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Durante crise, ministros sugeriram renúncia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em agosto do ano passado, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ouviu de alguns ministros
a sugestão de renunciar ao
mandato. Lula rejeitou a idéia,
mas ela dá a dimensão de quão
tensos foram os dias que se seguiram ao depoimento do publicitário Duda Mendonça à
CPI dos Correios. Para Lula,
aquele foi o seu pior momento,
segundo apurou a Folha em
conversas reservadas.
Sem combinar versões ou estratégias de defesa com o PT,
Duda decidiu depor à CPI, na
qual chegou a chorar. Ele confessou que recebera do publicitário Marcos Valério, operador
do mensalão, R$ 10,5 milhões
em pagamento a trabalhos para
o PT nas eleições de 2002. Segundo Duda, a campanha de
Lula teria sido quitada com dinheiro legal. Os R$ 10,5 milhões seriam pagamento, via
caixa 2, de outras campanhas
do partido.
Duda e o governo estavam
sendo chantageados por Valério, que exigia proteção política
e dinheiro para ficar calado.
Naqueles dias, a cúpula do
governo imaginava que um
processo de impeachment poderia começar, ainda que não
prosperasse, já que a base parlamentar do governo estava em
frangalhos e as pesquisas de
opinião indicavam queda em
sua popularidade.
Foi nesse contexto que alguns ministros sugeriram a Lula a renúncia. "Vocês são uns
frouxos. Vou resistir", disse o
presidente, de acordo com relatos obtidos pela Folha.
A oposição ajudou Lula. Um
emissário do presidente ouviu
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso e do então
prefeito de São Paulo, José Serra, que eles não participariam
de uma tentativa de impeachment. Os tucanos avaliaram
que Lula sangraria politicamente e seria presa fácil na
eleição do ano seguinte. Serra
deixaria a prefeitura para concorrer ao Planalto, e o PSDB retornaria ao poder.
Naquele momento, FHC
chegou a sugerir publicamente
que Lula não fosse candidato à
reeleição. Novamente, alguns
ministros do presidente discutiram o tema com ele. Lula terminaria o mandato, a oposição
não tentaria seu impeachment,
e ele desistiria de concorrer.
Mais uma vez, o petista resistiu. Auxiliares contam que o
presidente chegou a chorar,
mas nunca jogou a toalha
Ainda no fim de agosto, no
dia 25, Lula afirmou, numa
reunião reservada, que só seria
candidato se tivesse chance de
vitória, o que levou parte da
imprensa a acreditar que ele
poderia desistir da reeleição.
Mas, imediatamente, falou algo
contraditório: "Se o PT estiver
muito mal, se o governo estiver
apanhando de tudo quanto é
lado, vou ser candidato para
defender o PT e o meu governo.
Aí não tem jeito."
Genoino
No início de julho, a revista
"Veja" revelou que Marcos Valério avalizara empréstimos de
R$ 2,4 milhões do banco BMG
ao PT. O documento também
foi assinado por Delúbio Soares, então tesoureiro da sigla, e
por José Genoino, à época presidente do partido. A primeira
reação de Genoino foi negar a
assinatura. Quando Lula viu a
revista, chorou. "Não acredito
que o Genoino tá nisso", disse.
No dia 8 daquele mês, a Polícia Federal prendeu, no Aeroporto de Congonhas, um assessor do irmão de Genoino com
R$ 200 mil em uma mala e US$
100 escondidos na cueca. Lula
também não acreditou na história na primeira vez. Confirmado o episódio, disse que parecia "um pesadelo". No dia seguinte, Genoino renunciou à
presidência do partido. Para
Lula, Genoino pagou caro por
erros nos quais não teve participação.
(KENNEDY ALENCAR)
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