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rumo à globalização
Comércio e investimento estrangeiro impulsionam ascensão chinesa
País já é 3ª potência comercial do globo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha
DA REPORTAGEM LOCAL
A China deve grande parte de seu fantástico crescimento a uma bem-sucedida estratégia de inserção no mundo, que a transformou na terceira maior
potência comercial do planeta e no principal destino de investimentos estrangeiros entre os
países em desenvolvimento.
No fim dos anos 70, dez anos
antes da queda do Muro de Berlim, o Partido Comunista chinês decidiu embarcar na globalização. Recluso nos anos de
Mao Tse-tung, o país é hoje um
dos mais abertos do mundo
quando se compara a soma das
exportações e importações
com o valor do PIB.
No ano passado, o fluxo de
comércio da China chegou a
US$ 1,4 trilhão, o equivalente a
64% de seu PIB. No Brasil, a relação é inferior a 30%.
O US$ 1,4 trilhão de exportações e importações chinesas só
é inferior aos volumes registrados pelos Estados Unidos e
Alemanha. Mas em breve a
China chegará ao topo desse
ranking.
A OCED (Organização para
Cooperação Econômica e Desenvolvimento), clube das 30
nações mais industrializadas
do globo, prevê que a China será em 2010 o maior exportador
e importador do mundo.
A meteórica ascensão no comércio internacional elevou o
país à categoria de ator principal no tabuleiro das trocas globais. Hoje, a China está entre
os maiores parceiros comerciais da maioria das grandes
economias do mundo -o que
acontecer lá terá impacto significativo sobre o crescimento
global.
A face chinesa de potência
comercial tem íntima relação
com o processo de reorganização da produção industrial
ocorrido em escala planetária
nas duas últimas décadas.
A China entrou na globalização como fornecedor de mão-de-obra abundante e barata para as corporações multinacionais, que transferiram ao país
grande parte de suas fábricas.
Nesse processo, a China se
transformou em um dos mais
quentes destinos de investimentos estrangeiros diretos do
mundo e recebeu US$ 620 bilhões entre 1979 e 2005. Só em
2004, foram US$ 60,6 bilhões,
valor semelhante à soma do
que foi destinado no mesmo
ano ao Brasil, México, Chile,
Polônia, Coréia do Sul e Índia.
Exército de operários
Por muitos anos ainda, a China vai continuar a ter um exército de operários dispostos a
trabalhar muitas horas em troca de poucos dólares.
O país tem uma população
economicamente ativa de 770
milhões de pessoas, quase metade das quais ainda trabalhando no campo. Nos próximos
anos, cerca de 200 milhões chineses migrarão para as cidades,
em busca de empregos na construção civil e nas linhas de
montagem das fábricas.
Além dessa oferta de mão-de-obra barata, a China deu
previsibilidade ao câmbio e
manteve sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, o que
deu impulso às exportações.
Durante uma década, US$ 1 valeu 8,28 yuans.
Com a espetacular alta de
suas vendas externas, os chineses passaram a ser alvo de pressões crescentes para que valorizassem sua moeda. O movimento veio em julho de 2005,
mas foi bastante tímido: o yuan
ganhou 2,1% de uma vez, se valorizou mais 1,5% desde então e
hoje ronda os 8 por US$ 1.
As autoridades chinesas deixaram claro que mudanças no
câmbio serão muito mais graduais e homeopáticas do que os
países ricos gostariam.
Também lembraram que
metade das exportações da
China são realizadas por multinacionais instaladas no país, e
não por empresas locais.
Chamada de "fábrica do
mundo", a China tem uma
quantidade cada vez maior de
linhas de montagem de produtos de alta tecnologia e se distancia rapidamente da imagem
de exportador de bens baratos e
de baixa qualidade. Produtos
industrializados representam
91,4% do total das exportações
-no Brasil, o índice é de 52,4%.
O setor de tecnologia da informação -que inclui laptops,
componentes eletrônicos e câmeras digitais- já representa
30% do total das vendas externas do país, segundo Chai Haitao, chefe do Departamento de
Cooperação Econômica Estrangeira do Ministério do Comércio da China.
Dados da OCDE mostram
que, em 2004, a China ultrapassou os Estados Unidos e se
tornou o maior exportador do
mundo de bens de tecnologia
da informação. Naquele ano, as
vendas externas do setor somaram US$ 180 bilhões, 46% acima do registrado em 2003.
A boa performance do comércio exterior valeu à China
um superávit comercial recorde em 2005: US$ 102 bilhões,
alta de 219% em relação ao ano
anterior. A previsão do governo
é que o saldo suba de novo em
2006, para US$ 130 bilhões.
Mas superávits recordes trazem outro problema ao país
além das reclamações de seus
concorrentes. O grande fluxo
de dólares levou as reservas internacionais chinesas ao espetacular valor de US$ 941 bilhões, as maiores do mundo.
Essa montanha de dinheiro é
construída pelo banco central,
que compra os dólares que entram no país para evitar pressões pela valorização da moeda
local. Para isso, emite yuans,
que terminam nos caixas do
bancos e, daí, são transferidos
para estatais em empréstimos
de baixíssimo custo, que viram
investimentos e alimentam o
alto ritmo de crescimento.
O PIB chinês teve expansão
surpreendente de 11,3% no segundo trimestre do ano, o que
resgatou o debate sobre o risco
de superaquecimento do país.
(CLÁUDIA TREVISAN)
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