São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Eu estava lá

"Era uma geração no ponto para ganhar"
Maria Helena Cardoso


DA REPORTAGEM LOCAL

U ma festa de arromba, como se dizia na época, motivada por duas medalhas de ouro, uma no masculino e outra no feminino. Foi assim a dupla comemoração do basquete nos Jogos Pan-Americanos de Cali, em 1971.
Isso é o que a paulista Maria Helena Cardoso, 67, tem gravado na memória.
"A comemoração conjunta do êxito foi memorável", falou.
Na verdade, Maria Helena chegou ao título do Pan duas vezes: a primeira em Cali, como jogadora, e, 20 anos depois, como técnica da mesma seleção de basquete, em Havana.
Pouco antes do Pan de Cali, a seleção feminina do Brasil tinha conquistado a medalha de bronze no Campeonato Mundial, disputado no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Aquela campanha alavancou a seleção, dirigida pelo técnico Waldir Pagan Peres, para os Jogos na Colômbia.
"Era uma geração no ponto para ganhar. Por pouco não ficamos com o ouro no Mundial e, logo a seguir, fomos para Cali. Foi um só embalo. O Mundial tinha sido muito bom."
No Pan, o Brasil terminou empatado com os EUA (cinco vitórias e uma derrota), em turno completo, mas levou o título por ter superado o rival no confronto direto por 64 a 60.
A seguir, pela ordem, ficaram os times de Cuba, México, Canadá, Equador e Colômbia.
Maria Helena guarda com carinho a medalha de ouro daqueles Jogos na Colômbia.
Mas declara que detalhes da carreira de atleta sumiram da memória. Diferentemente da fase como técnica, mais recente e viva, da qual lembra tudo.
"Olhando fotos daquela época, vejo que a gente usava tênis All Star, de lona, que hoje é moda de passeio. A bola, que no início da carreira era de couro, também mudou", rememora.
Mas ela aponta as condições de preparação das seleções brasileiras como o diferencial, já que na atualidade a estrutura e o apoio são mais requintados.
"Naquela época, a seleção ficava em alojamento e só ia para hotel na semana da estréia. Nos dias de hoje, a estrutura é completa. O apoio é total. O atleta tem ajuda, patrocínio. Na época, cheguei a receber convite para fazer propaganda, mas não podia, era proibido."
O Pan do Rio é oportunidade para que o basquete brasileiro tente recuperar prestígio, superando a queda dos últimos anos. Pouco importa, segundo ela, se países como os EUA não dão tanta importância à competição e virão desfalcados.
"Aumenta a chance de sucesso do Brasil. Mas ainda há dúvida se a nossa seleção também estará completa", disse numa alusão à possível ausência das brasileiras da WNBA, a liga norte-americana profissional.
Em quase toda a carreira, Maria Helena foi escudada pela companheira Maria Helena Campos, a Heleninha.
No primeiro ouro do Pan, como armadora, era Heleninha quem passava muitas bolas para a ala-pivô Maria Helena. Depois, nos Jogos de Cuba, como assistente, ela dividia as responsabilidades com a treinadora na comissão técnica.
Como técnica da seleção, Maria Helena cravou duas proezas: foi a primeira mulher a ocupar o posto e também ajudou a classificar o Brasil pela primeira vez para uma Olimpíada, a de Barcelona, em 1992, 16 anos após a introdução da modalidade nos Jogos, em 1976, em Montréal (Canadá).


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