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Segredo das proteínas vai demorar a ser desvendado


Da Reportagem Local

Se sequenciar uma fita de aproximadamente 1,8 metro de DNA consumiu mais de uma década, imagine, então, quanto tempo será preciso para determinar estrutura e função das dezenas de milhares de proteínas cujas “receitas” estão contidas nessa fita.
Afinal, ao menos por enquanto, não há como colocar proteínas às centenas numa máquina analisadora e esperar o resultado na tela do computador.
Proteínas são os blocos fundamentais do corpo humano e de todos os seres vivos. O grupo inclui enzimas, que são as responsáveis pelas reações bioquímicas que geram e mantêm a vida.
Sua função no metabolismo depende da estrutura, não só da sequência de suas unidades. Proteínas são compostas por aminoácidos unidos em uma longa cadeia. Cada cadeia assume uma estrutura tridimensional única, que determina a tarefa da proteína.
A ordenação dos aminoácidos é resultado da sequência de DNA. Não existem ainda regras que permitam descobrir, com base só na sequência genética, que forma a proteína assumirá quando formada _informação que só pode ser obtida em laboriosas análises.
Podem existir mais de 100 mil proteínas ativas na espécie humana. Supondo que se conheça a estrutura de todas, ou ao menos das fundamentais, seria preciso ainda entender suas interações, em que condições ambientais são produzidas, com quais doenças se relacionam. É trabalho para décadas, para todo o século 21.

Tabela biológica
A decodificação do genoma é só o primeiro passo. É como se a tabela periódica da biologia tivesse ficado pronta. Por essa analogia, cada gene corresponderia a um elemento químico.
Na química, o que conta são as interações entre os elementos, como eles se associam e reagem, produzindo novos componentes. Na biologia, igualmente, será preciso entender como se dá a interação entre os produtos dos genes. Se a química já é complicada, com 112 elementos, o que dizer de dezenas de milhares de proteínas?
Já existem muitos genes sequenciados, mas não se sabe que proteínas eles codificam. Uma maneira de resolver essa questão é partir para o que se chama de genoma estrutural.
Estudos estruturais de proteína podem revelar qual a sua função. Um projeto piloto de genoma estrutural já foi iniciado por institutos que participam do Projeto Genoma Humano. O objetivo é determinar a estrutura de 50 proteínas hipotéticas da bactéria Haemophilus influenzae _principal causadora da meningite em crianças de até 5 anos_ para tentar entender suas funções.
Além do genoma estrutural, devem começar a surgir projetos envolvendo o proteoma humano _termo criado em 1994, por analogia com genoma, para descrever o conjunto de todas as proteínas. Na mira está a sistematização do conhecimento sobre o repertório completo da espécie, assim como o genoma fez ou quer fazer com a coleção de genes do homem.

Problemas
A ciência ainda está longe disso, mas em fevereiro deste ano o cientista-empresário norte-americano Craig Venter, que se especializou em ultrapassar o Projeto Genoma Humano (público) e criar problemas para ele, anunciou que iria iniciar um projeto próprio do proteoma humano. Uma nova disputa por prestígio e patentes pode estar começando.
Entre as dificuldades, está realizar a identificação das proteínas numa escala industrial. Trabalhar com proteínas é bem mais complexo do que com DNA. Alguns tipos de proteínas são difíceis de extrair da célula ou apresentam problemas para manuseio em soluções líquidas.
Muitas proteínas são produzidas em quantidades tão diminutas que a identificação nos dispositivos de separação é quase impossível. Métodos mais rápidos e precisos terão de ser criados. Falta dar um salto tecnológico.
Identificar as proteínas e sua estrutura também não será suficiente para decifrar os segredos dos organismos. Muitas das características humanas não são resultado de um único gene, mas sim da relação entre vários deles.
Até hoje os cientistas se concentraram nos estudos de apenas um gene ou proteína por vez. A previsão é que nos próximos anos pesquisadores tenham de encontrar meios de estudar as funções integradas de vários genes.
A única boa notícia é que, se estiverem corretos os últimos indícios de que o genoma pode conter só metade ou um terço do número de genes que havia sido previsto inicialmente, a tarefa pode ficar mais fácil. (ISABEL GERHARDT)

Receita para entender o genoma, cromossomos etc.