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Ladeira abaixo

Com sobe e desce, nova São Silvestre espalha riscos pelo percurso e obriga corredores a refazerem estratégias de prova

Adriano Vizoni/Folhapress
Rua Major Natanael, um dos pontos críticos do novo trajeto da São Silvestre
Rua Major Natanael, um dos pontos críticos do novo trajeto da São Silvestre

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

A São Silvestre, a mais famosa corrida de rua do Brasil, mudou. Após mais de 30 anos de chegadas na avenida Paulista, terá agora seu final em frente ao Obelisco, na região do parque Ibirapuera.

A superpopulação da avenida Paulista, que no dia 31 recebe uma multidão para o Réveillon, motivou a mudança, segundo a organização.

O novo percurso mantém a distância de 15 km, mas traz para os corredores desafios ainda maiores do que a subida da avenida Brigadeiro.

Agora, as coisas começam a se complicar já no início.

Algumas centenas de metros após a largada, em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), surge a primeira novidade. Em vez de dobrar à direita e descer a rua da Consolação, o corredor mergulha no túnel que vai levá-lo à avenida Doutor Arnaldo.

É um trecho bem curto, mas que exige cuidado, pois a muvuca ainda vai estar grande. E não adianta sentir-

-se aliviado ao ver a imensidão da Doutor Arnaldo: ali serão apenas alguns metros.

Em seguida, o corredor dobra à direita e despenca pela Major Natanael em direção ao Pacaembu, na primeira grande descida da prova e talvez seu momento mais perigoso.

Testes mostram que corrida em descida provoca 20% de aumento de carga nos joelhos de profissionais e de 30% a 40% nos de amadores, diz o ortopedista Henrique Cabrita, também corredor.

Ela provoca sobrecarga na musculatura da coxa e da perna e nas articulações dos tornozelos, joelhos e quadril.

Quem não fez treino específico deve tomar cuidado no trecho, onde o risco é agravado por causa da aglomeração de atletas ainda descansados.

O ortopedista recomenda reduzir a amplitude da passada e pisar com a parte da frente do pé para reduzir o impacto nas articulações. Isso, porém, pode provocar, mais tarde, dores na panturrilha.

O corredor chega ao Pacaembu, contorna o estádio e continua sua "via crucis", num tobogã que só vai terminar por volta do km 3. Então é hora de acelerar, pois o trecho que segue é plano e arborizado, pela av. Pacaembu.

Pouco depois de passar sob a General Olímpio da Silveira, surpresa: um cotovelo na rua Mario de Andrade deve provocar redução do ritmo.

De volta às planuras, em breve o veterano da prova vai chegar a trechos conhecidos.

O topo do viaduto Engenheiro Orlando Murgel, na avenida Rudge, marca o km 7 e também o momento da verdade. Quem não se cuidou deve começar a sentir as consequências; quem se resguardou pode mandar bala que ainda tem três quilômetros planos antes das pirambeiras que vão levá-lo à chegada.

O corredor contorna o Teatro Municipal, cruza o viaduto do Chá, olha para a praça do Patriarca e sobe. Primeiro, um trecho curto e íngreme até a faculdade de direito do largo São Francisco. Depois, uma breve descida e, então, a escalada da avenida Brigadeiro Luís Antônio.

Resfolega, sua, reduz o ritmo para enfim chegar à avenida Paulista, que até 2010 foi sinônimo de alívio, de volta à casa. Agora, não.

O corredor cruza a Paulista e enfrenta mais riscos. Após 12,5 km, outro forte declive exige que o atleta se controle. Pensar nas passadas curtas e sonhar com a chegada pode ajudar nesse trecho.

A Brigadeiro se aplaina. O último quilômetro é leve. Curva para cá, curva para lá. É hora de botar o coração nas pernas e ir embora sem olhar para trás. É hora de chegar.

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