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TRF analisa importações superfaturadas
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
O TRF (Tribunal Regional Federal) de
São Paulo poderá decidir, em fevereiro,
depois das férias forenses, se recebe a denúncia de estelionato oferecida contra
dois ex-secretários do governo Orestes
Quércia (1987-1991) e empresários envolvidos no caso das importações superfaturadas de Israel.
A denúncia -que está para ser julgada
desde 1997- alcança os ex-secretários José Machado de Campos Filho (Fazenda) e
Luiz Gonzaga Belluzzo (Ciência e Tecnologia) e os empresários Arie Halpern, José
Carlos Coimbra, Mário Ungar, Avner
Schemesch e Yechiel Sharabi, da Trace
Trading Company e Sealbrent Holdings
Limited, intermediárias da operação.
No final do governo Quércia, foram firmados oito contratos para a importação
-sem licitação- de equipamentos israelenses para as universidades estaduais
e as Polícias Civil e Militar de São Paulo,
no total de US$ 310 milhões.
O Estado não adquiriu os equipamentos
diretamente dos fabricantes. A operação
foi intermediada por uma "empresa de
papel", criada no paraíso fiscal de Dublin,
na Irlanda, e representada no Brasil pela
Trace. Uma perícia judicial comprovou
superfaturamento de 343% na aquisição
de sistemas eletrônicos de ensino.
Acusados de estelionato, Sharabi e
Schemesch também foram denunciados
por evasão de divisas e falsificação de documentos; Halpern, Ungar e Coimbra,
por uso de documentos falsos.
Para evitar a licitação, os contratos foram vinculados a um "protocolo" firmado em 1988 por Quércia e seu amigo e padrinho de casamento Tzvi Chazam, então
cônsul de Israel em São Paulo.
Em 1994, o STJ (Superior Tribunal de
Justiça) absolveu Quércia, por 16 votos a
3, da denúncia de
estelionato. A corte entendeu que
ele não sabia o que
foi comprado,
quanto valia e
quanto foi pago.
Em seu voto, o
ministro Assis Toledo, do STJ, afirmou que "os fatos
e atos caracterizadores da fraude
processaram-se
no interior de empresas comerciais
e em secretarias de
Estado".
Quércia ainda
responde a processo na área cível.
Em março de 1998,
o Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou
pedido de Quércia para extinção da ação
civil pública em que o Ministério Público
Estadual pretende o ressarcimento de cerca de US$ 40 milhões, prejuízo estimado
de apenas um contrato. A ação só prescreve depois de 20 anos, mas o processo está
emperrado, aguardando a citação do último réu, a Sealbrent, na Irlanda.
A tentativa do MP de obter a reparação
também dependerá da colaboração das
Justiças de Israel e da Irlanda, para onde já
foram expedidas
cartas rogatórias.
À época da denúncia de Quércia,
o Ministério Público Federal decidiu
manter sob investigação o então governador de São
Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho.
Sucessor de
Quércia no governo de São Paulo,
ele era titular da
Secretaria da Segurança Pública
quando foram adquiridos sistemas
de comunicação e
equipamentos para a polícia.
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