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José Roberto Torero

O homem invisível

No Brasil, quem renúncia a um cargo é automaticamente esquecido. Vira um homem invisível

A reunião que Ricardo Teixeira marcou com os presidentes de federações não garante o fim dos seus problemas. Há motivos bem mais fortes que o empurram para a renúncia: 1-) As futuras revelações prometidas por Blatter sobre o caso da ISL. 2-) Dilma não gosta de Teixeira e é menos condescendente do que Lula. 3-) As investigações adiantadas sobre suas ligações com a Ailanto. 4-) Aldo Rebelo é menos festivo que os dois ministros anteriores e antigo desafeto de Teixeira.

Ou seja, o encontro do próximo dia 29 só desmontará um dos problemas de Teixeira. O menor deles. Os presidentes de confederações e de clubes são urubus covardes. Só atacarão Teixeira quando ele for um cadáver sem poder.

Enquanto isso não acontece, continuarão sendo simples lambe-botas, como mostrou o texto de Márcio Braga ontem na seção "Tendências e Debates" desta Folha.

O ex-presidente do Flamengo disse que "Não é a hora de perder tempo com discussões deletérias", como se a honestidade fosse uma perda de tempo, uma coisa menor. O curioso é que Braga, sutilmente, colocou no texto o preço de seu apoio a Teixeira: o endosso da CBF à criação de uma liga que substitua o Clube dos 13 (é bom lembrar que Braga apoiou o candidato derrotado Kléber Leite na última eleição da entidade).

A assembleia da próxima quarta-feira não vai cavar uma trincheira, mas preparar uma rota de fuga. Quando Teixeira deixar a CBF, quer ter a certeza de deixá-la para amigos, a fim de dificultar futuras investigações.

Mas problema não são os subalternos de Teixeira, e sim os superiores, como a presidenta, o ministro do Esporte, o presidente da Fifa, juízes, promotores e policiais. E ele sabe que corre risco. Não é à toa que encerrou as atividades da empresa de laticínios Linda Linda e da Fazenda Santa Rosa. Não é à toa que recentemente se desfez de um apartamento e de centenas de cabeça de gado. Não é à toa que a filha e a esposa não voltaram com ele de Miami depois das festas de fim de ano. A saída está programada, e ele quer deixar tudo a salvo.

É por isso que a renúncia pode lhe parecer atraente. No Brasil, quando um homem público deixa seu cargo, automaticamente desaparece dos jornais e é perdoado, como se a renúncia já fosse punição suficiente.

Basta ver o que aconteceu com os ex-ministros de Dilma, que saíram dos holofotes para as sombras do esquecimento.

É essa invisibilidade que Teixeira busca agora. Uma invisibilidade que é o contrário da transparência.

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