São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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Portugueses diluem história do Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

A animosidade intelectual entre brasileiros e portugueses alimenta e ao mesmo tempo é alimentada pela escassez de estudos que um país realiza sobre o outro.
Segundo a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva, que leciona história do Brasil na Universidade Portucalense, no Porto, a disciplina não existe nas universidades públicas portuguesas, onde o estudo do Brasil é diluído em disciplinas como história da expansão.
Segundo a historiadora, ex-professora na USP, são raros os estudos sobre o Brasil surgidos em Portugal depois da Revolução dos Cravos, de 1974. "Há mais pesquisas sobre a África do que sobre o Brasil, apesar de contarmos em Portugal com um acervo fantástico de documentos sobre a colonização", diz. Do mesmo modo, nas universidades brasileiras, a história de Portugal está diluída na disciplina história ibérica, que tende a parar na época da independência dos países hispano-americanos.
Maria Beatriz diz que só há atualmente dois historiadores portugueses estudando sistematicamente a história brasileira: Angela Domingues, que tem um doutorado sobre a Amazônia pós-pombalina, e Jorge Couto, que estuda a ação dos jesuítas e tem um livro chamado "A Construção do Brasil".
Mas a historiadora afirma que, em vista da proximidade dos 500 anos do Descobrimento, as coisas estão melhorando. O Ministério da Educação vai realizar em novembro um colóquio sobre o Brasil dirigido a professores secundários e já encomendou à própria Maria Beatriz um livro sobre a história da colonização do Brasil para ser distribuído nas escolas secundárias.
Na área da literatura, a situação é um pouco melhor. Para o professor Arnaldo Saraiva, coordenador do mestrado em literatura brasileira da Universidade do Porto, os livros brasileiros são editados hoje com menos frequência que nos anos 50, mas existem relações mais ativas entre escritores e estudiosos.
"A literatura brasileira é estudada oficialmente em várias universidades. Nos anos 60 e início dos 70, só em Lisboa e Coimbra", diz Saraiva, ele mesmo editor de uma revista de literatura brasileira, chamada "Terceira Margem". O número mais recente da revista, que é semestral, traz textos inéditos de João Cabral de Melo Neto, Augusto de Campos e João Gilberto Noll.
"Existe um público novo atento à literatura brasileira, mas é pequeno. Os estudantes universitários praticamente só conhecem os autores do século 20: Drummond, Guimarães Rosa, Jorge Amado."
"Entre os autores mais recentes, só se conhece um pouco de Rubem Fonseca e João Ubaldo. Alguns começam a citar Chico Buarque -conhecido mais por causa da música- e, inevitavelmente, Paulo Coelho."


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