São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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ARGENTINA 78

Moral da Copa


Meio-campo reserva vira destaque ao impor respeito contra a Argentina na imortalizada 'Batalha de Rosário'


O título de "campeão moral" atribuído pelo técnico Cláudio Coutinho ao Brasil após a Copa do Mundo da Argentina, em 78, vai além da invicta campanha da seleção.
Foi também uma das raras passagens na qual o futebol brasileiro superou o argentino no quesito raça. O feito -incomum na história dos confrontos entre as duas equipes- aconteceu naquela que entraria para a história como a "Batalha de Rosário", tamanha tensão e violência presentes no gramado.
Naquele ano, fora a "pegada" comum às seleções platinas, a Argentina era movida por pressão militar. O título mundial inédito daria fôlego ao então decadente regime do general Jorge Videla.
Para encarar essa dura "missão" contra os donos da casa, Coutinho precisou mudar radicalmente as características do Brasil. Trocou o passe de bola elegante de Toninho Cerezo por um meio-campista que compensava a pouca técnica com muito vigor físico.
O escolhido já tinha ganho a preferência de Coutinho antes mesmo do Mundial, na convocação, quando desbancara Falcão, meio-campista de estilo clássico, preferido pela torcida.
Até o jogo com a Argentina, o volante, de 1,83 m e 84 kg, havia entrado em campo no decorrer das vitórias sobre a Áustria, na primeira fase, e o Peru, na segunda. Quando foi avisado pelo técnico de que seria titular pela primeira vez, o jogador entendeu o recado. "Avisei ao Coutinho na véspera: "Não se preocupe com o cartão amarelo. Vou levar um logo no início da partida, mas fico até o fim do jogo'", lembra.
Dito e feito. Seu alvo era Ardil-les, meia de criação do adversário. Em jogada na lateral do campo, fez a falta e recebeu o cartão previsto. Atingido no tornozelo, Ardilles cedeu lugar a Villa, comprometendo sua equipe.
Daí em diante, conta o "xerife" brasileiro, os argentinos passaram a respeitá-lo. "Eles tinham mania de colocar o dedo na cara de todo mundo, mas, depois de umas três chegadas fortes, acabaram se encolhendo."
O apertado estádio do Rosário Central, apinhado com cerca de 37 mil argentinos, era outro fator de intimidação. Ao fim, o esquema adotado pelos brasileiros funcionou, e a seleção nacional saiu do alçapão com um 0 a 0.
Mas o título de campeão "moral" cunhado por Coutinho também se deve aos fatos ocorridos na rodada decisiva da segunda fase, quando o Brasil enfrentaria a Polônia e a Argentina, o Peru. Vencendo seus adversários, os dois decidiriam no saldo de gols quem iria à final com a Holanda.
Uma mudança no horário das partidas deu a Argentina a vantagem de entrar em campo sabendo que precisaria bater os peruanos por 4 a 0. Resultado: Argentina 6 a 0, com atuação suspeita do goleiro peruano Quiroga.
Eliminado no saldo de gols, restou ao Brasil disputar o terceiro lugar com a Itália. Venceu.
Se a colocação não agradou, restou na memória o exemplo de valentia. Apesar da dura missão, Chicão ressalta que entrou "desarmado" em Rosário: preferiu jogar sem as caneleiras, então um acessório opcional.



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