São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Novo governo herdará práticas do "chaguismo"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Podia-se discordar dos modos e objetivos, mas, quando Carlos Lacerda combatia João Goulart nos anos 60 ou Leonel Brizola fazia oposição aos governos federais nas décadas de 80 e 90, um fato era inegável: os rumos da política nacional passavam pelo Rio de Janeiro.
Apoiado por 89 dos 92 prefeitos e por muitos partidos, Sérgio Cabral deve herdar um modelo que vigorou nos oito anos do casal Garotinho: programas assistencialistas e obras conjunturais para municípios, sem projetos de repercussão nacional.
Em vez de Lacerda e Brizola, até hoje lembrados nas campanhas, o governante que parece inspirar os administradores atuais é o esquecido Antônio de Pádua Chagas Freitas (1914-1991), que comandou o cenário estadual entre 1970 e 1982 com a chamada "política da bica d'água", base do chaguismo- quando aliados faziam currais eleitorais colocando bicas onde não havia água.
"Com Lacerda e Negrão de Lima [governador da Guanabara entre 1965 e 1970], havia uma visão prospectiva, de fazer projetos para daqui a 40 anos. Com Brizola, havia uma perspectiva nacional. O ciclo do Garotinho não teve um projeto para o Rio. Baseou-se no assistencialismo, que também era uma marca de Chagas", avalia o cientista político Antônio Carlos Alkmin, professor da PUC do Rio e pesquisador do IBGE.
Alkmin ressalta que, geopoliticamente, o modelo atual talvez tenha mais ligação com o "amaralismo". Quando os Estados da Guanabara (cidade do Rio) e do Rio de Janeiro (os outros municípios) se fundiram em 1975, Amaral Peixoto (1905-1989) passou a comandar o MDB interiorano, enquanto Chagas ficou com a zona metropolitana. "São dois Estados que foram agregados. Um vota de um jeito e outro, de outro. E as eleições têm sido decididas fora da capital", afirma o prefeito do Rio, Cesar Maia, que é forte na capital, mas tem penetração menor no interior -o mesmo aconteceu com sua candidata, Denise Frossard (PPS).
"É difícil uma candidatura da capital ser bem-sucedida nos outros municípios, mas o contrário não é, porque o Rio sempre foi uma cidade aberta, por ter sido capital federal", opina o deputado federal Miro Teixeira, nascido no chaguismo, hoje no PDT.
Para o deputado federal e historiador Chico Alencar (PSOL), "a política no Rio está apequenada". Para ele, Sérgio Cabral, que não apoiou candidato a presidente no primeiro turno assumindo "neutralidade radical", seria um exemplo. "A "política da bica d'água" tem sido vitoriosa, como mostrou a eleição para a Assembléia Legislativa. Se tiver dez deputados [em 70] ideológicos, é muito", diz Alencar.


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