São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Sociedade

Jovem se organiza na igreja

PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS BATE DE LONGE A REUNIÃO EM GRUPOS POLÍTICOS

[Por Juliana Lugão, Colaboração para a Folha]

O som ensurdecedor dos acordes da guitarra era acompanhado pelas cabeças que balançavam ao mesmo ritmo das batidas do baterista e de uma letra que não se entendia muito bem. A cada intervalo da música, uma mensagem de amor a Jesus Cristo. A noite se estenderia madrugada adentro, com poucas variações entre os shows do Crash Social Concert, organizado por membros da Crash Church.
Talita Floriano, 18, não estava lá por causa da música -ela prefere hard rock dos anos 1980-, mas porque se sente bem no meio daquela galera. Ela faz parte dos 39% de jovens que declararam se organizarem em igrejas, segundo a pesquisa Datafolha.
Na "Crash", Talita pode se vestir como gosta. Filha de fundadores de uma igreja batista, ela está cada vez mais próxima do ministério underground e tem o sonho de ter uma loja na Galeria do Rock. Uma loja evangélica.
Diferentemente dos membros da Crash Church, que acreditam que Jesus era underground e se vestem, em sua maioria, com roupas pretas e soturnas, na Bola de Neve Church os meninos aparecem de bermuda florida, as meninas com vestidinhos e o pastor de topete. No templo, fotografias de surfistas num tubo não fazem parte de um conceito religioso: é apenas questão estética.
A adesão é tanta que a fila na porta da sede da "Bola", em Perdizes, São Paulo, chega à rua no intervalo entre cultos aos domingos. Ao entrar no templo, vê-se um auditório para cerca de 2.000 pessoas e uma prancha de surfe no lugar do altar -uma alusão ao início dessa congregação religiosa, que começou dentro de uma loja de "surfwear".
Depois de uma oração fervorosa, com rostos apertados, olhos de sofrimento e uma salva de palmas -para Jesus-, luzes são diminuídas e um set de cinco músicas, com direito a performance de dança, inicia o culto. As músicas têm melodia fácil e as letras de louvor a Cristo aparecem no telão para que até quem está lá pela primeira vez possa cantar junto.
A Bola de Neve Church, segundo o pastor do culto do domingo, começou como uma igreja 100% jovem e hoje é "só 70%". Muitos jovens acabaram levando os pais.
Talita Floriano, meio batista renovada, meio underground, vê a diversidade de cultos com bons olhos. "É necessário que haja essa diversificação para que cada um se sinta bem." Manuel Rodrigues de Souza Jr., professor de crisma na paróquia de São Judas, percebe que os jovens vão à igreja com mais vontade.
Segundo o professor, na época em que começou a formar crismandos, a procura era maior. Mas quase todos iam para cumprir uma obrigação. Hoje, ele diz notar menos jovens que estão ali por determinação dos pais.
Em um retiro dominical na chácara da própria paróquia, a maioria estava lá por determinação familiar, mas todos pareciam bem à vontade com os amigos que encontraram ali, com as paqueras que começavam e os temas discutidos.
É o caso de Guilherme Fiorentini, 16. Por sugestão dos pais, ele entrou junto com sua irmã, Mariana, 13, para as aulas que os preparariam para a crisma. Falante e combativo, Guilherme sempre coloca seu ponto de vista nas conversas.
Seu maior sonho é ter uma ONG que ajude as pessoas que não têm educação. Fã de Raul Seixas, tem medo de que o mundo se transforme em um grande parque de concreto, sem áreas naturais. Nada de muito diferente da maioria dos jovens -por mais que ele não acredite nisso.
O padre Darcy Augusto, que foi ao festival de música eletrônica Skol Beats em 2006 a convite da Folha e declarou que Deus estava lá, afi rma que a Igreja Católica já consegue manter os jovens fiéis. O desafio, acredita ele, é fazer com que eles venham até ela. Falta inventar a igreja do eletrônico?


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