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Xico Sá

Se oriente, rapaz

Após a maior e mais virtuosa roda de bobinho do mundo, só nos resta uma cantiga velha de conforto

Amigo torcedor, amigo secador, passei as últimas temporadas sem querer que os jogos do Santos acabassem nunca. Ontem roguei a Cristo, cujo sovaco faz sombra aqui no chatô da minha nega no Cosme Velho (Rio), para que terminasse logo o martírio contra o Barça.

E foi o juiz apitar a partida de um time só e o velho camarada madrileno Juan, um irmão ludopédico, me dizer das suas ao telefone. "Eu já levei de cinco, você está no lucro, aceite a minha solidariedade, estava torcendo pela sua baleia Moby Dick", tenta me confortar o torcedor do Real Madrid.

É, meu caro, depois dos 40 a ressaca não é indisposição física e mental, depois dos 40, meu chapa, a ressaca é uma dengue existencialista. Onde estou? Quem que eu sou? Pra onde eu vou? Cadê a bola? Cadê minha cabeça? É o que sinto até agora depois de ser vítima da maior e mais virtuosa roda de bobinho do mundo.

Só nos resta uma velha cantiga de conforto nessa perdição toda, quem sabe a gente não ache o caminho de volta: "Se oriente, rapaz, pela constelação do Cruzeiro do Sul/ Se oriente, rapaz/ Pela constatação de que a aranha vive do que tece/ Vê se não se esquece/ Pela simples razão de que tudo merece/ Consideração".

Considere, santista Gilberto Gil, que o Bahia, seu outro time, fez bonito e isso já valeu o ano. Considere, amigo do Peixe, que o que vale mesmo é a Libertadores da América, aí você ganhou bonito. Considere que o Santos vai ganhar tudo, de novo e sempre.

Sim, Muricy, deveríamos ter treinado só roda de bobinho para a final. Desculpa ai, leitor, estou falando besteira, me entenda, é delírio tremens depois do vareio de bola. Acontece.

Não, de forma alguma teria jeito, você fez tudo que era possível, prezado técnico cujo nome de guerra é o trabalho. Foi só terrível e dolorosa superioridade, como reconheceste. Simples. Pronto.

Mas não deixemos de dizer um sonoro "que mierda", como se despediu o Juan na nossa prosa ao telefone. O madrileno entende do assunto: "Não aguento mais perder para esses caras, só o bando de Lampião seguraria esse time".

Juan estuda sobre o cangaço no Nordeste brasileiro. Figura. É, só adotando mesmo o esquema de Virgulino. Fica a dica para a próxima vítima.

Ah, meu bom Juan, se eu soubesse teria ficado na cama com a moça curtindo os cafunés de uma naturalíssima ressaca. Ela bem que tentou. Ela não entende porque os homens sofrem tanto com isso.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa

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