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Novo governo herdará práticas do "chaguismo"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Podia-se discordar dos
modos e objetivos, mas,
quando Carlos Lacerda combatia João Goulart nos anos
60 ou Leonel Brizola fazia
oposição aos governos federais nas décadas de 80 e 90,
um fato era inegável: os rumos da política nacional passavam pelo Rio de Janeiro.
Apoiado por 89 dos 92 prefeitos e por muitos partidos,
Sérgio Cabral deve herdar
um modelo que vigorou nos
oito anos do casal Garotinho:
programas assistencialistas e
obras conjunturais para municípios, sem projetos de repercussão nacional.
Em vez de Lacerda e Brizola, até hoje lembrados nas
campanhas, o governante
que parece inspirar os administradores atuais é o esquecido Antônio de Pádua Chagas Freitas (1914-1991), que
comandou o cenário estadual entre 1970 e 1982 com a
chamada "política da bica
d'água", base do chaguismo-
quando aliados faziam currais eleitorais colocando bicas onde não havia água.
"Com Lacerda e Negrão de
Lima [governador da Guanabara entre 1965 e 1970], havia uma visão prospectiva, de
fazer projetos para daqui a
40 anos. Com Brizola, havia
uma perspectiva nacional. O
ciclo do Garotinho não teve
um projeto para o Rio. Baseou-se no assistencialismo,
que também era uma marca
de Chagas", avalia o cientista
político Antônio Carlos Alkmin, professor da PUC do
Rio e pesquisador do IBGE.
Alkmin ressalta que, geopoliticamente, o modelo
atual talvez tenha mais ligação com o "amaralismo".
Quando os Estados da Guanabara (cidade do Rio) e do
Rio de Janeiro (os outros
municípios) se fundiram em
1975, Amaral Peixoto (1905-1989) passou a comandar o
MDB interiorano, enquanto
Chagas ficou com a zona metropolitana. "São dois Estados que foram agregados.
Um vota de um jeito e outro,
de outro. E as eleições têm sido decididas fora da capital",
afirma o prefeito do Rio, Cesar Maia, que é forte na capital, mas tem penetração menor no interior -o mesmo
aconteceu com sua candidata, Denise Frossard (PPS).
"É difícil uma candidatura
da capital ser bem-sucedida
nos outros municípios, mas o
contrário não é, porque o Rio
sempre foi uma cidade aberta, por ter sido capital federal", opina o deputado federal Miro Teixeira, nascido no
chaguismo, hoje no PDT.
Para o deputado federal e
historiador Chico Alencar
(PSOL), "a política no Rio está apequenada". Para ele,
Sérgio Cabral, que não
apoiou candidato a presidente no primeiro turno assumindo "neutralidade radical", seria um exemplo. "A
"política da bica d'água" tem
sido vitoriosa, como mostrou
a eleição para a Assembléia
Legislativa. Se tiver dez deputados [em 70] ideológicos,
é muito", diz Alencar.
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