São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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Amorim afirma que política externa vai ser aprofundada

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Luiz Inácio Lula da Silva vai "aprofundar" a sua política externa no segundo mandato, mas com uma "presença mais ativa" na América do Sul, inclusive destinando recursos materiais e financeiros para projetos nos países vizinhos. O Paraguai e o Uruguai terão prioridade.
"Seja quem for o ministro, o presidente decidiu aprofundar a política externa e olhar cada vez mais para a América do Sul", disse o chanceler Celso Amorim. A intenção é usar mecanismos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o Proex (programa de financiamento das exportações do Banco do Brasil) para investir mais pesadamente na região.
Esses mecanismos passam pelo financiamento de projetos de empresas públicas e privadas brasileiras que têm ramificação na América do Sul, como Petrobras, Embraer, Gerdau, Coteminas, Gradiente e construtoras como a Norberto Odebrecht. Conforme a Folha apurou, Lula considera que a política externa foi uma das vitrines do seu governo, tanto que convocou Amorim para seus palanques e para dentro dos estúdios nos debates do segundo turno, mas a avaliação de Planalto e de Itamaraty é que o Brasil descuidou dos vizinhos.
Esse descuido teria sido sobretudo em relação ao Mercosul, especialmente Paraguai e Uruguai. De um lado, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ocupa com desenvoltura crescente um espaço de liderança que caberia naturalmente ao Brasil -o país mais populoso e com economia mais diversificada da América do Sul.
Depois da compra de aviões, helicópteros e fuzis russos, a Venezuela está mais bem equipada militarmente do que o Brasil e tem transformado seus petrodólares em força de atração de países como Argentina e Paraguai, comprando bônus e financiando pagamento de dívidas. De outro lado, os EUA já estão dentro da Colômbia e ampliam sua presença no Cone Sul via Paraguai. A diferença é que a ingerência no território colombiano é militar e sob a justificativa de combater o narcotráfico. No Paraguai, os americanos usam uma "estratégia cubana": despejam médicos e bondades nas fronteiras.
Para competir é preciso "mais do que diplomacia, é preciso usar os recursos brasileiros em projetos de infra-estrutura, de cooperação e de desenvolvimento, sobretudo dos países mais fracos", disse Amorim, que recusa o rótulo de "esquerdista" para a política externa.
Ele e Marco Aurélio Garcia (assessor internacional da Presidência destacado para presidir o PT e coordenar a campanha no segundo turno) defendem maior abertura de mercado na região, o que inclui a flexibilização de barreiras técnicas com os vizinhos. "A burocracia do BNDES é lenta. O Brasil promete. Aí, a Venezuela vai lá, na Bolívia, no Paraguai, Uruguai, e dá. Depois, fica todo mundo dizendo que o Chávez é o líder", reclamou Amorim.
Um outro problema do Brasil, ainda mais imediato, é a Bolívia. O país praticamente expulsou a siderúrgica EBX, nacionalizou o gás e ameaçou expulsar também a Petrobras.


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