São Paulo, quinta, 23 de abril de 1998

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PALESTINOS
Dirigente espera Estado em maio de 99


Ano de 48 lembra "desastre' para Mahmoud Abbas, provável sucessor de Iasser Arafat


do enviado especial ao Oriente Médio

Os 50 anos de Israel trazem um "desastre" à memória de Mahmoud Abbas, o número dois da Autoridade Nacional Palestina e provável sucessor de Iasser Arafat, o atual presidente da ANP.
Abbas, também conhecido pelo nome de guerra Abu Mazen, entrou para a história ao assinar, em 1993, o acordo de paz em Washington como representante palestino. Pelo lado israelense, firmou o então chanceler Shimon Peres, sob os olhares de Arafat e Itzhak Rabin.
A família de Abbas deixou sua cidade natal, Tzefat (Israel), em 1948, quando da criação do Estado judeu. O garoto Mahmoud tinha então 15 anos.
Depois do exílio na Síria, na ex-URSS e na Tunísia, o advogado Abbas retornou secretamente a Tzefat em 94. Não queria ser reconhecido. Em 96, voltou a visitar Israel.
Atualmente, vive entre Gaza e Ramallah (Cisjordânia), onde recebeu a Folha. (JS)

Folha - O que representa para o sr. os 50 anos de Israel?
Mahmoud Abbas -
Esse fato traz à memória um verdadeiro desastre. Naquele tempo, nós perdemos nosso país. Perdemos a nossa existência, perdemos nossa comunidade. Perdemos tudo. Viramos refugiados, gente sem casa. No mesmo dia em que eles (judeus) obtiveram seu próprio país, seu próprio Estado, nós, os palestinos, perdemos tudo.
Folha - Em 1948, o que ocorreu com o sr. e a sua família?
Abbas -
Minha família teve de fugir, perdemos a nossa casa, na cidade de Tzefat, atual território de Israel. Não penso em recuperá-la ou reivindicá-la, porque aceitamos a legitimidade internacional de Israel.
Folha - Setores israelenses dizem que foi um erro do mundo árabe não aceitar a partilha definida pela ONU em 1947. O sr. concorda?
Abbas -
Qual a utilidade dessa discussão agora? Se foi um erro, foi dos dois lados, desde o início. Por que não aceitaram a idéia da coexistência? Vamos nos fazer essa pergunta e fazê-la também aos israelenses.
Folha - O que o sr. entende por início? 1948?
Abbas -
Não, falo do começo do século, dos anos 20, quando começou a imigração judaica. Em 1969, criamos um slogan: "Pelo Estado democrático palestino", no qual muçulmanos, cristãos e judeus viveriam em condições de igualdade. Já entendíamos a necessidade de conviver. Ou seja, há mais de 20 anos estendemos nossa mão aos vizinhos israelenses. Não queremos viver para sempre fora do nosso país, queremos voltar.
Folha - Quando haverá um Estado palestino?
Abbas -
Espero que em maio de 1999, como prevêem os acordos de paz assinados em 1993. Esse Estado deve ser o resultado de nossas negociações com os israelenses, temos apenas de exercer nosso direito a contar com um país. E concordamos com as fronteiras atuais, ou seja, um Estado palestino em Gaza e Cisjordânia, ao lado de Israel.



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