|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fundo diz que não tem
culpa por caos no país
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) negou ontem qualquer
responsabilidade nos distúrbios
na Argentina e informou que alguns de seus técnicos já elaboram
soluções "alternativas e de contingência" para a economia do país.
Numa entrevista coletiva tensa,
o porta-voz do Fundo, Thomas
Dawson, também disse que a
equipe técnica da instituição
aguarda a nomeação de novos
ministros argentinos para conversar sobre a elaboração de um
"programa que seja sustentável."
Segundo Dawson, o FMI não
pode ser responsabilizado pelo
desfecho da crise econômica argentina porque o governo do país
escolheu seu próprio regime de
câmbio (a conversibilidade) e
aceitou os desafios que esse regime impõe. "O que temos feito é
mostrar a eles que esse regime requer medidas sobre como lidar
com as políticas fiscal, monetária
e de reservas."
Para Dawson, o Fundo negou à
Argentina a liberação da parcela
deste mês do programa, no valor
de US$ 1,26 bilhão, porque o governo não conseguiu cumprir as
metas que ele mesmo criou ao
instituir o plano de déficit fiscal
zero. "(A suspensão) Foi uma decisão natural levando em conta os
compromissos feitos pelas próprias autoridades."
Indagado se a liberação desse
dinheiro poderia ter evitado os
conflitos nas ruas do país, ele respondeu: "Sob o julgamento da
área técnica do Fundo, o programa era insustentável. Se você
olhar para o volume de dinheiro
que as pessoas dizem que seria
necessário (para o governo argentino pagar seus compromissos em
dezembro), acho que US$ 1,26 bilhão não resolveria. O próprio ministro Cavallo (ex-ministro da
Economia, Domingo Cavallo) reconheceu que o governo não conseguiu cumprir os termos da lei."
Três programas
Desde 1991, quando o governo
argentino adotou seu regime de
conversibilidade (um peso vale
um dólar), o FMI formulou três
programas de ajuste para a economia argentina. Em nenhum deles exigiu a mudança do sistema
cambial, mas convenceu o país a
conduzir um programa de reformas liberais (privatização e abertura) considerado o mais radical
entre os adotados por todos os
países em desenvolvimento com
programas com o Fundo.
Dawson disse que não seria justo responsabilizar o sistema cambial e esses programas pela situação do país, pois eles teriam permitido à Argentina acabar com a
inflação e crescer na década.
O porta-voz disse que não existem reuniões extraordinárias do
FMI para tratar do problema da
Argentina, mas reconheceu que o
Fundo está buscando soluções
para serem debatidas com o governo. "A equipe técnica sempre
está elaborando alternativas e planos de contingência. Há um número variado de pessoas e de opções e, com a mudança dos ministros na Argentina, estamos verificando como avançar. Mas temos
que negociar antes com as novas
autoridades, pois nossa missão é
ajudá-las a desenvolver seu próprio programa."
A Folha apurou que dois grupos foram colocados de prontidão no FMI. Para ambos, a desvalorização e o calote já seriam inevitáveis, e o grande desafio será
controlar a reação dos mercados.
(MA)
Texto Anterior: Gota D'água: Cavallo cai, mas é proibido de sair do país Próximo Texto: Paridade causou disparada das tarifas públicas, dizem analistas Índice
|