São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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O último - Santo Domingo - 2003

Pan teve falhas, mas país sediou 6 Mundiais desde então

DA SUCURSAL DO RIO

"Basta dividir pelo nosso preço para saber quantos conseguiríamos organizar por este orçamento de vocês. Numa conta rápida, faríamos mais umas dez edições", afirma, em tom de ironia, José Joaquín Puello, ex-presidente do Comitê Organizador do Pan de Santo Domingo, em 2003, ao saber o custo do evento brasileiro.
Os Jogos do Rio vão sair para os cofres públicos (federal, estadual e municipal) por ao menos R$ 3,7 bilhões (US$ 1,9 bilhão). Última edição da competição, o Pan da República Dominicana custou cerca de US$ 135 milhões (75% bancado pelo governo) ao país caribenho.
Criticado por dirigentes e políticos brasileiros como exemplo de desorganização, o evento serviu para desenvolver o esporte no país. ""Desde então, já recebemos seis mundiais em instalações construídas e crescemos em esportes que praticamente não existiam no país até 2003", diz Puello.
Em 2006, a seleção dominicana conseguiu classificação para o Mundial de handebol. Outra novidade foi o país ter um atleta campeão mundial de tiro com arco após o Pan.
Com orçamento bem menor que o brasileiro, a República Dominicana foi transformada num canteiro de obras para receber o evento. Quatro estádios de futebol, um complexo de tênis, outro de natação, arenas de vôlei, tiro com arco, tiro esportivo e handebol foram construídas. Fora isto, o Estádio Olímpico foi remodelado.
""No sentido geral, tivemos um saldo positivo para um país pequeno e pobre. Crescemos no esporte e ganhamos novas instalações", conta o dirigente.
Apesar do discurso oficial, o Pan-03 protagonizou uma série de problemas, como superlotação, invasão de quadras, ameaça de greve de juízes e torcedores armados nas arenas.
""O importante é que não houve nenhuma tragédia. E basta perguntar a qualquer atleta que esteve aqui se a hospedagem na Vila, a comida, os estádios e o nível das competições não foram bons",diz.
Mesmo com o legado aprovado por dirigentes, o Pan gerou protesto entre a população do país, que contava com 8,5 milhões de habitantes em 2003. Desses, 25% viviam abaixo da linha de pobreza -sobrevivendo com menos de US$ 1 por dia.
O padre Rogelio Cruz era uma das figuras mais temidas pelos organizadores. Com dois latões enferrujados, que batizou de ""tocha da fome", ele percorria Santo Domingo protestando. Alegava que os Jogos escondiam as falcatruas políticas e a pobreza do povo.
""A população é miserável. O país está à beira de uma eclosão social e o Pan é um evento só para os poderosos", dizia o padre, que percorreu bairros carentes da cidade durante os Jogos promovendo protestos.
Os brasileiros também criticaram os dominicanos. Dirigentes do Co-Rio (comitê organizador do Pan-07) deixaram o país dizendo que pretendiam fazer tudo diferente -do esquema de segurança ao plano de captação de recursos ou ao prazo de conclusão das obras.
Mas a realidade é diferente. Um mês antes do início do Pan, nenhuma arena estava pronta no Rio e todos os equipamentos do esquema de segurança não haviam sido entregues.
""Apesar de todas as críticas que recebemos, principalmente da Organização Desportiva Pan-Americana [entidade que controla os Jogos], mostramos que um país menor também pode promover a competição", comenta Puello, que é integrante da Comissão Médica do COI (Comitê Olímpico Internacional). (SÉRGIO RANGEL)


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