José Roberto Torero

O foca

Por que chamam o foca de foca? Será que a gente fica levantando a cabeça para ouvir as respostas?

Caramba, minha primeira entrevista coletiva. Ah, se meu professor de jornalismo esportivo me visse agora. Acho melhor pegar um lugar bem na frente. Na primeira fileira. Não, aí chama muita atenção. Vou parecer um CDF. Na segunda. Isso. E bem no meio. Será que eu faço uma pergunta ou fico quieto? Olha lá, já vi aquele cara na televisão. E aquele ali é do rádio. Ops, o técnico está entrando. Poxa, parece que ele já conhece todos os repórteres. Falou com um, acenou para o outro... Olhou para mim e não fez nada. Será que faço um pergunta ou aproveito a dos outros? Caramba, por que não teve aula de entrevista coletiva na faculdade? Como é que eu peço a palavra? Levanto a mão que nem na escola ou já vou falando? Lá vem a primeira pergunta. O jornalista fez uma piadinha. Será que eu tenho que fazer piadinha? Será que tenho que parecer amigo do técnico para ele me responder melhor? Outra pergunta. Deixa eu anotar. Não posso perder nada. Pô, esse jornalista já foi mais durão. Será que eu também tenho que fazer uma pergunta para deixar o técnico sem jeito? Durão ou engraçadinho? E sobre o que eu pergunto? Faço uma pergunta tradicional ou tento uma coisa diferente, tipo "Qual é o sentido da vida?". Aposto que nunca ninguém perguntou isso para ele. Também, por que iam perguntar? Não tem nada a ver com futebol. Ou tem? Bom, é o que eu quero saber. Mas será que o leitor quer? Ou será que ele só quer saber quem vai jogar amanhã? E se o sentido da vida for só isso mesmo: saber quem vai jogar amanhã? Não, não pode ser só isso. Xi, fiquei pensando e perdi a resposta do técnico. Ele não parece muito contente. Mas também, coitado do cara, tem que ficar aqui nessa sala de inquisição. Bom, dane-se, ele ganha mais que eu e eu também estou aqui. Faço pergunta ou fico calado? Talvez seja melhor ficar quieto nessa primeira entrevista. Ou então fazer uma dessas perguntas que todo mundo faz, tipo "O time vai jogar completo?". Não, isso é bobagem. Vou perguntar é se a concentração só serve mesmo para que os cartolas peguem mulheres no hotel. Todo mundo diz que é para isso que serve. Não, aí vou queimar meu filme e ninguém mais vai querer falar comigo. Vou perguntar é qual o sentido da vida. É, isso mesmo! Afinal, essa é que é a grande pergunta. O resto é bobagem. Será que vão rir de mim ou vou passar por inteligente? Levanto a caneta ou a mão? Falo baixo ou alto? Fico de pé ou pergunto sentado mesmo? Bom, na hora eu vejo, vamos lá! O quê? O assessor de imprensa disse que a coletiva acabou! E agora, como é que eu vou escrever meu texto? O time vai jogar completo? Qual o sentido da vida?