São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Ensaio olímpico

Pan de 2007 pode alçar Rio à Olimpíada de 2016, diz organizador dos Jogos que deram prejuízo recorde

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MONTRÉAL

Um ensaio. É assim que o Pan-Americano deve ser encarado pelos brasileiros.
Quem dá a receita é Walter Sieber, vice-presidente do Comitê Olímpico do Canadá, membro da comissão de Olimpíadas do comitê internacional e diretor de esportes dos Jogos de Montréal, em 1976.
"Acho que o Rio tem tudo para fazer o melhor Pan da história, o que seria fundamental e o último passo para que o Brasil receba uma Olimpíada", disse Sieber em entrevista à Folha.
"É fato que os Jogos irão para a América do Sul em breve. E não acredito que outro país da região tenha tamanha possibilidade como o Brasil", falou.
Sieber tem experiência no tema. Ele esteve no comitê que escolheu Londres sede do evento de 2012 e, conseqüentemente, eliminou o Rio de Janeiro na fase prévia das candidaturas. "Na ocasião, não havia nada que pudesse ser feito."
A escolha para a sede dos Jogos de 2016 acontece em outubro de 2009, mas um primeiro corte será feito ano que vem.
"Como estou constantemente ligado nesse assunto, sei como as coisas estão se desenvolvendo no Rio agora. Posso dizer com tranqüilidade que será o melhor Pan que já vi."
Ele aponta o calcanhar-de-aquiles do evento. "Se o sistema de transporte e o trânsito funcionarem, o Rio estará em uma posição excelente."
A experiência de Sieber, porém, alerta para um problema que ocorreu com Montréal e que já virou quase regra entre as cidades que abrigam Olimpíadas. Os altos custos, que aumentam impostos para a população e os "elefantes brancos", arenas que depois do fim do evento ficam sem utilidade.
Apesar de estar bem integrado à cidade, o Parque Olímpico de Montréal hoje é uma área com bem menos uso do que se esperava na época dos Jogos.
"Quando resolvemos construir o estádio Olímpico, tínhamos uma equipe de beisebol, os Expos, que nos garantia cerca de 80 jogos por ano. Tínhamos também um time de futebol, com mais 15 ou 20 partidas e ainda havia o futebol canadense", explicou Sieber.
"Isso nos garantia uma média de 150 dias com o estádio ocupado, o que em 1976 parecia um número bem razoável."
Hoje, contudo, a realidade é bem distinta. Todos os times deixaram o estádio, e poucas partidas são realizadas no local a cada ano. O que era para ser uma arena esportiva virou apenas ponto turístico, onde o visitante paga 8 dólares canadenses (cerca de R$ 17) para poder conhecer as instalações.
O local também recebe competições bem esporádicas.
A partir do dia 30, por exemplo, acontecem em Montréal algumas partidas do Mundial sub-20, organizado pela Fifa. A cidade abrigará dois dos três jogos da seleção brasileira na primeira fase do campeonato.
Outra arena que teve seu uso modificado foi o velódromo.
Localizada a alguns metros do estádio, a estrutura, cuja aparência permanece moderna até hoje, agora dá lugar ao Biodôme, uma espécie de "museu vivo", onde os visitantes podem percorrer os quatro ecossistemas existentes na América. Além de ver animais e plantas, é possível também experimentar o clima desses locais.
Algumas outras instalações construídas para os Jogos de 1976, como os centros de tiro e tiro com arco, hoje estão completamente abandonadas e sem nenhum tipo de uso.
Mas há arenas que são aproveitadas até hoje, não só para eventos internacionais como pela população local. É o caso do complexo aquático, também localizado no Parque Olímpico.
As piscinas podem ser usadas por qualquer pessoa que pague uma taxa. No dia em que a Folha foi ao local, a piscina de saltos ornamentais estava ocupada por um grupo de idosos, que fazia hidroginástica.
À exceção de uma das piscinas, todas estavam cheias e com diversos tipos de atividades. As arquibancadas também são usadas por habitantes de Montréal para se exercitarem.
Esse, aliás, é um dos maiores legados da Olimpíada. "Claro que ganhamos com o metrô, a construção de mais estradas e novas arenas esportivas, mas acho que o aspecto mais positivo dos Jogos foi o fato de as pessoas "normais" passarem a se exercitar mais", declarou.
"Além disso a população, que só conhecia esportes como beisebol, futebol e basquete, passou a saber sobre ginástica, natação. Enfim, uma série de modalidades que era desconhecida da maioria", completou ele.
Mas não foi só esse o legado que aqueles Jogos deixaram para a cidade. A dívida do evento só foi quitada no ano passado, 30 anos após a competição.
"Infelizmente a dívida acabou sendo a história dos Jogos de Montréal. Tínhamos dois orçamentos. Um de capitalização, usado para as construções, e outro de organização. O custo da construção do estádio foi responsável pelo déficit, apesar de a parte organizacional ter sido lucrativa", conta o dirigente.
E, assim como o dirigente diz que o Pan do Rio servirá como um grande ensaio para um dia receber uma Olimpíada, Montréal passou a abrigar uma série dos mais variados grandes eventos depois da experiência.
Eles vão desde Mundiais de natação, ginástica, boxe e a maratona internacional da cidade como alguns menos ligados à Olimpíada, como a etapa do Mundial de F-1 e os Festivais de Jazz e de Cinema.


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