|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Metade da população é de forasteiros
do enviado especial a Brasília
Uma brochura fininha de
1957, o "1º Recenseamento de
Brasília", registra o perfil dos
primeiros habitantes do lugar.
Em 20 de julho daquele ano havia 6.283 moradores: 3.152 vinham de Goiás, 1.154 de Minas
(ou 18%), 493 de São Paulo
(7%), e 296 da Bahia (4,7%).
Feito pelo IBGE, o levantamento revelou que primeira leva de operários era majoritariamente desqualificada (1.766
trabalhadores não especializados, contra 476 marceneiros e
carpinteiros, 272 funcionários
administrativos, 228 comerciantes e só 131 pedreiros).
Mais tarde chegariam outros
milhares de candangos (foram
cerca de 60 mil ao longo da
construção), sobretudo nordestinos, goianos e mineiros.
No primeiro censo nacional
que incluiu Brasília (1970), os
nascidos na capital eram 22,2%
da população, índice que pularia para 31,9% em 1980, 41,5%
em 1991 e 46,8% em 2000.
No último grande levantamento, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio) de 2008, os nativos já
eram 48,9%. Hoje, aos 50 anos,
pelo menos metade da população de Brasília é brasiliense.
A capital é a unidade da Federação mais cheia de forasteiros. Os nascidos em Minas, Estado de JK, sempre formaram a
maior comunidade, seguidos
pelos goianos, ambos pilares da
cultura interiorana que é uma
das marcas do lugar, junto com
a nordestina. A influência cultural do Rio, cujos habitantes
integravam a primeira leva de
funcionários transferidos da
antiga capital, não se traduz no
número de moradores fluminenses: em 1970, juntando nascidos no Rio e na Guanabara,
eles eram 6,6% do total, número que só caiu desde então.
Compunha este percentual
Daisy Collet de Araújo Lima,
80, que se instalou em Brasília
com a família logo após a inauguração, em 1960. Ela e o marido, Roberto, 84, passaram no
concurso que enviou à 60 professores à capital: "Éramos
apaixonados, queríamos fazer
algo novo. Coisas da cabeça de
jovens", diz. Hoje o casal não
troca Brasília pelo Rio nem por
dinheiro: "Olho pela varanda e
digo: não encontrei isso pronto.
Eu participei", afirma Roberto.
A demógrafa Ana Maria Nogales Vasconcelos, da UnB, observa que o perfil dos migrantes
mudou desde 2000. Os que
chegam são agora na maioria
nordestinos, para trabalhar em
serviços, como domésticos e na
construção civil. Os dados mais
recentes indicam que o fluxo
migratório passou a ser negativo (sai mais gente do que chega), mas se mantém a projeção
de crescimento populacional:
"Quem vai poder esclarecer o
que está ocorrendo será o Censo de 2010".
(FV)
Texto Anterior: Última fronteira Próximo Texto: Cultura fora do plano Índice
|