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Tostão

Tensão e medo

A ansiedade, antes de uma decisão, desde que não seja excessiva, faz bem ao atleta

O Corinthians, obviamente, tem mais chances de ser o campeão. O zagueiro Paulo André disse em entrevista que o Corinthians só perde para a soberba. Falar isso já é uma demonstração de soberba, como se o time ganhasse seus jogos com facilidade. Serão duas difíceis partidas.

Como se comportam os jogadores antes das decisões? O ser humano sonha em ser original e vive, na maior parte do tempo, na mesmice.

Na véspera de uma final, eu dormia pouco. Sonhava com o jogo. Quando estava tenso, jogava melhor. Ficava mais concentrado, mais esperto. Já Garrincha, dizem, sonhava com os passarinhos de Pau Grande, sua cidade.

A ansiedade, desde que não seja excessiva, faz bem ao atleta. Para diminuir a tensão, os jogadores, no dia do jogo, passam o tempo brincando, lendo revistas de pessoas famosas, arrumando o novo penteado, conectados à internet e conversando em vários celulares. Há também os que gostam de ler sobre filosofia, política e outros assuntos. São os esquisitos.

A final da Copa de 1970 foi às 12h. Tomamos o café juntos. Havia um grande silêncio. Todos ansiosos. Aí, Dadá Maravilha disse, em voz alta, para Zagallo escutar, que sonhara ter feito três gols e era só escalá-lo. Todos deram gargalhadas.

Nos ônibus que levam os jogadores para os estádios, existem os que gostam de barulho e os que gostam de silêncio. Ainda bem que no Cruzeiro não havia ninguém metido a ser craque no samba. Na seleção e no Vasco, era diferente.

Nos vestiários, predominam os rituais. Alguns beijam a medalhinha umas mil vezes. Pensam ainda que, se fizerem sempre a mesma coisa, o time vence. É a onipotência do pensamento.

Pelé ia para um canto, esticava as canelas e fechava os olhos. Era proibido perturbar a fera. Será que ele sonhava com os magistrais gols que iria fazer? Ou apenas pensava nos compromissos que teria após o jogo?

Nos momentos que antecedem o início do jogo, os jogadores urinam várias vezes para espantar o medo. No túnel, se abraçam, e há sempre o mais falante para fazer o discurso e iniciar o grito de guerra. Será que tudo é feito para a televisão? A TV costuma mostrar os bastidores do vestiário do time campeão e a preleção. Qualquer besteira dita pelo técnico é supervalorizada. Um show.

Antes de pisar no gramado, a maioria levanta os dedos para o céu. Alguém pensa em desistir, mas não há mais tempo. A torcida vibra, o atleta se emociona, e o coração dispara. Seja o que o futebol quiser.

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