São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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Nova geração abandona o "berço"

Filhos e netos de imigrantes procuram novos ramos profissionais e preferem outros bairros da cidade para morar

DE SÃO PAULO

Os avós eram imigrantes, construíram vida e família em São Paulo, mas os netos não querem saber de continuar a saga.
É um problema comum a árabes, judeus, coreanos e japoneses: a terceira geração não tem interesse em continuar os negócios da família.
Eles agora são médicos, engenheiros, advogados, empresários de outro ramo. E saíram do bairro original, onde seus avós se estabeleceram morando, inicialmente, em cortiços e porões.
A terceira geração de japoneses, que fizeram da Liberdade um bairro típico oriental, agora prefere regiões próximas, como Vila Mariana e Aclimação, onde os imóveis são mais valorizados.
Os judeus, antes típicos do Bom Retiro, também seguiram o caminho da valorização imobiliária e partiram para bairros como Higienópolis e Aclimação. A terceira geração agora segue rumo ao Morumbi, ocupando bairros como Perdizes e Pinheiros.
Os coreanos, que ao chegarem ao Brasil optaram pela Liberdade -onde suas feições orientais eram menos notadas-, foram trabalhar nas confecções fundadas pelos judeus no Bom Retiro. Ganharam dinheiro e também seguiram para Higienópolis e Aclimação.
"Agora, os mais velhos estão voltando ao Bom Retiro, porque lá estão os hospitais e restaurantes coreanos. E eles estão com o mesmo problema dos judeus: a nova geração não quer mais ficar no ramo de confecção", diz Sênia Bastos, professora da Universidade Anhembi-Morumbi, doutora em história e estudiosa das migrações internas em São Paulo.
Além da volta de parte dos coreanos, quem começa a se destacar são os bolivianos, que vieram trabalhar como funcionários nas confecções da região do Bom Retiro.
Os árabes, especialmente sírios e libaneses, que fizeram fortuna na Sé, principalmente na região da rua 25 de Março, agora também prefere regiões valorizadas, como Jardins e Pacaembu. Mas, diferentemente dos demais, seus filhos e netos continuam tocando os negócios.
Sênia Bastos explica que os árabes costumam, ainda hoje, se casar dentro de sua própria etnia, mantendo assim as tradições.
Do estacionamento que mantém nas proximidades da rua 25 de Março, Munir Mitre, 66, viu o bairro se transformar. Como boa parte dos imigrantes sírios, seus pais se estabeleceram na região, no início do século 20. "Aqui, era como se fosse todo mundo parente, eu ia pra escola de bonde e meu pai fazia compras todo dia no Mercado Municipal", lembra Mitre, que há 36 anos se mudou para o Paraíso.


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