São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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rumo à globalização

Comércio e investimento estrangeiro impulsionam ascensão chinesa

País já é 3ª potência comercial do globo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha

DA REPORTAGEM LOCAL

A China deve grande parte de seu fantástico crescimento a uma bem-sucedida estratégia de inserção no mundo, que a transformou na terceira maior potência comercial do planeta e no principal destino de investimentos estrangeiros entre os países em desenvolvimento.
No fim dos anos 70, dez anos antes da queda do Muro de Berlim, o Partido Comunista chinês decidiu embarcar na globalização. Recluso nos anos de Mao Tse-tung, o país é hoje um dos mais abertos do mundo quando se compara a soma das exportações e importações com o valor do PIB.
No ano passado, o fluxo de comércio da China chegou a US$ 1,4 trilhão, o equivalente a 64% de seu PIB. No Brasil, a relação é inferior a 30%.
O US$ 1,4 trilhão de exportações e importações chinesas só é inferior aos volumes registrados pelos Estados Unidos e Alemanha. Mas em breve a China chegará ao topo desse ranking.
A OCED (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento), clube das 30 nações mais industrializadas do globo, prevê que a China será em 2010 o maior exportador e importador do mundo.
A meteórica ascensão no comércio internacional elevou o país à categoria de ator principal no tabuleiro das trocas globais. Hoje, a China está entre os maiores parceiros comerciais da maioria das grandes economias do mundo -o que acontecer lá terá impacto significativo sobre o crescimento global.
A face chinesa de potência comercial tem íntima relação com o processo de reorganização da produção industrial ocorrido em escala planetária nas duas últimas décadas.
A China entrou na globalização como fornecedor de mão-de-obra abundante e barata para as corporações multinacionais, que transferiram ao país grande parte de suas fábricas.
Nesse processo, a China se transformou em um dos mais quentes destinos de investimentos estrangeiros diretos do mundo e recebeu US$ 620 bilhões entre 1979 e 2005. Só em 2004, foram US$ 60,6 bilhões, valor semelhante à soma do que foi destinado no mesmo ano ao Brasil, México, Chile, Polônia, Coréia do Sul e Índia.

Exército de operários
Por muitos anos ainda, a China vai continuar a ter um exército de operários dispostos a trabalhar muitas horas em troca de poucos dólares.
O país tem uma população economicamente ativa de 770 milhões de pessoas, quase metade das quais ainda trabalhando no campo. Nos próximos anos, cerca de 200 milhões chineses migrarão para as cidades, em busca de empregos na construção civil e nas linhas de montagem das fábricas.
Além dessa oferta de mão-de-obra barata, a China deu previsibilidade ao câmbio e manteve sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, o que deu impulso às exportações. Durante uma década, US$ 1 valeu 8,28 yuans.
Com a espetacular alta de suas vendas externas, os chineses passaram a ser alvo de pressões crescentes para que valorizassem sua moeda. O movimento veio em julho de 2005, mas foi bastante tímido: o yuan ganhou 2,1% de uma vez, se valorizou mais 1,5% desde então e hoje ronda os 8 por US$ 1.
As autoridades chinesas deixaram claro que mudanças no câmbio serão muito mais graduais e homeopáticas do que os países ricos gostariam.
Também lembraram que metade das exportações da China são realizadas por multinacionais instaladas no país, e não por empresas locais.
Chamada de "fábrica do mundo", a China tem uma quantidade cada vez maior de linhas de montagem de produtos de alta tecnologia e se distancia rapidamente da imagem de exportador de bens baratos e de baixa qualidade. Produtos industrializados representam 91,4% do total das exportações -no Brasil, o índice é de 52,4%.
O setor de tecnologia da informação -que inclui laptops, componentes eletrônicos e câmeras digitais- já representa 30% do total das vendas externas do país, segundo Chai Haitao, chefe do Departamento de Cooperação Econômica Estrangeira do Ministério do Comércio da China.
Dados da OCDE mostram que, em 2004, a China ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador do mundo de bens de tecnologia da informação. Naquele ano, as vendas externas do setor somaram US$ 180 bilhões, 46% acima do registrado em 2003.
A boa performance do comércio exterior valeu à China um superávit comercial recorde em 2005: US$ 102 bilhões, alta de 219% em relação ao ano anterior. A previsão do governo é que o saldo suba de novo em 2006, para US$ 130 bilhões.
Mas superávits recordes trazem outro problema ao país além das reclamações de seus concorrentes. O grande fluxo de dólares levou as reservas internacionais chinesas ao espetacular valor de US$ 941 bilhões, as maiores do mundo.
Essa montanha de dinheiro é construída pelo banco central, que compra os dólares que entram no país para evitar pressões pela valorização da moeda local. Para isso, emite yuans, que terminam nos caixas do bancos e, daí, são transferidos para estatais em empréstimos de baixíssimo custo, que viram investimentos e alimentam o alto ritmo de crescimento.
O PIB chinês teve expansão surpreendente de 11,3% no segundo trimestre do ano, o que resgatou o debate sobre o risco de superaquecimento do país.
(CLÁUDIA TREVISAN)

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