São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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ALEMANHA 74

Marca da vaidade


Briga no vestiário envolvendo goleiro acelera despedida de uma seleção conhecida pelo descontrole emocional


A "família" de Zagallo na Copa de 1974 em nada se parecia com o ideal de conduta pregado hoje pelo técnico Luiz Felipe Scolari.
Pelo menos dois episódios graves de indisciplina abalaram a campanha da seleção brasileira naquele Mundial, realizado na então Alemanha Ocidental, e revelaram que a união não era bem o ponto forte daquele time.
O primeiro deles, durante a derrota contra a Holanda, revelou ao Brasil, simultaneamente, o surgimento de uma nova força do futebol -apelidada de "Carrossel Holandês"- e o temperamento explosivo de parte da equipe.
A troca de olhares antes do embate contra a sensação da Copa já começou no aquecimento. Brasileiros e holandeses se preparavam separados uns dos outros apenas por uma grade para entrar em campo no dia 3 de julho de 1974.
Antes da partida, os brasileiros ostentavam um certo ar de superioridade, característico de um time tricampeão do mundo prestes a enfrentar um selecionado sem tradição em Copas. O então goleiro brasileiro lembra que a turma comandada por Cruyff, Neeskens, Rep e companhia os encarava assustada no breve encontro que antecedeu o desafio.
Até os 20min do primeiro tempo pode-se dizer que a impressão parecia real. Mas o que se viu no final foi o zagueiro Luís Pereira, atormentado pelos 2 a 0 e pelo toque de bola dos europeus, ser expulso após desferir uma cabeçada em um adversário.
Outra briga, no entanto, tornou-se ainda mais famosa em 74, apesar de não ter ocorrido dentro das quatro linhas.
Fora da final, o Brasil encarou a Polônia na disputa pelo terceiro lugar. No intervalo, o goleiro brasileiro teria cobrado com um tapa na cara do lateral Marinho Chagas uma suposta falha no gol do polonês Lato, artilheiro da Copa.
O lateral-esquerdo ainda costuma atribuir o erro no lance ao goleiro, até hoje seu desafeto. Chagas conta que, se não fosse uma saída errada do gol, o polonês não teria êxito na conclusão.
De temperamento forte, e extremamente vaidoso, o goleiro titular em 74 e técnico da seleção após a queda de Wanderley Luxemburgo em 2000, deixa claro o que restou hoje daquele incidente. "O Marinho é um homem que precisa de ajuda, e não de críticas."
De nada adiantou a agressão. Demonstrando o mesmo nervosismo do vestiário, o time brasileiro perdeu a partida e terminou em quarto lugar.
O goleiro do Brasil era um dos poucos remanescentes do elenco tricampeão do mundo em 70. A ausência de tricampeões consagrados como Pelé, Gérson, Tostão e Clodoaldo explica, ao menos em parte, a falta de liderança em 74. Em sete partidas, o técnico Zagal-lo revezou três capitães -Wilson Piazza, Luís Pereira e Marinho Perez- recorde, na época, na história dos Mundiais.
Mas o famoso tapa não impediu que o goleiro Emerson Leão -quatro Copas no currículo- perdesse a pose. Quatro anos depois, em 78, seria ele o escolhido para assumir a faixa de capitão e o papel de líder da equipe.



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