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José Roberto Torero

Fala, São Silvestre!

Recorri aos serviços de Zé Cabala para entrevistar o papa que dá nome à corrida

Quando cheguei à casa de Zé Cabala, o Twitter dos espíritos, fui direto ao assunto: "Quero falar com São Silvestre". O Sedex 10 das almas não se fez de rogado: colocou um boné sobre o turbante, começou a correr em volta da mesa e, depois de sete voltas, já um tanto ofegante, parou e disse:

- Eis me cá, aquele que foi o 33º papa, aquele que instituiu o domingo como dia santo, aquele que aprovou a tese da Santíssima Trindade...

- E aquele que é conhecido pela corrida que acontece no dia 31 de dezembro em São Paulo.

- É verdade, hoje sou mais lembrado por conta disso.

- E tem orgulho da prova?

- Muito. Ainda mais se você pensar que ela começou bem pequena, em 1925, com apenas 146 inscritos.

- Hoje são 25 mil. Inclusive eu.

- Você? Isso mostra que é uma prova realmente popular. Qualquer um pode participar.

- Mas não era assim, não é?

- No começo, só moradores da cidade de São Paulo podiam correr. Logo foi aberta a todos os brasileiros, em 1945, aos sul-americanos e, em 1947, a todos os estrangeiros.

- Quem foram os grandes vencedores de sua prova?

- Ah, tem vários. Por exemplo, o Nestor Gomes, um negro magro e forte que ganhou três vezes na década de 30. Em 1942 teve o Joaquim Gonçalves da Silva, que era só mais um competidor, mas acabou vencendo e surpreendendo todo mundo. Há o Emil Zatopek, que venceu em 1953 com mais de um minuto de folga e depois ainda foi num baile. Há o Rolando Vera, que em 1987 foi pisoteado, mas se recuperou e ganhou. Há o Paul Tergat, que venceu cinco vezes, há o...

- E as mulheres?

- Elas eram proibidas de participar da prova.

- Assim como ainda não podem celebrar missa?

- O assunto é São Silvestre, não é? Pois bem, a partir de 1975, Ano Internacional da Mulher, deixaram que elas participassem.

- E o que o senhor acha de a prova não acabar mais na Paulista?

- Uma pena. Um dia por ano, a principal avenida da cidade pertencia aos corredores. Mas agora eles foram expulsos de lá. O mais bonito seria o encontro das duas multidões, da que acaba de correr com a que começa a festejar. Mas os governos têm medo das gentes.

- E, cá entre nós, o senhor acha que eu tenho chances?

- De não sofrer um enfarte? Talvez. Mas vamos rezar um pai-nosso por via das dúvidas.

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