São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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ESPANHA 82

Passe trágico

Antonio Gaudério - 24.mai.93/Folha Imagem
Volante bate bola ao entardecer no centro de treinamento do São Paulo



Erro contra a Itália marca carreira de talentoso meio-campista e inicia a decadência do futebol-arte no Brasil


Pode ter começado com um passe errado em 5 de julho de 1982 a apologia ao futebol de resultados em voga atualmente no Brasil. O tal passe, aos 25min do primeiro tempo da partida entre Brasil e Itália, na Copa da Espanha, simboliza hoje um dos mais trágicos reveses da seleção. Após o tombo, ganhou espaço no país o jargão agora surrado de que o que vale mesmo é ganhar, ainda que jogando "feio". O protagonista da falha -volante titular também na Copa de 78- acabou marcado, visto como culpado pelo segundo gol do atacante Paolo Rossi, autor dos três no triunfo italiano por 3 a 2. Com a bola no campo de defesa, o jogador tentou um despretensioso passe lateral cruzando a área, mas Rossi foi rápido, interceptou a jogada e saiu na frente de Waldir Peres para finalizar. Logo o passe, ponto forte do meio-campista revelado pelo Atlético-MG e que se consagraria campeão da Copa da Itália, pela Sampdoria, e do Mundial Inter-Clubes, pelo São Paulo, em 93. No intervalo do fatídico episódio, com 2 a 1 para a Itália, o meio-campista pôs-se cabisbaixo, lembra hoje o então companheiro Júnior, lateral-esquerdo da equipe que contava ainda com Falcão, Sócrates e Zico no meio-campo. No segundo tempo, após pressão brasileira, Falcão empataria justamente com a ajuda de um corta-luz executado por aquele companheiro abatido pela infelicidade do primeiro tempo. O volante levou a marcação italiana e abriu espaço para Falcão fazer o gol de empate com um chute forte da entrada da área. Ao comemorar, Júnior diz que encontrou o autor do corta-luz aos prantos. "Tive de dar uma sacolejada nele, afinal o jogo não tinha terminado", recorda o lateral. Júnior foi profético. O "Carrasco de Sarriá", como ficou conhecido Rossi, desempataria após falha de marcação, dessa vez de todo o setor defensivo brasileiro. Até então, o Brasil fazia campanha irretocável. Era apontado, principalmente após a vitória por 3 a 1 contra a Argentina, como favorito à conquista do título. Após a partida contra os italianos, não faltaram críticas ao esquema ultra-ofensivo adotado por Telê Santana. Nascia uma preocupação mais acentuada com a marcação. O técnico Carlos Alberto Parreira -que seria campeão do mundo 12 anos depois- é hoje saudado pelo equilíbrio tático de suas equipes. Em 94, contudo, no início da campanha dos EUA, o saudosismo voltaria à tona e a seleção de 82 seria mais uma vez relembrada em oposição ao "futebol de resultados" de Parreira. Além de ter influenciado os esquemas que se seguiriam na seleção, o desastre de Sarriá deixou outra sequela: a extinção do volante criativo que, como Toninho Cerezo, ia além da simples marcação e dos chutões para o alto.



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