São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Jornal antecipou resultado da licitação

da Reportagem Local

De posse da lista com o nome das 18 empreiteiras que venceriam a concorrência para a construção da ferrovia Norte-Sul e até dos lotes que caberiam a cada uma delas, na véspera da abertura dos envelopes concorrentes e divulgação dos resultados, o jornalista da Folha Janio de Freitas precisava encontrar uma fórmula de publicá-la no jornal sem chamar a atenção das pessoas e empresas envolvidas nas irregularidades.
Depois de avaliar as opções em conjunto com a direção do jornal, Janio de Freitas decidiu registrar a fraude em um anúncio cifrado.
O anúncio foi reproduzido na primeira página da Folha na edição de 13 de maio, com a reportagem que revelava o conluio entre as empreiteiras na concorrência da ferrovia Norte-Sul.
No texto da reportagem, o jornalista explicou o código usado no anúncio que foi publicado:
"O anúncio mostra grupos de letras em que "L' significa Lote (o trecho da ferrovia); o número e a maiúscula "A' ou "B' identificam o Lote; e as iniciais que se seguem identificam a empresa que sairia vencedora. Agora, confronte-se com este anúncio o resultado oficial da concorrência: Lote 1A, vencedora a Norberto Odebrecht; 2A, Queiroz Galvão; 3A, Mendes Jr.; (não existe o lote 4A); 5A, C.R. Almeida; 6A, Serveng; 7A, EIT; 8A, Cowan; 9A, Ceesa; 1B, CBPO; 2B, Camargo Corrêa; 3B, Andrade Gutierrez; (4B não existe); 5B, Constran; 6B, Sultepa; 7B, Construtora Brasil; 8B, Alcindo Vieira; 9B, Tratex; 10B, Paranapanema; 11B, Ferreira Guedes."
"No resultado oficial, ao lado dos nomes dessas empresas e das que se classificaram abaixo delas, em cada lote, figura o desconto que cada uma oferecia em relação ao valor da respectiva obra, segundo a orçaram a Valec e o Ministério dos Transportes. Tal desconto é sem variação entre as vencedoras e as perdedoras de cada lote, sempre de 10%. De imediato, isso demonstra que o preço estabelecido pelo governo era tão absurdamente alto que as empresas todas puderam reduzi-lo em 10%."
"Como o conjunto dos lotes foi orçado pela Valec e o ministério em quase US$ 2,5 bilhões, vê-se que o governo se dispunha a gastar mais US$ 250 milhões. Em segunda instância, e já tendo havido empate total nos descontos, por aí ficou provado que não houve apenas divisão prévia da obra entre as empreiteiras: o conluio é geral, porque o desempate, e portanto a definição dos vencedores, foi feita pela Valec e pelo Ministério dos Transportes."



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