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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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Expectativa de vida dobrou em um século, mas ainda é inferior em dez anos à de países desenvolvidos

Brasileiro ganhou mais 35 anos

DA SUCURSAL DO RIO

Se sobrevivesse ao susto, um brasileiro de 1901 que acordasse subitamente em 2000 descobriria fôlego para mais uma vida.
Em cem anos, o brasileiro, que vivia apenas 33,6 anos no início do século, ganhou 35 anos na expectativa de vida. Em 2000, a esperança de vida já era de 68,6 anos -mais do que o dobro da verificada em 1900.
Essa é uma das principais mudanças na população brasileira do século 20, verificada depois da Segunda Guerra (1939-1945), com a introdução da penicilina e dos demais antibióticos. Com os medicamentos, cai a mortalidade causada por doenças infecto-contagiosas, como a tuberculose. E a esperança de vida sobe de 41,5 anos em 1940 para 51,6 em 1960.
O ganho na expectativa de vida chegou ao Brasil com atraso, em comparação com países europeus, que viveram o mesmo movimento no final do século 19 e no início do século 20. Em compensação, foi mais rápido.
"Com a Revolução Industrial, os países europeus tiveram grande desenvolvimento tecnológico e de produtos farmacêuticos, como vacinas. A diferença é que, lá, foi tudo mais lento, pois foram dinâmicas internas. No Brasil foi uma dinâmica exógena, e o resultado, muito mais rápido", afirma Nadja Loureiro, estatística do IBGE.
Mesmo com os ganhos do século, a expectativa de vida no Brasil ainda é dez anos inferior à de países desenvolvidos (78 anos em média, chegando a 79 no Canadá e 81 no Japão), e à da América Latina (70,3).
Segundo o IBGE, o ganho na expectativa de vida só não foi maior porque a mortalidade infantil, mesmo tendo caído muito (de 135 por mil nascidos vivos em 1950 para 29,6 em 2000), ainda é considerada alta. Nos EUA, a taxa é de 7 por mil, e, na Argentina, de 16.
A década de 50 influenciou decisivamente o destino do país, com o surto de industrialização que empurrou a população para as cidades e iniciou processo de urbanização. A partir dos anos 60, a pílula anticoncepcional se popularizou, e o número de filhos por mulher caiu. A fecundidade iniciou um período de declínio ininterrupto até 2000. As ações de saúde e vacinação também reduziram a mortalidade infantil.
Menos filhos nascendo, menos crianças morrendo, vida mais longa. Esses três fatores mudaram a pirâmide da população brasileira. Chamado de "país de jovens" até 1980, o Brasil chegou a 2000 com uma redução da parcela de população até 15 anos e um aumento da proporção de idosos.
O ritmo do crescimento populacional foi caindo década a década. Mesmo assim, a população quase decuplicou, saltando de 17,4 milhões de habitantes em 1900 para 169,8 milhões em 2000.
Nas quatro primeiras décadas do século 20, 10% do crescimento populacional se deve à imigração iniciada no século anterior, quando o governo estimulou a vinda de estrangeiros para suprir a carência de mão-de-obra depois da Abolição da escravatura (1888).
Em 1934, foi criado um sistema de cotas para controlar a entrada de imigrantes. A imigração se reduziu e perdeu relevância na taxa de crescimento populacional.
De 1840 a 1940, a imigração contribuiu com 19% do aumento populacional brasileiro, seja de forma direta, com os próprios imigrantes, seja com seus descendentes. É bem menos do que a imigração representou em outros países da América no mesmo período, como a Argentina (58%), os Estados Unidos (44%) e o Canadá (22%). (FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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