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Amorim afirma que política externa vai ser aprofundada
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Luiz Inácio Lula da Silva vai
"aprofundar" a sua política externa no segundo mandato,
mas com uma "presença mais
ativa" na América do Sul, inclusive destinando recursos materiais e financeiros para projetos
nos países vizinhos. O Paraguai
e o Uruguai terão prioridade.
"Seja quem for o ministro, o
presidente decidiu aprofundar
a política externa e olhar cada
vez mais para a América do
Sul", disse o chanceler Celso
Amorim. A intenção é usar mecanismos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o
Proex (programa de financiamento das exportações do Banco do Brasil) para investir mais
pesadamente na região.
Esses mecanismos passam
pelo financiamento de projetos
de empresas públicas e privadas brasileiras que têm ramificação na América do Sul, como
Petrobras, Embraer, Gerdau,
Coteminas, Gradiente e construtoras como a Norberto Odebrecht. Conforme a Folha apurou, Lula considera que a política externa foi uma das vitrines do seu governo, tanto que
convocou Amorim para seus
palanques e para dentro dos estúdios nos debates do segundo
turno, mas a avaliação de Planalto e de Itamaraty é que o
Brasil descuidou dos vizinhos.
Esse descuido teria sido sobretudo em relação ao Mercosul, especialmente Paraguai e
Uruguai. De um lado, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ocupa com desenvoltura
crescente um espaço de liderança que caberia naturalmente ao Brasil -o país mais populoso e com economia mais diversificada da América do Sul.
Depois da compra de aviões,
helicópteros e fuzis russos, a
Venezuela está mais bem equipada militarmente do que o
Brasil e tem transformado seus
petrodólares em força de atração de países como Argentina e
Paraguai, comprando bônus e
financiando pagamento de dívidas. De outro lado, os EUA já
estão dentro da Colômbia e
ampliam sua presença no Cone
Sul via Paraguai. A diferença é
que a ingerência no território
colombiano é militar e sob a
justificativa de combater o narcotráfico. No Paraguai, os americanos usam uma "estratégia
cubana": despejam médicos e
bondades nas fronteiras.
Para competir é preciso
"mais do que diplomacia, é preciso usar os recursos brasileiros em projetos de infra-estrutura, de cooperação e de desenvolvimento, sobretudo dos países mais fracos", disse Amorim,
que recusa o rótulo de "esquerdista" para a política externa.
Ele e Marco Aurélio Garcia
(assessor internacional da Presidência destacado para presidir o PT e coordenar a campanha no segundo turno) defendem maior abertura de mercado na região, o que inclui a flexibilização de barreiras técnicas com os vizinhos. "A burocracia do BNDES é lenta. O
Brasil promete. Aí, a Venezuela
vai lá, na Bolívia, no Paraguai,
Uruguai, e dá. Depois, fica todo
mundo dizendo que o Chávez é
o líder", reclamou Amorim.
Um outro problema do Brasil, ainda mais imediato, é a Bolívia. O país praticamente expulsou a siderúrgica EBX, nacionalizou o gás e ameaçou expulsar também a Petrobras.
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