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Outros Pans - O primeiro - Buenos Aires - 1951
Das 12 cidades que já sediaram Pans,
algumas aproveitaram o evento para colher
frutos e outras desperdiçaram a chance;
a Folha destaca quatro experiências
Perón usou Jogos como propaganda política, mas país esqueceu arenas
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A realização do 1º
Pan, na Argentina,
não foi idéia de
Juan Domingo Perón. Mas o presidente soube explorá-lo em seu
projeto populista, fazendo dele
a sua Olimpíada de 1936.
Diferentemente do nazismo
de Hitler, porém, ele não queria provar a supremacia da "raça argentina", mas mostrar os
benefícios de leis de incentivo
ao esporte. Perón assumiu a
presidência em 1946 e em 1951
era candidato à reeleição -que
acabaria obtendo. A decisão de
que o Pan fosse em Buenos Aires fora tomada em 1940. Após
vários adiamentos, os Jogos foram programados para 1951.
Perón não poupou verba para que o Pan divulgasse o regime. O estádio onde foi inaugurada a competição -chamado
Juan Domingo Perón- foi presente do governo federal ao Racing, bicampeão argentino.
Também foram remodeladas
dez instalações esportivas, entre elas o estádio Monumental
de Nuñez, onde ocorreu a festa
de encerramento. E foi construído o Velódromo Municipal.
O Pan foi o ápice propagandístico de um ambicioso projeto lançado pelo governo Perón
em 1947 -o de chegar a 5 milhões de esportistas em uma
população então de 16 milhões.
O maior incentivo para atingir a meta era a Lei da Licença
Esportiva -os trabalhadores
podiam treinar durante o expediente, num tempo em que o
esporte ainda era amador.
A meta dos 5 milhões de esportistas foi atingida em 1954.
O feito é ainda maior se considerado que hoje não chega a
um milhão o número de atletas
federados -em uma população
de 39 milhões de pessoas.
Incentivo
Perón não incentivava os
atletas só com leis, mas também com palavras. Os atletas
locais receberam carta do presidente antes do Pan: "Em você
estarão postos os olhos e corações de todos os argentinos e de
você depende sua alegria, sua
satisfação ou sua tristeza".
Os incentivos de Perón renderam frutos à Argentina. Pela
única vez nos Jogos, o país liderou o quadro de medalhas: ganhou 150 contra 95 dos EUA.
"O peronismo não inventou o
esporte na Argentina. O que fez
foi dar mais tempo livre ao povo para a prática esportiva.
Além disso, todas as escolas
construídas no período tinham
um ginásio", conta Victor Lupo,
autor do livro "História Política
do Esporte Argentino".
Evita
A primeira-dama Eva Perón,
face mais conhecida do populismo de seu marido, também
teve protagonismo no Pan.
Para alojar as atletas do Pan
-homens e mulheres tiveram
alojamentos separados-, Evita
cedeu os Lares de Trânsito,
construídos por sua fundação
para abrigar mulheres chegadas do interior a Buenos Aires
que não tinham onde morar.
Coube a ela fazer o discurso
de encerramento dos Jogos,
dando tom político ao evento.
"Até sempre! Porque adoraríamos voltar a recebê-los na nova
Argentina de Perón, florescida
pelo justicialismo que redime
seus filhos, e sabe honrar e
amar aos homens, às mulheres
e às crianças de uma América
com povos sem fronteiras."
Evita e Perón, além disso, foram presidentes honorários do
Comitê Organizador dos Jogos,
que teve como presidente-executivo o então chefe da Suprema Corte, Rodolfo Valenzuela.
"O Pan não foi esportivo, foi
um evento de estratégia política. E nesse sentido foi muito
bem-sucedido", resume Lupo.
Esquecimento
Se foi um sucesso na época, o
Pan não sobreviveu à passagem
do tempo, como fizeram Perón
e Evita, até hoje maiores figuras
políticas argentinas, inspiradores de discursos de políticos.
Em 1995, quando a Argentina
voltou a sediar um Pan, preferiu fazê-lo em Mar del Plata,
perdendo a chance de reaproveitar as instalações esportivas
que o Pan legou à capital.
No ano seguinte, porém, concorreu à Olimpíada de 2004
elegendo Buenos Aires como
candidata. Perdeu para Atenas.
Um dos projetos defendidos
pelo então presidente Carlos
Menem, contudo, era herança
do Pan-51: o corredor olímpico.
Ou seja, o fato de os locais de
competição estarem todos à
margem da cidade, na fronteira
com a Província, o que evitaria
que os atletas e espectadores tivessem que enfrentar o trânsito da cidade para se deslocar
entre os locais de competição.
O esquecimento do Pan pode
ser refletido no descaso vivido
pelo Velódromo Municipal.
Maior obra construída exclusivamente para os Jogos, teve
competições até os anos 90.
Em 1997, o então prefeito
Fernando de la Rúa cassou concessão que permitia a uma empresa privada explorar o local.
Desde então, não houve eventos, e o velódromo é hoje uma
estrutura abandonada no meio
dos parques de Palermo.
O antigo Lar de Trânsito nº
2, um dos que abrigaram atletas durante o evento, é hoje o
Museu Evita. No local, uma exposição narra a história da primeira-dama e do local -mas
não faz referência ao Pan.
Inaugurado em 1950 e usado
pelo Racing desde antes do
Pan, o Estádio Perón permanece de pé, mas só tem capacidade para 55 mil espectadores,
contra 100 mil na época de sua
inauguração. Nele, nem o Pan
nem Perón costumam ser lembrados: os torcedores do Racing se referem ao campo simplesmente como o "Cilindro".
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