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Ensaio olímpico
Pan de 2007 pode alçar Rio à Olimpíada de 2016, diz organizador dos Jogos que deram prejuízo recorde
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MONTRÉAL
Um ensaio. É assim
que o Pan-Americano deve ser encarado pelos brasileiros.
Quem dá a receita é Walter
Sieber, vice-presidente do Comitê Olímpico do Canadá,
membro da comissão de Olimpíadas do comitê internacional
e diretor de esportes dos Jogos
de Montréal, em 1976.
"Acho que o Rio tem tudo para fazer o melhor Pan da história, o que seria fundamental e o
último passo para que o Brasil
receba uma Olimpíada", disse
Sieber em entrevista à Folha.
"É fato que os Jogos irão para a América do Sul em breve. E
não acredito que outro país da
região tenha tamanha possibilidade como o Brasil", falou.
Sieber tem experiência no
tema. Ele esteve no comitê que
escolheu Londres sede do
evento de 2012 e, conseqüentemente, eliminou o Rio de Janeiro na fase prévia das candidaturas. "Na ocasião, não havia
nada que pudesse ser feito."
A escolha para a sede dos Jogos de 2016 acontece em outubro de 2009, mas um primeiro
corte será feito ano que vem.
"Como estou constantemente ligado nesse assunto, sei como as coisas estão se desenvolvendo no Rio agora. Posso dizer com tranqüilidade que será
o melhor Pan que já vi."
Ele aponta o calcanhar-de-aquiles do evento. "Se o sistema de transporte e o trânsito
funcionarem, o Rio estará em
uma posição excelente."
A experiência de Sieber, porém, alerta para um problema
que ocorreu com Montréal e
que já virou quase regra entre
as cidades que abrigam Olimpíadas. Os altos custos, que aumentam impostos para a população e os "elefantes brancos",
arenas que depois do fim do
evento ficam sem utilidade.
Apesar de estar bem integrado à cidade, o Parque Olímpico
de Montréal hoje é uma área
com bem menos uso do que se
esperava na época dos Jogos.
"Quando resolvemos construir o estádio Olímpico, tínhamos uma equipe de beisebol, os
Expos, que nos garantia cerca
de 80 jogos por ano. Tínhamos
também um time de futebol,
com mais 15 ou 20 partidas e
ainda havia o futebol canadense", explicou Sieber.
"Isso nos garantia uma média de 150 dias com o estádio
ocupado, o que em 1976 parecia um número bem razoável."
Hoje, contudo, a realidade é
bem distinta. Todos os times
deixaram o estádio, e poucas
partidas são realizadas no local
a cada ano. O que era para ser
uma arena esportiva virou apenas ponto turístico, onde o visitante paga 8 dólares canadenses (cerca de R$ 17) para poder
conhecer as instalações.
O local também recebe competições bem esporádicas.
A partir do dia 30, por exemplo, acontecem em Montréal
algumas partidas do Mundial
sub-20, organizado pela Fifa. A
cidade abrigará dois dos três
jogos da seleção brasileira na
primeira fase do campeonato.
Outra arena que teve seu uso
modificado foi o velódromo.
Localizada a alguns metros
do estádio, a estrutura, cuja
aparência permanece moderna
até hoje, agora dá lugar ao Biodôme, uma espécie de "museu
vivo", onde os visitantes podem percorrer os quatro ecossistemas existentes na América. Além de ver animais e plantas, é possível também experimentar o clima desses locais.
Algumas outras instalações
construídas para os Jogos de
1976, como os centros de tiro e
tiro com arco, hoje estão completamente abandonadas e
sem nenhum tipo de uso.
Mas há arenas que são aproveitadas até hoje, não só para
eventos internacionais como
pela população local. É o caso
do complexo aquático, também
localizado no Parque Olímpico.
As piscinas podem ser usadas por qualquer pessoa que
pague uma taxa. No dia em que
a Folha foi ao local, a piscina de
saltos ornamentais estava ocupada por um grupo de idosos,
que fazia hidroginástica.
À exceção de uma das piscinas, todas estavam cheias e
com diversos tipos de atividades. As arquibancadas também
são usadas por habitantes de
Montréal para se exercitarem.
Esse, aliás, é um dos maiores
legados da Olimpíada. "Claro
que ganhamos com o metrô, a
construção de mais estradas e
novas arenas esportivas, mas
acho que o aspecto mais positivo dos Jogos foi o fato de as
pessoas "normais" passarem a
se exercitar mais", declarou.
"Além disso a população, que
só conhecia esportes como beisebol, futebol e basquete, passou a saber sobre ginástica, natação. Enfim, uma série de modalidades que era desconhecida da maioria", completou ele.
Mas não foi só esse o legado
que aqueles Jogos deixaram
para a cidade. A dívida do evento só foi quitada no ano passado, 30 anos após a competição.
"Infelizmente a dívida acabou sendo a história dos Jogos
de Montréal. Tínhamos dois
orçamentos. Um de capitalização, usado para as construções,
e outro de organização. O custo
da construção do estádio foi
responsável pelo déficit, apesar
de a parte organizacional ter sido lucrativa", conta o dirigente.
E, assim como o dirigente diz
que o Pan do Rio servirá como
um grande ensaio para um dia
receber uma Olimpíada, Montréal passou a abrigar uma série dos mais variados grandes
eventos depois da experiência.
Eles vão desde Mundiais de
natação, ginástica, boxe e a maratona internacional da cidade
como alguns menos ligados à
Olimpíada, como a etapa do
Mundial de F-1 e os Festivais
de Jazz e de Cinema.
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