São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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Fundo diz que não tem culpa por caos no país

DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) negou ontem qualquer responsabilidade nos distúrbios na Argentina e informou que alguns de seus técnicos já elaboram soluções "alternativas e de contingência" para a economia do país.
Numa entrevista coletiva tensa, o porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, também disse que a equipe técnica da instituição aguarda a nomeação de novos ministros argentinos para conversar sobre a elaboração de um "programa que seja sustentável."
Segundo Dawson, o FMI não pode ser responsabilizado pelo desfecho da crise econômica argentina porque o governo do país escolheu seu próprio regime de câmbio (a conversibilidade) e aceitou os desafios que esse regime impõe. "O que temos feito é mostrar a eles que esse regime requer medidas sobre como lidar com as políticas fiscal, monetária e de reservas."
Para Dawson, o Fundo negou à Argentina a liberação da parcela deste mês do programa, no valor de US$ 1,26 bilhão, porque o governo não conseguiu cumprir as metas que ele mesmo criou ao instituir o plano de déficit fiscal zero. "(A suspensão) Foi uma decisão natural levando em conta os compromissos feitos pelas próprias autoridades."
Indagado se a liberação desse dinheiro poderia ter evitado os conflitos nas ruas do país, ele respondeu: "Sob o julgamento da área técnica do Fundo, o programa era insustentável. Se você olhar para o volume de dinheiro que as pessoas dizem que seria necessário (para o governo argentino pagar seus compromissos em dezembro), acho que US$ 1,26 bilhão não resolveria. O próprio ministro Cavallo (ex-ministro da Economia, Domingo Cavallo) reconheceu que o governo não conseguiu cumprir os termos da lei."

Três programas
Desde 1991, quando o governo argentino adotou seu regime de conversibilidade (um peso vale um dólar), o FMI formulou três programas de ajuste para a economia argentina. Em nenhum deles exigiu a mudança do sistema cambial, mas convenceu o país a conduzir um programa de reformas liberais (privatização e abertura) considerado o mais radical entre os adotados por todos os países em desenvolvimento com programas com o Fundo.
Dawson disse que não seria justo responsabilizar o sistema cambial e esses programas pela situação do país, pois eles teriam permitido à Argentina acabar com a inflação e crescer na década.
O porta-voz disse que não existem reuniões extraordinárias do FMI para tratar do problema da Argentina, mas reconheceu que o Fundo está buscando soluções para serem debatidas com o governo. "A equipe técnica sempre está elaborando alternativas e planos de contingência. Há um número variado de pessoas e de opções e, com a mudança dos ministros na Argentina, estamos verificando como avançar. Mas temos que negociar antes com as novas autoridades, pois nossa missão é ajudá-las a desenvolver seu próprio programa."
A Folha apurou que dois grupos foram colocados de prontidão no FMI. Para ambos, a desvalorização e o calote já seriam inevitáveis, e o grande desafio será controlar a reação dos mercados. (MA)


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