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Jornal antecipou resultado da licitação
da Reportagem Local
De posse da lista com o nome das 18 empreiteiras que venceriam a concorrência
para a construção da ferrovia Norte-Sul e
até dos lotes que caberiam a cada uma delas, na véspera da abertura dos envelopes
concorrentes e divulgação dos resultados,
o jornalista da Folha Janio de Freitas precisava encontrar uma fórmula de publicá-la no jornal sem chamar a atenção das
pessoas e empresas envolvidas nas irregularidades.
Depois de avaliar as opções em conjunto com a direção do jornal, Janio de Freitas decidiu registrar a fraude em um
anúncio cifrado.
O anúncio foi reproduzido na primeira
página da Folha na edição de 13 de maio,
com a reportagem que revelava o conluio
entre as empreiteiras na concorrência da
ferrovia Norte-Sul.
No texto da reportagem, o jornalista explicou o código usado no anúncio que foi
publicado:
"O anúncio mostra grupos de letras em
que "L' significa Lote (o trecho da ferrovia); o número e a maiúscula "A' ou "B'
identificam o Lote; e as iniciais que se seguem identificam a empresa que sairia
vencedora. Agora, confronte-se com este
anúncio o resultado oficial da concorrência: Lote 1A, vencedora a Norberto Odebrecht; 2A, Queiroz Galvão; 3A, Mendes
Jr.; (não existe o lote 4A); 5A, C.R. Almeida; 6A, Serveng; 7A, EIT; 8A, Cowan; 9A,
Ceesa; 1B, CBPO; 2B, Camargo Corrêa;
3B, Andrade Gutierrez; (4B não existe);
5B, Constran; 6B, Sultepa; 7B, Construtora Brasil; 8B, Alcindo Vieira; 9B, Tratex;
10B, Paranapanema; 11B, Ferreira Guedes."
"No resultado oficial, ao lado dos nomes
dessas empresas e das que se classificaram abaixo delas, em cada lote, figura o
desconto que cada uma oferecia em relação ao valor da respectiva obra, segundo a
orçaram a Valec e o Ministério dos Transportes. Tal desconto é sem variação entre
as vencedoras e as perdedoras de cada lote, sempre de 10%. De imediato, isso demonstra que o preço estabelecido pelo governo era tão absurdamente alto que as
empresas todas puderam reduzi-lo em
10%."
"Como o conjunto dos lotes foi orçado
pela Valec e o ministério em quase US$
2,5 bilhões, vê-se que o governo se dispunha a gastar mais US$ 250 milhões. Em segunda instância, e já tendo havido empate
total nos descontos, por aí ficou provado
que não houve apenas divisão prévia da
obra entre as empreiteiras: o conluio é geral, porque o desempate, e portanto a definição dos vencedores, foi feita pela Valec
e pelo Ministério dos Transportes."
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