São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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SUÉCIA 58

Dedo da patroa

Reprodução
Meio-campista do Brasil campeão do mundo em 1958 com a sua mulher, Guiomar, ao fundo



Astro do primeiro título da seleção supera saudade da mulher e lidera time na virada sobre a Suécia na final


Uma história de amor ajudou a seleção brasileira a conquistar seu primeiro título mundial.
Por trás do líder da equipe que se sagraria campeã na Suécia, em 1958, estava uma mulher ciumenta e apaixonada, que enfrentava dirigentes, negociava contratos e que acabou tendo papel decisivo na transformação do marido em um jogador confiante como poucos na história.
Uma cena da final do Mundial contra os donos da casa ilustra bem a postura desse homem em campo. Logo no início da partida, o atacante Liedholm abria o placar para a Suécia.
Ignorando o fantasma da derrota para o Uruguai em 1950 que teimava em assombrar a seleção, o "Príncipe Etíope" -apelido dado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues- apanhou a bola no fundo do gol e a carregou lentamente para o meio do campo. No caminho, deu o seguinte recado aos companheiros: "Esses gringos não são de nada. Cansei de ganhar deles jogando pelo Fluminense e pelo Botafogo".
Era a senha para a reação brasileira. Ao final do primeiro tempo, o time já vencia por 2 a 1. Depois, não teve dificuldades para fechar o placar em 5 a 2.
Antes da decisão, o homem apaixonado também já havia mostrado a sua força em decisões. Nas semifinais, contra a França, marcara um gol. Além disso, foi um dos principais articuladores da pressão feita para que o técnico Vicente Feola colocasse Garrincha e Pelé na equipe.
Mas o meia que tranquilizou o time e municiou os companheiros com passes precisos naquela final poderia ter renegado toda a fama e glória por amor. "Se ela tivesse pedido, garanto, eu não teria ido para a Suécia." Para alívio dos torcedores brasileiros da época, ela não pediu.
"Ela", no caso, era "dona" Guiomar, famosa atriz de rádio e pioneira da TV brasileira, que mudaria para sempre a figura da mulher de um jogador de futebol.
De personalidade forte, decidia praticamente tudo que era relacionado ao seu marido fora do campo. Para isso, tinha até uma coluna em um jornal da época na qual atacava dirigentes sem piedade. Também é atribuída a ela a responsabilidade pelas desavenças entre o inventor da "folha-seca" e Puskas quando ambos jogavam no Real Madrid.
Em troca de tanta dedicação, o meia-direita da seleção na Suécia sempre priorizava a mulher.
Um dos motivos que o levaram a trocar o Fluminense pelo Botafogo, por exemplo, teria sido uma norma baixada pela diretoria tricolor que o impedia de ligar para a mulher da sede do clube.
Na seleção, não escondia sua paixão. No Mundial da Suíça, em 1954, depois de muito chorar na concentração, mandou buscar Guiomar no Brasil, pagando todas as despesas.
Depois, na campanha da Suécia, chegou a anunciar uma greve de fome em protesto contra a proibição de visitas de familiares à concentração brasileira.
A história de amor de Didi, um dos mais elegantes atletas de todos os tempos, e Guiomar resistiu ao fim da fama. Eles ficaram casados por 50 anos. Em 2001, 38 dias depois de o marido morrer, ela não resistiu à dor e também se foi.



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