central

FÁBIO GUIBU
Cruzeiro do Nordeste (PE)

Os moradores de Cruzeiro do Nordeste, povoado que serviu de cenário para "Central do Brasil" e que sediou parte das filmagens, podem promover hoje, durante a entrega do Oscar, a última festa com o atual nome do vilarejo.
O local poderá ser rebatizado pela quinta vez em 69 anos e passar a ter o mesmo nome do filme que tornou conhecido o pequeno distrito, que pertence ao município de Sertânia (a 341 km de Recife), no sertão de Pernambuco. No filme, o distrito ganhou o nome de Bom Jesus do Norte.
O projeto de lei autorizando a mudança já está pronto e deverá ser protocolado na Câmara Municipal de Sertânia ainda este mês pelo vereador Nelson Muniz (PSB), autor da proposta.
"Além de homenagear o filme, Central do Brasil é um nome que combina com o lugar", justifica. "Daqui partiam os paus-de-arara da região para o resto do país."
A idéia conta com a simpatia do prefeito Angelo Rafael Ferreira (PSB), que possui maioria dos votos no Legislativo municipal.
Já os moradores de Cruzeiro do Nordeste estão divididos. O presidente da associação dos moradores, José Pereira da Silva, defende a realização de um plebiscito entre os 639 habitantes do vilarejo.
"Muita gente ainda chama o distrito de Placas, que era o nome antigo, e já querem mudar de nome outra vez", afirma. Cruzeiro do Nordeste já se chamou Serrote da Boa Vista, Ramal e Placas.
A polêmica do nome só não é maior no vilarejo que o entusiasmo da comunidade com a possibilidade de o filme e de Fernanda Montenegro receberem um Oscar.
Uma grande festa foi programada para a entrega do prêmio, com um telão montado na rua para que os moradores assistam ao evento.
A programação começa às 15h, com a realização de uma procissão e de uma missa. Às 16h30, haverá a apresentação de um grupo de balé de Sertânia. Sanfoneiros e repentistas também vão se apresentar.
Às 20h, as luzes da cidade vão se apagar para a exibição pública de "Central do Brasil". Logo depois, todas as atenções estarão voltadas para a entrega do Oscar.
Quinhentas velas serão acesas numa vigília que vai durar até o fim da solenidade, repetindo a cena que melhor retratou a religiosidade do povo nordestino em "Central do Brasil": a da romaria.
A única preocupação dos organizadores é com a chuva. Há mais de um ano não chovia na região, mas, nos últimos dois dias, temporais rápidos têm sido registrados, seguidos de interrupções no fornecimento de energia elétrica.
Os agricultores festejam e, ao mesmo tempo, lamentam as chuvas. "Montei uma barraquinha para a festa e até agora não vendi nada por causa do tempo", disse a agricultora Quitéria Feitosa. "A gente reza para chover e, quando chove, vem no dia errado."


Texto Anterior: Cohn deve fazer mais filmes com Salles
Próximo Texto: Filme valoriza arquitetura moderna
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.