São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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Para a Fiesp, vizinho pode "travar" o Brasil

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Argentina pode se transformar na "trava da nossa roda" em 2002, segundo Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Na atual situação, o conselho da entidade é para que os empresários aproveitem oportunidades de negócios no país, caso a desvalorização do peso aconteça.
O governo também fez ontem recomendações aos empresários brasileiros. O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, Roberto Giannetti, pediu cautela aos exportadores nas suas negociações com os argentinos, mas fez uma ressalva.
"Temos de ser solidários. Mas isso não significa sermos generosos", disse, referindo-se à possibilidade de calote no pagamento aos exportadores brasileiros.

Desvalorização
A Fiesp disse ontem que não afasta a possibilidade de uma forte desvalorização da moeda argentina. "O peso vai acabar sofrendo uma megadesvalorização para lá de 50%, no estilo daquela ocorrida na Rússia. E isso vai acabar batendo na gente", afirmou Clarice.
O lado positivo disso é que, com uma possível desvalorização, os ativos das companhias devem se tornar mais baratos. "Haverá então oportunidades interessantes na Argentina. Se não comprarmos bons negócios lá, outros países o farão", disse.
Com uma eventual desvalorização do peso, o dólar ficaria sobrevalorizado e, logo, torna-se mais fácil -para as companhias com moeda americana em caixa- irem às compras na Argentina.

Sem piedade
O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, Roberto Giannetti, pediu ontem que principalmente os pequenos e médios exportadores analisem "com lupa" as cartas de crédito fornecidas pelos importadores argentinos como garantia para o embarque das mercadorias.
"Se a carta de crédito for, por exemplo, confirmada pelo Banco do Brasil, tudo bem. Mas se for garantida por um banco argentino, ela pode ser duvidosa."
Giannetti negou que o Mercosul esteja em uma fase de retrocesso. "É uma paralisia temporária. Agora não há ambiente para discutir temas macroeconômicos."
Em seguida, o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior afirmou que, embora o Mercosul seja importante para a negociação com outros blocos econômicos, o Brasil poderá negociar acordos bilaterais se não houver como fazer isso em bloco.
Giannetti voltou a explicar que a balança comercial entre os dois países é favorável aos argentinos e que as exportações para o país vizinho vêm caindo. Neste ano, o Brasil deverá vender US$ 5 bilhões para os argentinos. Em 97, foram US$ 6,7 bilhões. A pauta de exportações brasileiras é diversificada, mas o secretário disse que, em alguns setores, a queda das exportações superou 30%.


Colaborou Silvia Mugnatto, da Sucursal de Brasília


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