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Rita Siza

A raça

Dois momentos olímpicos trouxeram para a ribalta mundial as questões raciais nos EUA

Os americanos celebraram esta semana o feriado dedicado a Martin Luther King, uma homenagem à figura extraordinária do reverendo sem medo, mas também à superação da iniquidade da segregação racial que durante demasiado tempo foi política oficial dos Estados Unidos.

Claro que alguns anos antes de Luther King ter denunciado a injustiça da desigualdade, já o fenomenal atleta Jesse Owens tinha demonstrado, e logo perante o terrível Führer que desencadeou a 2ª Guerra Mundial, o embuste do revezado e monstruoso argumento das proezas arianas e da supremacia da raça branca.

Nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, Owens arrecadou quatro medalhas de ouro -nos 100 m (individuais e estafeta), nos 200 m e no salto em comprimento-, enfurecendo Hitler, que preferiu não ver a cerimônia da entrega das medalhas. Mas o campeão não se incomodou muito com isso: a sua maior mágoa foi a de nunca ter sido agraciado, recebido ou cumprimentado pelo presidente do seu próprio país, simplesmente por ser negro.

Jesse Owens (que na verdade foi batizado como James) nasceu no Alabama, um dos mais pobres Estados do sul e, como milhões de outros negros americanos, migrou para Ohio para escapar do jugo segregacionista imposto pela lei.

Enquanto garoto, na escola, já batia os recordes nacionais do atletismo. Mas, mesmo noutra geografia, Owens não podia escapar à sua época. O seu talento e sucesso permitiram-lhe seguir para a universidade estadual, mas, por causa da sua cor, Owens não tinha direito a bolsa de estudo, ou a viver com os outros estudantes no campus. As suas medalhas e recordes podiam ser admirados e comemorados, mas, quando viajava, Jesse tinha de dormir em hotéis somente para negros, ou comer em restaurantes só para negros. Um outro momento olímpico trouxe novamente para a ribalta mundial as questões raciais nos Estados Unidos.

Foi em 1968, o ano em que Luther King foi assassinado. No estádio olímpico da Cidade do México, os corredores Tommie Smith e John Carlos, no pódio, ergueram o punho enluvado na saudação Black Power enquanto tocava o hino norte-americano -um gesto que ficou para a história como uma das mais poderosas, e silenciosas, declarações políticas de protesto contra a pobreza, a discriminação e violência exercida sobre os negros.

Os dois atletas alegaram tratar-se de uma invocação da defesa dos direitos humanos, mas foram severamente punidos, tanto pela federação americana como pelo Comitê Olímpico Internacional.

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