São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002 |
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INGLATERRA 66 'Bestial' e 'besta'
Na sua primeira Copa do Mundo, em 1958, ele foi "bestial". Na segunda, em 1966, contudo, passou a ser uma "besta", seguindo à risca a definição do treinador Oto Glória (que dirigiu a seleção portuguesa na mesma competição) para a corda bamba em que vivem os técnicos de futebol. Foi no Mundial da Inglaterra que, pela primeira vez, um treinador foi apontado como o grande responsável pelo fracasso do Brasil. Depois disso, virou moda. Antes não era bem assim. Em 1950, por exemplo, no famoso "Maracanazo", a derrota para o Uruguai foi creditada principalmente ao goleiro Barbosa e ao zagueiro Bigode. Pouca gente se lembra do técnico Flávio Costa. Nos campos ingleses, um homem que tinha sido alçado à condição de herói oito anos antes, acabou sendo crucificado. O que antes era qualidade, virou defeito. O estilo bonachão, capaz de garantir a amizade dos jogadores, teria se transformado em "porta de entrada" para a falta de comando e indisciplina. A fama de dormir durante os jogos -o que, na Suécia, teria permitido que os jogadores se soltassem mais em campo- virou motivo de piada na Inglaterra. Para que a situação chegasse a esse ponto, também foi protagonista da mais tumultuada preparação de uma seleção brasileira rumo a uma Copa do Mundo. Para ter uma idéia da confusão, até bem pouco tempo antes do início da competição o grupo tinha nada menos do que 44 jogadores divididos em quatro equipes -uma para cada cor da bandeira nacional. Tamanha indefinição chegou a irritar os militares já instalados no governo federal. Peracchi Barcelos, então ministro do Trabalho do presidente Castelo Branco, não escondia sua insatisfação com o técnico. "Ele não tem físico nem competência para treinar a seleção nacional. Deveríamos cassá-lo", chegaria a dizer. Outro atrito aconteceu com João Havelange, então presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportes). O dirigente, que quase nunca se metia em assuntos técnicos, reclamou da inclusão de Zito, veterano das campanhas na Suécia e no Chile, no grupo final. Apesar da fama de bonachão, o treinador não hesitou em responder com dureza ao cartola, deixando claro que não iria aceitar interferências no seu trabalho. "Presidente, qual é a situação financeira da CBD?", provocou, fazendo com que Havelange se afastasse das decisões esportivas. A indefinição, no entanto, custaria caro à seleção brasileira. Mesclando veteranos e revelações, o time foi um fracasso na Inglaterra. Derrotado por Hungria e Portugal, acabou eliminado logo na primeira fase do Mundial. As incertezas do período de preparação se repetiram no Copa, com o Brasil iniciando cada partida com uma escalação diferente. Dos 22 convocados, 20 disputaram pelo menos um confronto. Ao final do torneio, Vicente Feola, o primeiro técnico brasileiro campeão mundial, era considerado o vilão e reponsável pela desclassificação. Para fugir das críticas, permaneceu por um tempo na Europa e chegou a trabalhar no Peru. Era o fim de uma parceria de 17 anos com a seleção. Texto Anterior: Chile 62: Cartola craque Próximo Texto: México 70: Obrigado, doutor Índice |
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