São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002 |
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BRASIL 50 Mentira eterna
Uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade. A máxima de Joseph Goebbels, ministro da Cultura e Propaganda durante o regime nazista na Alemanha, aplica-se muito bem ao que aconteceu com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950. Um suposto tapa na cara, que vítima e agressor negam ter ocorrido, deixou por muito tempo o futebol brasileiro com fama de covarde e perdedor. O fato aconteceu justo na primeira vez em que o Brasil chegava à decisão de um Mundial. Jogando em casa, o time nacional fazia uma campanha excepcional. Em cinco jogos, havia marcado 21 gols, a melhor marca de toda a sua história em uma só Copa, e sofrido apenas quatro. Assim, no dia 16 de julho de 1950, entrou em campo precisando apenas de um empate contra o Uruguai para levantar a taça. Em um Maracanã com quase 200 mil pagantes, uma trágica derrota de 2 a 1 criou o "mito do tapa", que teria sido um dos motivos do fracasso -o outro seria o desempenho do goleiro Barbosa. Como protagonistas, Obdulio Varela, o mais famoso jogador uruguaio de todos os tempos, e um esforçado defensor brasileiro que atuava pelo Flamengo. Diz a lenda que Varela, conhecido no seu país como "Negro Jefe" (Chefe Negro), teria intimidado a equipe brasileira ao dar um tapa no rosto do flamenguista -humilhação suprema para um homem naquela época. Num tempo em que a televisão engatinhava, tampouco os fotógrafos conseguiram registraram tal espisódio. Não importou. Depois de Gigghia marcar o gol da vitória com uma jogada em cima do "agredido", o tapa de Varela virou sinônimo de brio e passou a ser considerado fator fundamental na vitória uruguaia. Logo depois, o brasileiro fez de tudo para desmentir o ocorrido, mas seu trabalho foi em vão. "Foi por causa do veneno dos jornalistas. Eles criaram a mentira", afirmou o brasileiro à Folha em 2000, no aniversário de 50 anos do episódio que ficou conhecido como "Maracanazo". Assim como a versão do "humilhado" foi recusada por um povo magoado com a derrota, as palavras de Varela também nunca foram levadas a sério. Anos depois daquele dia, o uruguaio -então famoso líder sindical em seu país- negou com veemência ter dado qualquer tapa no adversário brasileiro. Não adiantou. Tanto tempo depois, Bigode, 80, não esconde a revolta por ter sido acusado de algo que ele e Varela insistem em dizer que não aconteceu. "Não tenho mágoa, mas fui massacrado", chegou a afirmar no aniversário de 50 anos da página mais triste da história da seleção brasileira. Texto Anterior: França 38: Além do limite Próximo Texto: Suíça 54: Batida dupla Índice |
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