São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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TALENTOS

Novas técnicas de gestão põem o funcionário no centro da empresa e recomendam demissão só em último caso, explicando razões

"Facão" indiscriminado só fere a lucratividade

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Demitir para economizar virou atitude freqüente no mercado. Dependendo de como for feito, porém, o corte pode ser traumático para aqueles que ficam. Por isso alguns especialistas defendem que as empresas comuniquem sempre o motivo do "facão".
"Muitas vezes as pessoas até redobram esforços para sair da crise. Depende da forma como é feito. Mas há algumas empresas que aproveitam a crise para promover redução de despesas e, nesse caso, as pessoas percebem o oportunismo", afirma José Augusto Minarelli, presidente da consultoria Lens & Minarelli. "Os mais talentosos que forem poupados, quando surgir uma oportunidade, vão querer sair da empresa, pois eles perdem a confiança", argumenta.
E para reter esses talentos nem é preciso muito dinheiro. O valor do salário vem em sexto ou sétimo lugares na motivação dos funcionários, segundo Minarelli. "Eles se motivam mais quando têm um trabalho desafiador, um ambiente estimulante, reconhecimento pelo trabalho bem-feito e um líder incentivador", enumera.
"O papel do superior imediato é fundamental", concorda Vera Sylos, diretora da Alexander Mann, que presta consultoria em gestão de pessoas. Segundo ela, o empregado costuma ver em seu superior imediato a "voz" da empresa. "As corporações devem investir mais nesse gestor", ensina.

Estudo de caso
O Grupo Pão de Açúcar tem um programa especialmente voltado para essa questão. É o "Gerente de Gente Feliz", no qual são estabelecidos cinco princípios que os 7.000 funcionários em cargos de liderança têm de seguir. Periodicamente, esses gestores são avaliados por suas equipes com base nesses princípios. "Os funcionários percebem, assim, que eles têm voz", afirma Marília Parada, diretora de planejamento e desenvolvimento de RH da empresa.
Esse e vários outros programas de motivação foram criados na esteira de um momento difícil que o grupo enfrentou, em 1990, quando precisou reduzir seus quadros de 50 mil funcionários para 17 mil. O que poderia ter sido uma tragédia em termos de ambiente de trabalho se transformou em incentivo para o surgimento dos programas, hoje largamente reconhecidos pelo mercado.
Para tornar tudo isso possível, é preciso investir em comunicação interna. Essa é a prática mais valorizada nas cem melhores empresas do ranking do instituto Great Place to Work no Brasil, que estuda o ambiente e os aspectos culturais das companhias.
Segundo José Tolovi Júnior, presidente do instituto, nos últimos anos quase todas as organizações da lista já demitiram por causa das crises. Mas todas se preocupam tanto com quem sai como com quem fica. "Elas ajudam os demitidos a se recolocar e explicam aos outros os motivos dos cortes. Nas pesquisas, detectamos que os funcionários acreditam que a empresa só demitiria como último recurso." (RGV)


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