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Até agora calada, esquerda do PT reivindica espaço
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Estrategicamente calados até a
eleição, representantes da esquerda do PT prometem iniciar uma
disputa no partido na tentativa de
evitar que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
seja caracterizado pela moderação demonstrada na campanha.
"Ninguém quer atirar pedras,
mas o país está em uma situação
em que não há como ser moderado", afirmou o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, um dos principais líderes da corrente de esquerda Democracia Socialista.
"O PT mudou seu programa e
quebrou a resistência de setores
da burguesia ao Lula. Eleitoralmente, funcionou. Vamos ver como vai ser governando. As pessoas querem paz, mas com melhoria de vida", disse a deputada
federal eleita Luciana Genro (RS).
Integrantes da esquerda petista
pretendem não apenas cobrar de
Lula o cumprimento de questões
programáticas mas também reivindicar participação nas equipes
de transição e de governo.
"Não aceito que o Campo Majoritário [ala moderada da qual fazem parte, entre outros, Lula e o
presidente nacional da sigla, José
Dirceu] indique o governo. O partido quer continuar sendo ouvido", declarou Pont. "O governo
tem de sair de um processo de
maioria e de consenso. O partido
como um todo deve estar no governo e nós somos o partido."
Embora controle apenas cerca
de 30% do Diretório Nacional,
principal órgão decisório do PT, a
esquerda terá seu poder ampliado
no Congresso com o aumento
proporcional e em números absolutos de seus deputados eleitos.
Dos atuais 12 parlamentares, segundo cálculos feitos pelo deputado Luciano Zica (SP), a ala contará agora com 28 representantes
na Câmara dos Deputados, o
equivalente a 31% da bancada, se
contabilizados também os representantes da extrema-esquerda.
"Vamos ter de disputar o rumo
do futuro governo e a posição da
esquerda é importante para fortalecê-lo programaticamente", afirmou Zica. "Vamos puxar o governo para a esquerda. Caso contrário, corremos o risco de fazer algo
convencional. O Campo Majoritário é mais sujeito às pressões e
tem defendido posições menos
mudancistas", completou ele.
O deputado Milton Temer (RJ),
um dos líderes da corrente de esquerda Força Socialista, disse não
acreditar que Lula será moderado, mas avalia que caberá ao PT o
contraponto de esquerda entre as
forças que apoiaram a legenda.
"O PT tem de ser o pólo radical
da frente. O governo não tem de
ser um governo para impor as
bandeiras do PT, mas elas têm de
estar hasteadas e pressionando os
outros da frente para convencê-los do que achamos melhor", declarou. "E a esquerda tem de ser
um problema para os que impuserem moderação ao Lula."
Entre as questões que causarão
polêmica dentro da sigla, está a
anuência do presidente eleito ao
acordo com o FMI. "Temos de
criar um ambiente para que a população entenda que o FMI é um
inimigo", afirmou Genro. "Priorizaremos o acordo, o superávit,
ou as demandas do povo?"
Apesar do tom crítico adotado
desde já, todos são unânimes ao
declarar que os prováveis confrontos internos não inviabilizarão o governo. "Sabemos que,
quando perdermos [internamente], temos que aceitar. Aceitamos
o jogo democrático", disse Zica.
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Reportagem Local
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