São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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revolução na escola

China investe no ensino básico e Índia aposta em elite universitária

Analfabetismo na China caiu de 25% para 8,7% de 1986 a 2005; índice é menor que os 11,8% do Brasil

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os gigantescos esforços de China e Índia em tirar milhões de pessoas do analfabetismo nos últimos anos são um dos mais poderosos sinais de que os dois países sabem a importância da educação em seus projetos de futuro. Apesar da evolução de ambos na área, as estratégias e os resultados não podiam ser mais diferentes.
A China tem números milagrosos e supera a Índia em todos os critérios na educação básica. Desde que, em 1986, aprovou o ensino compulsório e obrigatório de nove séries (seis básicas e três intermediárias) para todas as crianças entre 6 e 14 anos de idade, o analfabetismo caiu de 25% para 8,7% (no Brasil, o índice é de 11,8%).
"Essa medida conseguiu brecar o atraso que afetava as áreas rurais, onde a maioria das crianças só tinha quatro anos de escola. O aumento da alfabetização foi dramático", diz o economista chinês Andy Xie, do banco Morgan Stanley, autor de um estudo sobre o tema.
Já as políticas indianas, que colocaram mais ênfase no ensino superior, criaram uma elite com título universitário, com domínio do inglês e que estimulou o boom de transferência de empresas americanas e européias para a Índia.
Parte do sucesso econômico do país é liderado pelo retorno de indianos que foram estudar nos EUA. Em 2005, mais de 80 mil indianos estavam estudando em universidades americanas, contra 62 mil chineses (o Brasil tinha 7.244 estudantes, um número bem menor que os asiáticos, inclusive em relação ao tamanho das populações).
Apesar de ter uma população 30% maior que a indiana, na China formam-se por ano 3,1 milhões de universitários e, na Índia, 2,7 milhões. A proporção da população com diploma é maior. Em 2002, 8% da população indiana entre 25 e 34 anos de idade chegou ao terceiro grau -5% na China.
As necessidades indianas de mão-de-obra especializada são enormes. Estimativas da consultoria McKinsey dizem que as indústrias tecnológicas empregarão 4 milhões de pessoas em 2008, contra 1 milhão hoje.
Apesar de ainda possuir, relativamente, menos alunos que o Brasil no ensino médio e superior, a China conseguiu superar o país na redução do analfabetismo em tempo recorde, e tudo indica que em pouco tempo suas estatísticas serão melhores.

Ensino básico
Se a Índia se destaca com o grande número de jovens com diploma e inglês excelente, a China está bem à frente no sistema básico. Mesmo com um critério nada exigente - basta saber escrever o próprio nome para ser considerado alfabetizado- a Índia tem 39% de analfabetos. Em 1980, eram 59%. Na China, onde só quem sabe ler e escrever é considerado nas estatísticas- o analfabetismo caiu de 33% em 1980 para 8,7%.
"O sistema indiano de educação é bastante desigual. A maior novidade nos anos 90 foi o crescimento de um setor privado vibrante de ensino superior, que serve à minoria que fala inglês", disse à Folha o correspondente da "The Economist" em São Paulo, Brooke Unger, que trabalhou por quatro anos em Nova Déli.
O Brasil tem uma semelhança com o modelo indiano. Proporcionalmente, o governo brasileiro investe mais nas universidades públicas do que no ensino básico. E, ao longo da história, a elite brasileira teve mais acesso às vagas nas universidades públicas e gratuitas.
A Índia tem enormes desafios à sua frente. O país possui a maior população do mundo abaixo de 18 anos, com 415 milhões de crianças e adolescentes. Apenas em 2002 uma emenda constitucional tornou obrigatório o ensino básico como "direito fundamental".
No ano 2000, havia 200 milhões de crianças entre 6 e 14 anos no país, mas 42 milhões delas não estavam na escola. Em 2005, de 210 milhões na mesma faixa etária, havia "só" 9,5 milhões fora da escola. A taxa de matrícula na Índia subiu de 75% em 2000 para 95,5% das crianças entre 6 e 14 anos.
Na China, o governo equipou 70 mil escolas do interior com computadores e conexão por satélite, com investimentos de US$ 1,2 bilhão, projeto que teve apoio da fundação beneficente mantida pelo bilionário de Hong Kong Li Ka-shing. O plano é dobrar o total de computadores até 2007.


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