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revolução na escola
China investe no ensino básico e Índia aposta em elite universitária
Analfabetismo na China caiu de 25% para 8,7% de 1986 a 2005; índice é menor que os 11,8% do Brasil
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gigantescos esforços de China e Índia em tirar milhões de pessoas do analfabetismo nos últimos anos são um dos mais poderosos sinais de que os
dois países sabem a importância da educação em seus projetos de futuro. Apesar da evolução de ambos na área, as estratégias e os resultados não podiam ser mais diferentes.
A China tem números milagrosos e supera a Índia em todos os critérios na educação básica. Desde que, em 1986, aprovou o ensino compulsório e
obrigatório de nove séries (seis
básicas e três intermediárias)
para todas as crianças entre 6 e
14 anos de idade, o analfabetismo caiu de 25% para 8,7% (no
Brasil, o índice é de 11,8%).
"Essa medida conseguiu brecar o atraso que afetava as
áreas rurais, onde a maioria das
crianças só tinha quatro anos
de escola. O aumento da alfabetização foi dramático", diz o
economista chinês Andy Xie,
do banco Morgan Stanley, autor de um estudo sobre o tema.
Já as políticas indianas, que
colocaram mais ênfase no ensino superior, criaram uma elite
com título universitário, com
domínio do inglês e que estimulou o boom de transferência
de empresas americanas e européias para a Índia.
Parte do sucesso econômico
do país é liderado pelo retorno
de indianos que foram estudar
nos EUA. Em 2005, mais de 80
mil indianos estavam estudando em universidades americanas, contra 62 mil chineses (o
Brasil tinha 7.244 estudantes,
um número bem menor que os
asiáticos, inclusive em relação
ao tamanho das populações).
Apesar de ter uma população
30% maior que a indiana, na
China formam-se por ano 3,1
milhões de universitários e, na
Índia, 2,7 milhões. A proporção
da população com diploma é
maior. Em 2002, 8% da população indiana entre 25 e 34
anos de idade chegou ao terceiro grau -5% na China.
As necessidades indianas de
mão-de-obra especializada são
enormes. Estimativas da consultoria McKinsey dizem que
as indústrias tecnológicas empregarão 4 milhões de pessoas
em 2008, contra 1 milhão hoje.
Apesar de ainda possuir, relativamente, menos alunos que
o Brasil no ensino médio e superior, a China conseguiu superar o país na redução do
analfabetismo em tempo recorde, e tudo indica que em
pouco tempo suas estatísticas
serão melhores.
Ensino básico
Se a Índia se destaca com o
grande número de jovens com
diploma e inglês excelente, a
China está bem à frente no sistema básico. Mesmo com um
critério nada exigente - basta
saber escrever o próprio nome
para ser considerado alfabetizado- a Índia tem 39% de analfabetos. Em 1980, eram 59%.
Na China, onde só quem sabe
ler e escrever é considerado nas
estatísticas- o analfabetismo
caiu de 33% em 1980 para 8,7%.
"O sistema indiano de educação é bastante desigual. A
maior novidade nos anos 90 foi
o crescimento de um setor privado vibrante de ensino superior, que serve à minoria que fala inglês", disse à Folha o correspondente da "The Economist" em São Paulo, Brooke
Unger, que trabalhou por quatro anos em Nova Déli.
O Brasil tem uma semelhança com o modelo indiano. Proporcionalmente, o governo
brasileiro investe mais nas universidades públicas do que no
ensino básico. E, ao longo da
história, a elite brasileira teve
mais acesso às vagas nas universidades públicas e gratuitas.
A Índia tem enormes desafios à sua frente. O país possui a
maior população do mundo
abaixo de 18 anos, com 415 milhões de crianças e adolescentes. Apenas em 2002 uma
emenda constitucional tornou
obrigatório o ensino básico como "direito fundamental".
No ano 2000, havia 200 milhões de crianças entre 6 e 14
anos no país, mas 42 milhões
delas não estavam na escola.
Em 2005, de 210 milhões na
mesma faixa etária, havia "só"
9,5 milhões fora da escola. A taxa de matrícula na Índia subiu
de 75% em 2000 para 95,5%
das crianças entre 6 e 14 anos.
Na China, o governo equipou
70 mil escolas do interior com
computadores e conexão por
satélite, com investimentos de
US$ 1,2 bilhão, projeto que teve
apoio da fundação beneficente
mantida pelo bilionário de
Hong Kong Li Ka-shing. O plano é dobrar o total de computadores até 2007.
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