Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Torero, no Japão

O sonho de Leocádio depois de assistir ao massacre cruel

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Escrevo no ônibus, voltando do estádio, e olho o menino de dez anos que dorme ao lado, enrolado num cachecol branco e preto. Um menino que eu chamo de Leocádio.

Imagino que ele está tendo pesadelos terríveis, com monstros gigantes com o uniforme do Barcelona. Ele tenta escapar por todos os lados, mas está cercado, assim como os santistas quando tentavam começar uma jogada.

Ou talvez seja o contrário. Ele é quem está correndo atrás da bola, que é passada pelos monstros grenás de um lado para o outro, de pata em pata, num eterno jogo de bobinho, passando sempre a milímetros de suas pernas sem que ele consiga tocá-la.

O menino estava alegre antes do início do jogo. Não conseguia ficar quieto na cadeira e mal piscou durante a festa de abertura. Tinha atravessado meio mundo, estava do outro lado do planeta para assistir ao time de sua cidade.

Ele esperava ver arrancadas de Arouca, passes de Ganso, dribles de Neymar, gols de Borges. Mas nada disso aconteceu. O que ele viu foi um lindo e dolorido espetáculo do outro time.

O menino ficou quieto depois do primeiro gol, cabisbaixo depois do segundo, encolhido depois do terceiro, suspirou depois do quarto.

Imagino que ele deve estar triste, achando que a realidade é amarga, que a felicidade é ilusão, que o futebol e a vida são cruéis. Mas aí, o menino que eu fui, e que todos somos um pouco, acorda, tira remela do olho e pergunta:

- No ano que vem a gente vem de novo?

O colunista JOSÉ ROBERTO TORERO viaja a convite da Toyota

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.