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Los Gringos - John Carlin

A questão da raça

Nem Suárez nem Capello têm ideia da sensibilidade da questão do racismo na Inglaterra

Luis Suárez, do Liverpool, talvez seja bacana, embora na Inglaterra se oponham a isso. John Terry, ex-capitão da Inglaterra, não é um bom sujeito, o que pode ser um dos motivos para que o técnico Fabio Capello tenha se mantido tão leal a ele.

O elo que une os três é a atual obsessão -admirável- dos ingleses de eliminar o racismo no futebol. Suárez chamou Patrice Evra, do Manchester United, que é negro, de "negro" ou "negrito". Foi condenado a oito jogos de suspensão. Suárez ficou zangado com a decisão por acreditar que aquilo que os jogadores dizem em campo deveria ficar entre eles e porque a palavra "negro" tem conotação menos pejorativa em espanhol do que em inglês.

Quando voltou a se encontrar com Evra, no sábado, Suárez agiu de forma estúpida: recusou-se a trocar um aperto de mão antes do início do jogo. As críticas foram ácidas. Suárez se declarou arrependido, mas o fez tarde demais. Os rumores são de que ele pode não durar muito no Liverpool.

Quanto a Terry, o que ele supostamente disse a um jogador mulato em jogo recente foi aparentemente tão chocante -profundamente racista, alega-se- que o jogador terá de ir ao tribunal na metade do ano e pode ser multado em € 250 mil. A Football Association anunciou que ele não seria mais capitão da Inglaterra, mas não informou Capello da decisão, e o técnico se demitiu.

Nem Suárez nem Capello têm ideia clara da sensibilidade da questão do racismo na Inglaterra. Já Terry é só idiota, além de péssimo sujeito, recentemente acusado de ocupar uma vaga de estacionamento reservada a deficientes.

Isso me conduz a uma reflexão pessoal, da qual John Barnes, um ótimo jogador que defendeu o Liverpool e a seleção inglesa, e é negro, compartilha.

É excelente que a Inglaterra tenha tolerância zero com o racismo. Mas é estranho que os ingleses não exibam repulsa semelhante contra quem insulta judeus, gays ou mulheres -ou escoceses e franceses. Quando o Arsenal enfrenta o Tottenham, time de forte torcida judaica, seus torcedores emitem um som longo e sibilante, em referência às câmaras de gás nazistas. As autoridades do futebol nada fazem a respeito, mas detêm torcedores que imitem macacos para apupar jogadores negros.

Barnes crê que a discriminação em favor dos negros tenha algo de bizarro, já que a mesma proteção não ocorre em outros grupos. Os ingleses têm bons impulsos quanto à questão da raça. Mas penso que vivemos em uma era estranha e confusa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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